Ocinei Trindade — Carta ou desabafo a todos os candidatos nas eleições municipais

Ocinei 27-09-16

 

 

Para começo de conversa, a imensa maioria que disputa cargos de prefeito e de vereador vai perder as eleições. E perderão feio. A derrota é certa, e a vitória, ilusória. E custa muito, muito caro. Por ambição cega ou teimosia infantil, delírio de fingidos ou repetições típicas de falsos profetas, muitos insistem e se aventuram nesta corrida quase desleal, porém democrática. É bom um país desfrutar de eleições livres, mas é péssimo contar com canalhas e mentirosos concorrendo e iludindo o eleitor. Boa parte dos candidatos não se importa nem um pouco com as causas sociais e problemas coletivos. Campos e o resto do Brasil contam com políticos assim. Até quando? Politicamente falando, Campos vai mal, dá até para rir do trágico e do vergonhoso, da cafonice e da estupidez, pois chorar pouco adianta. Pior quer rir ou chorar, é ser indiferente.

Instalar-se no poder e apropriar-se do dinheiro público para enriquecimento pessoal e perpetuação na carreira política são o fim de muitos. Ainda bem que Deus não vota, graças a Deus! A todos os candidatos, desejo leitura e releitura de Ezequiel, capítulo 7, o fim vem, o fim vem. Dizem que todo povo tem o governo que merece. Com o mundo em crise e a xenofobia em alta, ainda não me fiz merecedor de um governo alemão, suíço ou canadense, por exemplo. Os governos brasileiros em esferas nacional, estadual e municipal me devem muito. Afirmo e reafirmo que eu não os mereço. Entretanto, em uma democracia deve-se respeitar a vontade da maioria nas urnas. Se os políticos e aliados vão dar golpes na população e entre si, como foi o caso do PT e do PMDB, recentemente, aí, já são outros quinhentos. Ter direita e esquerda aliadas no Planalto e na política rasteira e oportunista que praticamos, soa esquisito para sempre. Em se tratando de Brasil histórico, mais exatamente 516 anos. O Brasil não pode parar. Sobretudo, Campos (hehehe, que piada). Vergonha de tudo por aqui nos últimos quarenta anos. Campos teima em viver no século XIX. O Brasil idem.

Nos últimos anos, desde as manifestações de rua de 2013, passei a observar que, além da indignação de muitos brasileiros sobre o sistema político nacional e dos governos, no jogo perverso das traições e inverdades que abastecem as práticas diárias dos políticos, o eleitor que ora se engana, ora gosta de se enganar, também passou a fazer uso dos mesmos hábitos e artifícios dos políticos: mentir. Dizer que vai votar em alguém e destinar o voto a outro candidato têm sido mais frequentes nos últimos tempos. Não posso afirmar que as pesquisas erraram em 2014 ao apontar Garotinho e Pezão disputando o segundo turno para governador do Rio de Janeiro, pois quem foi para a reta final foi Marcelo Crivella, o terceiro colocado então. Os institutos erraram nas pesquisas ou os sindicatos, associações, igrejas, militâncias e a população mais pobre que vive de bolsas disso ou cheques daquilo mudaram de ideia na última hora? Se mentira tem perna curta, na política as pernas em andamento e em cruzamentos superam as da Cláudia Raia e da Sharon Stone, e também se quebram feito a do Anderson Silva.

Outro dia, estive em um compromisso profissional em uma emissora de televisão local.  Uma prestadora de serviço da Prefeitura sem concurso público me fez uma confidência arriscada. Disse que não votaria no candidato da situação, pois havia uma grande insatisfação em seu setor de trabalho. Ela e muitos colegas seus eram obrigados a participar de campanhas, usar adesivos, ir a comícios, mas que ela mesmo não iria votar. Preferia outro candidato adversário e que este lhe dava alguma esperança sobre mudanças e melhorias pessoais. Ou seja, nosso umbigo segue sendo o mais importante.  Pensei comigo, eu poderia julgar e condenar essa mulher por sua desonestidade e mentira. Por outro lado, ela se via refém de uma política do toma lá. dá cá, muito comum no Brasil. Nossa senhora das urnas e dos lava-jatos, isso acabará um dia?

