Música: Joan Manuel Serrat- Cantares
Sempre tive adoração pelas mulheres que fizeram da minha vida poesia, como se o meu amor fosse recordações da infância perdida, nunca entendi o prazer do mulherengo ao se completar de vazios. Assim também fui com as cidades que fizeram parte da minha vida, amei todas como se não existissem outras e mesmo que o relacionamento esteja distante, a gratidão é eterna.
Caminhando sobre o mar de pedras brancas da Praça do Liceu iluminada pelo sol que acabara de acordar, fiquei a imaginar a semelhança do destino da cidade quanto ao de uma pessoa enquanto me vinha à cabeça o poema Cantares de Antonio Machado, tudo passa e tudo fica, porém o nosso é passar, descobrimos quem somos ao ver os entes que ficam e os que deixamos pelo caminho.
Campos, ao andar se faz caminho, e ao voltar a vista atrás, se vê a senda que nunca se há de voltar a pisar. Em sua beleza vi essência desse poema e como um cônjuge sofrido como nunca merecestes ser, enfim tomastes a coragem de seguir em frente, e seus filhos esperançosos que volte a sorrir.Como “manancial de nova vida onde jamais bebi, água, vens tu até mim, bem sei que à noite “enquanto tu dormias, sonhei, bendita ilusão! Que era Deus que trazia dentro do coração.”
Tudo passa e tudo fica
porém o nosso é passar,
passar fazendo caminhos
caminhos sobre o mar
Nunca persegui a glória
nem deixar na memória
dos homens minha canção
eu amo os mundos sutis
leves e gentis,
como bolhas de sabão
Gosto de ver-los pintar-se
de sol e grená, voar
abaixo o céu azul, tremer
subitamente e quebrar-se…
Nunca persegui a glória
Caminhante, são tuas pegadas
o caminho e nada mais;
caminhante, não há caminho,
se faz caminho ao andar
Ao andar se faz caminho
e ao voltar a vista atrás
se vê a senda que nunca
se há de voltar a pisar
Caminhante não há caminho
senão há marcas no mar…
Faz algum tempo neste lugar
onde hoje os bosques se vestem de espinhos
se ouviu a voz de um poeta gritar
“Caminhante não há caminho,
se faz caminho ao andar”…
Golpe a golpe, verso a verso…
Morreu o poeta longe do lar
cobre-lhe o pó de um país vizinho.
Ao afastar-se lhe viram chorar
“Caminhante não há caminho,
se faz caminho ao andar…”
Golpe a golpe, verso a verso…
Quando o pintassilgo não pode cantar.
Quando o poeta é um peregrino.
Quando de nada nos serve rezar.
“Caminhante não há caminho,
se faz caminho ao andar…”
Golpe a golpe, verso a verso.
(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)
Lindos e verdadeiros versos numa bela canção!