Sugestão para escutar enquanto lê: Cinema Paradiso – EnnioMorricone
— Está vendo esse mar pintando o horizonte de vermelho, iluminando lá no céu a estrela que saiu do seu peito? É a vida nos dizendo que nem tudo está perdido para quem acredita no amor, como se fôssemos os ossos de um mundo que está morrendo, perdendo em cada suspiro suas últimas pétalas de esperança. – Disse o rapaz com os olhos marejados com o reflexo mar adentro.
— Você fala diferente.
— Diferente como?
— Parece que cada palavra foi escrita. – A moça gostava quando seus dizeres faziam o rapaz refletir e ficava a observar o rosto dele divagar. — Quem fala “somos os ossos de um mundo que está morrendo”? É diferente.
— Mas é bom?
— É, mas não é romântico.
— Mas e o mar iluminando lá no céu a estrela que saiu do seu peito?
— Essa parte é, podia ter parado aí.
Os dois continuaram sentados nas areias de Atafona, ainda não haviam trocado a roupa do dia anterior, passaram a noite na casa dos amigos do rapaz, cujos foram os primeiros que a moça conheceu. As ondas do mar faziam um barulho estranho quando encontravam as ruínas como se alguém quisesse lhes dizer algo, o céu bem claro formava desenhos simétricos nas nuvens como se alguém os tivesse observando e quando o jovem escutou o zunir do vento forte no seu ouvido enquanto eriçava os pequenos grãos ao seu redor, levantou de um pulo.
— Está na hora!
— Está na hora de quê?! Que susto!
— De ler a poesia mais bonita que Deus escreveu.
— Oi?
— Vamos!
— Pra onde?!
***
Desde que chegara a Campos o jovem escutava falar sobre a ligação mágica entre Atafona e os poetas, no encontro do mar com o rio encontravam-se também as palavras levadas pelos ventos para ouvidos e bocas poetisas. Lá no pontal, quando o sol se esconde sob as águas acalmadas, pintando o céu das cores que vêm de dentro d’a gente, Deus escreve sua poesia nos sorrisos de quem ama.Ansiosa a moça acompanha seu amado correndo pelas areias guerreiras, sobre os lares soterrados sentindo na pele cada grão da vida que vale a pena ser vivida. Os ventos fortes levitavam seus cabelos e debaixo de seus caracóis sedimentavam o sal do mar doce, levitavam como levanta a vida ao escutar as primeiras notas do abraço entre duas almas, florido vestido abrindo-se em sorrisos voa, longe, para dentro de si. Voa, menina, merecestes toda a felicidade de uma vida amada!! – Grita o coração dentro de si, transbordando pelos olhos brilhantes que acompanhavam o balançar dos braços unidos além dos corpos.
Quando a respiração se tornou ofegante a moça percebeu os passos do rapaz se tornarem mais lentos e a corrida se tornou uma caminhada com marcas mais profundas na areia, deixando na praia os primeiros passos de uma grande história, estavam lado a lado, olhando para o infinito, ao longo do oceano, onde o amor não tinha fim. Os pés pararam, sentiram o formigamento das pernas, a dormência no peito, a pele contra a pele ao abraçar, abrasar. O sol estava se pondo sobre o encontro do mar com o rio, a união entre duas águas, sal e doce, corpo e alma, e ao se unir com as águas se fez luz entre dois oceanos iluminando o sorriso mais bonito que a moça tinha para dar.
— É aqui que Deus escreve sua poesia? – Pergunta a menina.
— É…
— E onde está? Eu quero ler.
As palavras soltavam-se de seus lábios e se uniam ao vapor das águas, aos grãos de areia levitados pelo vento forte misturando no céu vermelho toda a poesia que o rapaz, com um aceno delicado,lia no sorriso pueril da menina que sorri da maneira mais bonita de sorrir.
— E o que ela diz?
— Te amo, Keettlynn.
Muito lindo.Toda a essência do amor.Parabéns querido ,chegou e captou toda a luz que o pontal tem .