Quando não se dá tudo que almeja entre as partes interessadas na política, basta lembrar de Dilma Rousseff e seu fim de carreira. Culpada ou inocente, seu julgamento foi além do Congresso Nacional. Não serve de exemplo para nada, mas fica no ar para mim a dúvida de quem pode julgar e condenar um mau político, além do eleitor (que também é bem ruim) que costuma ser desatento e desinteressado em coisas que não o beneficiam direta e pessoalmente. A Lei de Gerson de se levar vantagem em tudo segue imperando. Somos um povo com qualidades, mas com defeitos vexatórios. Todavia, muitos políticos que abusaram do poder têm caído como o agora ex-deputado Eduardo Cunha. Outros cairão, dizem. O juiz Sérgio Moro e vários procuradores do MPF e a opinião pública têm colaborado para isso. A presidente do Supremo Tribunal Federal, Carmen Lúcia, expressou em seu discurso de posse um recado claro aos nossos governantes e parlamentares. Em outra ocasião, em pronunciamento sobre a censura das biografias, ela foi categórica: “Cala a boca já morreu”. O eleitor também age assim e as redes sociais digitais ajudam a infernizar e a desconstruir candidatos e maus políticos com críticas e denúncias (infundadas ou não). Abusivas? Às vezes, sim.

Na política e na vida nem todos ganham. Parece injusto pouquíssimos terem tanto e a maioria ter sobras e esmolas ou nada. Esses restos se manifestam na saúde, na educação e na segurança pública, eu destacaria. Elegemos políticos para solucionarem o básico e o trivial, mas o país registra descaso e incompetência de norte a sul, de leste a oeste. São décadas de falhas e promessas não cumpridas. Campos registra uma série de obras nos últimos oito anos do governo Rosinha Garotinho. Ao meu ver, várias delas de qualidade e preço duvidosos ou suspeitos. Entretanto, as contas da prefeita são aprovadas pela Câmara Municipal e Tribunal de Contas do Estado até aqui. Se houver algo de irregular, dispensemos convicções e apresentemos provas. Lula que o diga! A população se queixa de falta de medicamentos e estrutura nos hospitais e postos de saúde de qualidade (foi inaugurado um maravilhoso no Parque Imperial às vésperas das eleições, mas não sei se funciona); de escolas de ensino ruim e falta de professores; de buracos e vazamentos de esgoto aqui e ali (O canal Campos-Macaé maquiadíssimo no Centro da cidade é um exemplo), transporte público deficiente, entre outras reclamações. Porém, ah, porém, há um caso diferente ao criticar governo aqui. Leva-se a questão para o caso pessoal, para a antipatia e a vingança que vem cedo ou tarde. Não se pode falar mal de políticos, pois é arriscado. Mas, assim como Diogo Mainardi se diverte criticando poderosos, nós todos em uma mídia social também podemos fazê-lo. Só que os riscos são os mesmos. Para que serve uma crítica? Fazer diferente e melhor poderia ser a resposta. Como compuseram Roberto e Erasmo, “eles estão surdos”.

Há quase 20 anos, perdi um amigo que tinha acabado de se eleger vereador em Campos. Em 1997, Sergio Luis Paes da Silva, o Lilico, foi assassinado pelo suplente que não se conformara com a derrota. Este foi condenado pela Justiça e cumpriu sua sentença, vivendo hoje em liberdade. Conheci bastante os bastidores da política em Campos, e nos bastidores políticos de qualquer lugar do país e do mundo, a verdade nem sempre é agradável, nem sempre é publicada e exposta nos jornais. Vez por outra ou quase sempre, escândalos envolvendo políticos recheiam páginas de periódicos e sites de notícias. Na História do Brasil, há os que renunciam e se matam como Jânio Quadros e Getúlio Vargas, respectivamente. Há os que são assassinados como o prefeito paulista de Santo André, Celso Daniel do PT. Há os que pagam caro por saberem demais e quererem medir forças com outras elites como os deputados Roberto Jefferson e Eduardo Cunha, mais recentemente. Há os envolvidos em ligações perigosas e suspeitas como os políticos da Baixada Fluminense, onde desde 2015, catorze candidatos e políticos morreram assassinados. Seriam mártires ou bandidos? Não sei bem onde o Brasil vai dar, mas dizem que para tudo tem solução, menos para a morte. E algo que me entristece é saber que estamos morrendo sem dignidade.

Desprezo o envolvimento de religiosos na política. Acredito que não se pode misturar Igreja e Estado como no passado. Condeno as práticas espúrias e ilícitas de membros e líderes das igrejas cristãs ao se associarem a políticos profissionais que se espalharam pelo país como uma rede mafiosa, distribuída em quadrilhas, que saqueiam o dinheiro público sem dó, nem piedade. Muitos realizam obras superfaturadas, insistem em inchar as folhas de pagamento com prestadores de serviços que são cabos eleitorais, dispensando concurso público para o funcionalismo, por exemplo.  O filósofo Mangabeira Unger considera que o o moralismo não combate corrupção, mas a falta de moral absoluta só nos denuncia a cada dia e nos afunda em buracos que Rosinha, nem Francisco Dornelles, nem Temer jamais conseguirão tapar. Parece não haver mais tempo ou dinheiro.

