Lições do 7 de setembro: cores, bandeiras e pertencimento

 

Hoje, em Brasília, a presidente Lula, o almirante Marcos Sampaio Olsen (comandante da Marinha), o general Tomás Ribeiro Paiva (Exército), o brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno (Aeronáutica) e o ministro da Defesa José Múcio entrelaçaram as mãos e a normalidade institucional do Brasil (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

 

Um 7 de setembro normal. Este foi o anormal de hoje. Dia em que o presidente da República democraticamente eleito, também como comandante em chefe das Forças Armadas, cumprimentou e foi cumprimentado pelos chefes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Sem transformar essa relação institucional em ato político ou comício eleitoral. Tampouco em ameaça de golpe de estado, ao estilo “valente” de boteco.

A normalidade foi o que tivemos hoje. Com o desfile cívico-militar em Brasília e no resto do Brasil. A pavimentar normalidade no Dia da Independência e nas instituições de Estado pelos próximos três anos. E para além deles.

Não, nossa bandeira jamais será vermelha. Embora devesse. Já que o nome Brasil deriva da cor de brasa da madeira da árvore Pau Brasil. Que batiza o país e é usada para tingir tecidos de vermelho desde o século 16, mais de 300 anos antes do nascimento de Karl Marx. Duzentos anos depois, o brasileiro adulto que hoje crê em “ameaça comunista” evidencia a cognição das crianças de creche que creem no Velho do Saco.

Verde e amarela, na cópia às respectivas cores das casas reais dos Bragança e dos Habsburgos da bandeira do Brasil Império, a bandeira da República do Brasil é da “res publica” (“coisa pública”). Pertence a todos. Não a nenhum grupo político.

 

Bandeira do Brasil Império

 

Antes tarde do que nunca, o dia de hoje é valiosa lição a quem aplaudiu um presidente da República xingando um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) de “canalha”, bravateando que não cumpriria mais suas decisões judiciais, como (relembre aqui) foi no 7 de setembro de 2021. E, no 7 de setembro de 2022, engrossou (relembre aqui) o coro de “imbrochável” que ridicularizou o bicentenário da Independência do Brasil, aos olhos do presidente de Portugal e do mundo.

Nessa questão cromática de pertencimento na Independência, a quem ainda não aprendeu que a democracia e suas instituições independem do seu desejo e delírio, uma singela dica: chupa que é de uva!

Que vale também à esquerda identitária muda diante da vexaminosa saída da ex-atleta de vôlei Ana Moser do ministério dos Esportes do Lula 3. Para dar lugar ao deputado federal André Fufuca (PP/MA), homem do presidente da Câmara de Deputados, Arthur Lira (PP/AL). Sem o qual Bolsonaro não governou e Lula não governará.

Na dúvida entre patriarcado e pragmatismo, a certeza: é o que Bismarck, alemão como Marx, batizou de realpolitik. Ou, na língua de Luís de Camões, jogo jogado. Real e muito mais complexo do que a sala de estar burguesa na qual a esquerda identitária delira poder transformar o mundo. Para gerar neste a reação em Trumps, Putins, Erdogans, Orbáns, Dutertes e Bolsonaros.

A quem ainda se presta a tentar defender o último, travestido de verde e amarelo, a língua roxa de uva pode servir para adoçar a boca. Na expectativa do amargo que virá da delação premiada à Polícia Federal (PF) do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro preso desde 6 de maio. E que ontem (6) esteve no STF para dizer que abrirá o bico. Como o canário que simboliza a camisa amarela da Seleção Brasileira de futebol.

 

Lula recebe a continência, hoje, no desfile cívico-militar em Brasília, devida ao comandante em chefe das Forças Armadas eleito pelo voto popular (Foto: Reprodução)

 

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Este post tem 2 comentários

  1. Carlos Augusto Souto de Alencar

    Bom dia, caro Aluysio. Pois é… Não está sendo fácil e, certamente, não é da forma ideal mas, devagar, a Democracia se impõe. Para ser sincero ainda acho ela muito frágil no Brasil. Não só porque ela não alcança a todos nós de forma igualitária (como exemplo cito os moradores de comunidades carentes em grandes centros urbanos expostos as leis das milícias ou de traficantes) mas, também, porque ficou claro, para mim, que muitas pessoas no Brasil anseiam por “salvadores da patria” em forma de ditadores fascistas. E creio que muito do insucesso da intentona golpista veio da impressionante limitação cognitiva dos envolvidos. Se houvesse certa inteligência da parte dos mentores deste descalabro creio que estaríamos mergulhado em sombras. Mas seguimos. O Brasil tem um mar de problemas, em boa parte oriundos de um processo histórico desastroso, mas mantivemos a Democracia, único caminho que preserva um mínimo de Humanismo. Mas ainda não acabou. As redes sociais precisam de uma regulação. Pessoas não podem manifestar intenções criminosas sem a devida punição. A educação precisa de uma transformação drástica. Não há como crescer no mundo de século XXI sem investimento em tecnologia de ponta e geração de empregos qualificados. É preciso combater a corrupção, sem processos kafkianos que acabam por desacreditar as investigações, mesmo que elas consigam provas cabais. Percebi que se continuar a digitar o que temos de resolver passarei dias aqui. Irei resumir em duas coisas: precisamos resgatar o Humanismo, respeitando o outro e a coisa pública. E precisamos investir no material humano e ambiental para garantir o bem estar de todos. É isso. Belo texto, como sempre, caro Aluysio. Continuamos, com moderação e visão crítica, trabalhando com a esperança. Saudações fraternas.

    1. Aluysio Abreu Barbosa

      Caro Carlos Augusto Souto de Alencar,

      Grato pela oportunidade do diálogo.

      Abç!

      Aluysio

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