Fabio Bottrel — Cidades e Pessoas

 

Música: Joan Manuel Serrat- Cantares

 

 

 

 

Bottrel 08-10-16

 

 

Sempre tive adoração pelas mulheres que fizeram da minha vida poesia, como se o meu amor fosse recordações da infância perdida, nunca entendi o prazer do mulherengo ao se completar de vazios. Assim também fui com as cidades que fizeram parte da minha vida, amei todas como se não existissem outras e mesmo que o relacionamento esteja distante, a gratidão é eterna.

Caminhando sobre o mar de pedras brancas da Praça do Liceu iluminada pelo sol que acabara de acordar, fiquei a imaginar a semelhança do destino da cidade quanto ao de uma pessoa enquanto me vinha à cabeça o poema Cantares de Antonio Machado, tudo passa e tudo fica, porém o nosso é passar, descobrimos quem somos ao ver os entes que ficam e os que deixamos pelo caminho.

Campos, ao andar se faz caminho, e ao voltar a vista atrás, se vê a senda que nunca se há de voltar a pisar. Em sua beleza vi essência desse poema e como um cônjuge sofrido como nunca merecestes ser, enfim tomastes a coragem de seguir em frente, e seus filhos esperançosos que volte a sorrir.Como “manancial de nova vida onde jamais bebi, água, vens tu até mim, bem sei que à noite “enquanto tu dormias, sonhei, bendita ilusão! Que era Deus que trazia dentro do coração.”

 

Tudo passa e tudo fica

porém o nosso é passar,

passar fazendo caminhos

caminhos sobre o mar

 

Nunca persegui a glória

nem deixar na memória

dos homens minha canção

eu amo os mundos sutis

leves e gentis,

como bolhas de sabão

 

Gosto de ver-los pintar-se

de sol e grená, voar

abaixo o céu azul, tremer

subitamente e quebrar-se…

 

Nunca persegui a glória

 

Caminhante, são tuas pegadas

o caminho e nada mais;

caminhante, não há caminho,

se faz caminho ao andar

 

Ao andar se faz caminho

e ao voltar a vista atrás

se vê a senda que nunca

se há de voltar a pisar

 

Caminhante não há caminho

senão há marcas no mar…

 

Faz algum tempo neste lugar

onde hoje os bosques se vestem de espinhos

se ouviu a voz de um poeta gritar

“Caminhante não há caminho,

se faz caminho ao andar”…

 

Golpe a golpe, verso a verso…

 

Morreu o poeta longe do lar

cobre-lhe o pó de um país vizinho.

Ao afastar-se lhe viram chorar

“Caminhante não há caminho,

se faz caminho ao andar…”

 

Golpe a golpe, verso a verso…

 

Quando o pintassilgo não pode cantar.

Quando o poeta é um peregrino.

Quando de nada nos serve rezar.

“Caminhante não há caminho,

se faz caminho ao andar…”

 

Golpe a golpe, verso a verso.

 

(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

 

 

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Este post tem um comentário

  1. Paulo Ciranda

    Lindos e verdadeiros versos numa bela canção!

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