Dizem que, quem não se associa ao sistema perverso de poder, dificilmente sobrevive na política ou se reelege. Será mesmo? Tenho dúvidas ainda, apesar de ter conhecido de perto e intimamente um político assassinado. Não sei como seria seu futuro como vereador, se faria uma carreira longa, honesta e vitoriosa. Perdeu para a morte e para a ambição de um sistema cruel e confuso, genuinamente brasileiro que gosta de matar. Mata o município, mata o estado do Rio de Janeiro e mata o Brasil. As pessoas morrem de um modo ou de outro quando preferem serem cegas, surdas e mudas. Votar só não basta. É preciso reação e revolução. Como fazer isto se há uma população refém de criminosos de todo tipo e se as instituições se corrompem? Apesar da queda do preço do barril do petróleo e do esfacelamento da Petrobras, Campos ainda é uma cidade bilionária só em royalties. “Quem quer dinheiro?”, pergunta o apresentador genial Silvio Santos. Nem o Papa, Dalai Lama ou Santa Madre Tereza de Calcutá rejeitariam. Imaginem os nossos políticos.

Aos que serão eleitos: bom seria se o prefeito honrasse seu mandato, cumprisse suas obrigações de governar e gastar o dinheiro que é de todos em coisas úteis como escolas, hospitais, transporte público e segurança, por exemplo. Bom seria se o novo prefeito não visasse reeleição ou planejasse disputar uma outra função para a Assembleia Legislativa e outros cargos daqui a dois anos.  Bom seria se os vereadores de oposição ou não, zelassem pela fiscalização das contas públicas e as ações do prefeito sem barganhas e troca de favores. Bom seria se os juízes e os promotores de justiça cumprissem seu papel de não deixar que vereadores e prefeitos, deputados, senadores e governadores, além do presidente do Brasil, agissem de má-fé com a causa e as coisas que pertencem à população, dinheiro principalmente. Bom seria se as pessoas não votassem em bandidos e em mentirosos; que não se vendessem e que não permitissem que a cidade e o país onde vivem se transformassem em uma terra sem lei, sem esperança e sem justiça social. Bom seria se as riquezas e as oportunidades para ser feliz no Brasil estivessem ao alcance de todos. Ingenuidade de Poliana? Utopia também tem limites, mas “sonhar mais um sonho impossível, lutar quando é fácil ceder… é minha lei, é minha questão virar esse mundo, cravar esse chão”, canta Maria Bethânia a versão de Chico Buarque e Ruy Guerra. Sou mais um ficcionista que planta e colhe esperanças e desilusões.

Ainda não decidi em quem votar. É uma escolha difícil com tantos candidatos ruins ou suspeitos. Só na cidade do Rio de Janeiro, pesquisas revelam que 40% dos eleitores podem mudar seu voto para prefeito nos próximos dias ou na última hora.  Em Campos, o desespero e a desesperança me paralisam. Sinto uma certa nostalgia da juventude quando Anthony Garotinho se elegeu um prefeito genial e revolucionário que combatia o atraso e o ranço reacionário do eterno Zezé Barbosa, símbolo do coronelismo político que fazia questão de colocar seu nome em banco de praça, investindo em marketing pessoal e onipresença, ou quando mandava arrancar calçamento de rua após perder eleição. Garotinho não é mais jovem e alguns o associam ao antigo rival Zezé Barbosa. Acho irônico e curioso ver décadas depois, um jovem candidato (neto do político conservador e filho de um político progressista) disputar eleição com o mesmo discurso de Garotinho no passado: combater o velho e o arcaico com juventude e inovação. Há algo de promissor ter três jovens disputando eleição para prefeito com três outros candidatos que já são associados ao velho e ao ultrapassado. (Nada contra velhos, que fique bem claro). Campos e o Brasil carecem de lideranças novas e de frescor para respirar. O problema é o discurso demagógico que ainda se sustenta aqui ou nos Estados Unidos (Donald Trump e Hillary Clinton até parecem que concorrem à Prefeitura de Campos).

Admiro muito a inteligência, liderança e capacidade política do atual secretário municipal de Governo. Ele e Rosinha estão (ainda) entre as expressões políticas brasileiras que se destacam,  seja para o bem, seja para o mal. Causam frisson por onde passam (o jornalista Vitor Menezes escreveu uma vez sobre o efeito de celebridade do casal sobre a população, seja para o bem e para o mal, acredito eu), são ex-governadores de um estado importante como o Rio de Janeiro e isto não é pouca coisa, trata-se de um feito histórico. Há acertos e conquistas nos seus currículos, mas também erros e alianças (quase) imperdoáveis. O apetite dos animais políticos parece não ter fim. Porém, não esqueçamos de Ezequiel:7.

