Entre Lula e Moro, vencerá quem determinar qual será o jogo

 

 

 

 

 

Jogo jogado

No embate mais esperado há alguns anos pelos brasileiros (confira aqui, na Folha Online, a íntegra das 5h de depoimento), acompanhado ontem (10) também de perto pela mídia internacional, cada um jogou seu jogo. No político, venceu o carismático ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que conseguiu colar de vez no imaginário popular a ideia do juiz federal Sergio Moro como seu antagonista. Posição indesejada a um magistrado, que deveria ser o juiz imparcial da contenda jurídica entre acusado e Ministério Público, Moro começou dizendo ao interrogado: “Da minha parte não tenho qualquer desavença pessoal em relação ao senhor ex-presidente. Certo?”. Lula calou.

 

Velho conhecido de Campos

Já no jogo jurídico ainda é cedo para definir um vencedor. Entretanto o magistrado frio, com seu tom de voz dissimulado, mas firme quando necessário, soube se impor às provocações sistemáticas dos advogados. Entre eles, Fernando Augusto Fernandes, bem conhecido de Campos, cujo Fórum costuma frequentar para defender o ex-governador Anthony Garotinho (PR) e os vereadores eleitos no “escandaloso esquema” revelado na operação Chequinho, espelho goitacá da Lava Jato nas eleições municipais de 2016.

 

Interesse de Marisa?

Mesmo protegido por advogados treinados à função de cão de fila, Lula estava visivelmente abatido e contrafeito por ter que responder às perguntas de Moro, insistentes na busca de contradições. E as cometeu ao ter que explicar as relações do ex-diretor da Petrobras (e atual delator) Renato Duque com o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto. O ex-presidente negou as acusações das delações de Léo Pinheiro, dono da empreiteira OAS e seu ex-amigo, sobre propinas, destruição de provas e o já famoso tríplex do Guarujá. Mas se revelou acuado ao atribuir o interesse no imóvel a Marisa Letícia, sua esposa recentemente falecida.

 

Causa do impeachment

Mesmo recebido em Curitiba pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT), mais tarde Lula não demonstraria condescendência com quem fez sua sucessora. Contrário à versão de golpe ainda ecoada pela militância petista, o hábil negociador político forjado nos interesses muitas vezes contraditórios dos sindicatos do ABC paulista foi direto ao observar a Moro a causa real da derrocada de quem escolheu para governar o Brasil: “Eu fazia reuniões sistemáticas com os líderes (dos partidos). Se a presidenta Dilma tivesse me seguido, não tinha tido o impeachment”.

 

Lula avança

Assumidos como protagonistas do julgamento, Moro se mostrou mais cuidadoso do que Lula com excessos. No começo do interrogatório, o juiz garantiu ao acusado que a possibilidade deste sair dali preso eram “boatos sem qualquer fundamento”. O ex-presidente encarou o magistrado e respondeu: “Mas eu tinha a consciência disso”. Mais tarde, indagado por Moro sobre o que quis dizer quando afirmou publicamente “se eles não me prenderem logo, eu que prendo eles pelas mentiras que eles contam”, Lula disse: “Isso foi força de expressão”. Mas avisou: “Se eu for candidato, vai ter muita força de expressão nos palanques”.

 

Qual será o jogo?

No palanque em que transformou seu julgamento por Moro, Lula obteve uma vitória política. Mas, no jogo jurídico, o resultado da condenação ou não no processo sobre o tríplex do Guarujá sairá em 20 ou 30 dias, talvez ainda este mês. Se considerado culpado, o recurso seguirá ao Tribunal Federal Regional da 4ª Região (TRF-4), onde uma condenação por decisão colegiada poderá impedir uma nova candidatura de Lula a presidente, pela Lei do Ficha Limpa. A média de tempo de uma ação no TRF-4 é de 13 meses, menor entre seus congêneres no país. Ao que parece, vencerá quem definir qual será o jogo. Resta saber o Brasil.

 

Publicado hoje (11) na Folha da Manhã

 

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Este post tem 2 comentários

  1. Edimar

    Quantos triplex do Guarujá poderia compar com 20 milhões de Euros? Valor que o ex diretor da estatal, propôs devolver gentilmente. Tomando apenas esse exemplo, entre os inúmeros delatores. Façamos um exercício de imaginação do porque de tanto estardalhaço da mídia. Se há provas contra o Lula, que seja condenado. Do contrário, será transformado em mártir.

  2. Nélio

    É como escreveu o Ricardo Rangel:

    Querido amigo lulista, pare de exigir uma prova cabal da propriedade do triplex por parte de Lula. É constrangedor. Pega mal.
    A acusação é de OCULTAÇÃO de patrimônio. Quem oculta patrimônio não guarda prova de propriedade, muito menos escritura pública lavrada em cartório, ó pá. Lula e Leo Pinheiro eram parceiros no crime e amigos do peito: a propriedade do triplex era garantida no fio do bigode.
    A acusação contra Lula se constrói com base em provas testemunhais e circunstanciais. Se meia-dúzia de pessoas dizem que viram você matar alguém e você é encontrado com uma arma fumegante na mão, acredite, o juiz não precisa de um filme mostrando o crime para te mandar para o xilindró.
    Há provas circunstanciais e testemunhais suficientes. O que não há é uma explicação para elas existirem que absolva Lula.

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