Se o casal Garotinho nascesse na Argentina, creio, poderia ser até presidente da República, assim feito os Kirshner. Se vivessem nos EUA, quem sabe, como os Clinton, Rosinha estaria concorrendo à presidência com Trump este ano, depois de Garotinho ter governado a maior economia do mundo por oito anos (hihihi). Se estivessem no Líbano, país de onde descendem, poderiam ser presidentes (lá, há mais de um ano o país está sem chefe de Estado, fica a dica) e até mudar os rumos do Oriente Médio e do Estado Islâmico (haha ha). Talvez, ainda, segundo Edir Macedo, líder da Igreja Universal, que revela em seu livro O Bispo, se Garotinho não fosse com tanta sede ao pote, até poderia ser presidente do Brasil (ele disputou em 2002 pelo PSB, foi o terceiro mais votado com bom desempenho, e depois, já no PMDB, brigou para que o partido tivesse candidatura própria, mas Michel Temer tinha outros planos). Há tantas denúncias e processos contra o casal que sua popularidade oscila, inimigos políticos brotam, mas eles seguem resistindo no cenário político. Os sucessores que Garotinho ajudou a eleger direta ou indiretamente, costumam sempre se rebelar e se tornam opositores (Sérgio Mendes, Arnaldo Vianna, Carlos Alberto Campista, Alexandre Mocaiber, Geraldo Pudim, Roberto Henriques, Fernando Leite, o irmão Nelson Nahim, Sérgio Cabral e por aí vai…).  Lembro de uma convenção do PDT municipal à época em que Sérgio Mendes já rompido e de cara amarrada com Garotinho, seu antecessor na Prefeitura, continuou sério e contrariado ao assistir nosso ex-governador conclamando os militantes a cantar um hino gospel cujo refrão dizia “vai dar tudo certo, vai dar tudo certo”. O escritor mineiro Fernando Sabino diz que “No fim, tudo dá certo. Se ainda não deu, é porque ainda não é o fim”. Contudo, há também a profecia de Ezequiel:7, meditemos.

Dizem que, na política, não se tem amigos ou inimigos, mas aliados e adversários. Pessoalmente, creio que há muitas queixas sobre Garotinho, mas ainda não apareceu alguém tão obstinado e carismático (o que angustia aos que o admiram e o invejam). Se não se consegue derrotá-lo, alguns tentam imitá-lo (mas a emenda fica pior que o soneto), gozam quando ele perde eleição, depois seus oponentes não se saciam e nos saqueiam ainda mais, pois gozar ou se reeleger é preciso.  É urgente e vital estar no poder, pois fora do poder é broxante (Lula que o diga!), acreditam. Mas, nesse jogo teatral da política que vai além de nossa capacidade, ainda se depende de voto para exercer o poder. A Constituição Brasileira afirma que todo o poder emana do povo. E agora, eleitor?

O voto é praticamente o único momento em que os cidadãos de bem (e não os “cidadões e cidadonas” mal-educados e desprezados pelos governos deste país) exercem o poder. O eleitor se desilude pouco tempo depois, mas ainda assim continua a acreditar nos discursos políticos. Estes adoram se aproveitar da memória fraca e da desinformação quase geral da população, retornam às campanhas eleitorais de dois em dois anos, mesmo envolvidos em escândalos e denúncias na justiça. E, sendo políticos que são, segundo Lula, a classe mais honesta deste país, como afirmou em discurso recente após ter sido denunciado formalmente na Operação Lava-Jato, pedir voto é preciso e isto não tem nada de desonesto. Às vezes, Leonel Brizola faz falta, principalmente nos comentários da política acirrada e tragicômica que temos; ou como garoto-propaganda, aparecendo no comercial de sapatos da Vulcabras (lembram?) maravilhoso. Ah, que saudades das implicâncias do Brizola e de seu pupilo pródigo que partiu, e que se for bom filho, à casa tornará.  Mas, Brizola está morto e sua casa não mais existe, feliz ou infelizmente, não sei bem certo. O filho-pupilo se perdeu. O dramaturgo Nelson Rodrigues tem várias frases célebres como esta: “Jovens, envelheçam”. Eu, se fosse genial como ele, seria mais contundente quanto aos jovens políticos e diria: “Jovens, não envelheçam”.  Renovar e renascer são alguns dos fins desta jornada. Boa sorte e boas eleições a todos.

 

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Este post tem um comentário

  1. Nino Bellieny

    Exato texto. Muito real.

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