Por Aluysio Abreu Barbosa
Dois mil e quatorze foi projetado para ser um ano emblemático. O Brasil sediaria a Copa do Mundo de futebol, usada como plataforma de propaganda política, a exemplo do que os governantes brasileiros haviam feito em 1950. Sessenta e quatro anos depois, a presidente Dilma Rousseff (PT) pretendia se reeleger nas urnas de outubro daquele ano. Seria a quarta gestão petista seguida no Palácio do Planalto.
Com as ruas brasileiras tomadas por protestos no ano anterior, as “Jornadas de Junho” de 2013 tinham marcado a perda de controle das manifestações de rua pelo PT. Através dos braços do partido na União Nacional dos Estudantes (UNE), na Central Única dos Trabalhadores (CUT) e no Movimento dos trabalhadores rurais Sem-Terra (MST), o monopólio petista das ruas brasileiras era exercido desde 1992. Foi quando os “caras pintadas” protagonizaram o impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello.
No primeiro governo Dilma, as “Jornadas de Junho” foram convocadas pelas redes sociais por grupos como o MPL (Movimento Passe Livre). Sua reivindicação inicial era unicamente contra o aumento das tarifas do transporte público. Mas a pauta se ampliou, passando a ser contrária também aos gastos governamentais com a Copa. Embora tivessem arrefecido no segundo semestre de 2013, esperava-se que os protestos retomassem força com chegada de 2014 e a proximidade do maior evento do futebol mundial, sempre disputado em meados do ano.
Uma fatalidade acabaria esvaziando a retomada dos protestos. Em 6 de fevereiro, manifestantes black-blocks dispararam um rojão, durante um confronto com a Polícia Militar (PM), no Centro do Rio, que acabaria matando o cinegrafista Santiago Andrade, da TV Bandeirantes. Se a radicalização já havia afastado a classe média, que chegou a apoiar os protestos, a cena do rojão estourando em cima do cinegrafista, filmada, fotografada e reprisada em rede nacional e nas redes sociais, sepultou qualquer simpatia popular.
A Seleção Brasileira estreou na Copa em 13 de junho no Itaquerão, em São Paulo, estádio arranjado pelo ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva (PT) ao seu time de coração, o Corinthians. No campo, com ajuda de um pênalti favorável e inexistente, o Brasil bateu a técnica seleção da Croácia por 3 a 1.
Mas o fato mais marcante veio das arquibancadas. Aos 29 do primeiro tempo, em meio à presença da presidente exibida no telão do estádio, as arquibancadas passaram a entoar o controverso coro de protesto: “Ei, Dilma, vai tomar no (…)”. Ecoadas pelo mundo, as palavras de ordem ofensivas se repetiram ao final daquele jogo, como nos cinco que a Seleção teria até ser impiedosamente goleada por 7 a 1 pela Alemanha, nas semifinais do Mineirão, considerada a maior humilhação da história do futebol brasileiro.
Em 17 de julho, a Alemanha do meia Bastian Schweinsteiger foi campeã contra a Argentina do atacante Lionel Messi, por 1 a 0 na prorrogação, em um Maracanã lotado. Menos de três meses depois, após chegar a liderar a corrida presidencial, a candidata Marina Silva (Rede) confirmou sua fragilidade ao ser imprensada contra a cerca de uma campanha figadal. Na reta final do primeiro turno, ela foi atropelada por Dilma e o senador Aécio Neves (PSDB/MG).
Numa disputa acirrada no segundo turno, nos debates, ruas e redes sociais, o tucano saiu à frente nas pesquisas, mas acabou derrotado pela presidente. Ela conseguiu se reeleger, a despeito de um Brasil claramente dividido nas urnas: Nordeste, Norte e parte do Sudeste com o PT; a outra parte, mais Sul e Centro-Oeste, contra. A diferença final de apenas três pontos percentuais dos votos nominais foi a menor numa eleição presidencial brasileira, desde que a disputa em dois turnos foi adotada a partir da Constituição de 1988.
Fora do futebol e da política, o jogo era outro. Implementada ainda no segundo mandato presidencial de Lula, como forma de enfrentar a crise econômica mundial de 2008, após o estouro da bolha imobiliária dos EUA, a “Nova Matriz Econômica” ia contra a política econômica exitosa nos governos anteriores. Do próprio Lula, de Fernando Henrique Cardoso e de Itamar Franco (1930/2011). O tripé macroeconômico câmbio flutuante, superávit primário e regime de metas da inflação, que garantira a estabilidade econômica nos governos do PMDB, do PSDB e do PT, foi abandonado.
Aprofundada no primeiro governo Dilma, por seu ministro da Fazenda, Guido Mantega, a nova política econômica apostava na intervenção dos bancos estatais, sobretudo o BNDES, para tentar expandir o crédito. Ironicamente, a “Nova Matriz Econômica” adotada no governo de uma ex-guerrilheira de esquerda, presa e torturada nos porões da Ditadura Militar (1964/85), tinha inspiração nacional-desenvolvimentista. A mesma com a qual os militares geraram o “Milagre Econômico”, entre 1968 e 73, antes de entregarem o poder aos civis com a consequência da hiperinflação, só controlada com o Plano Real, em 1994.
As consequências das decisões econômicas equivocadas do governo Dilma, se não foram controladas, sofreram maquiagem para tentar garantir sua reeleição. As chamadas “pedaladas fiscais” gerariam alguns meses mais tarde seu pedido de impeachment. O termo se referia a manobras fiscais no atraso de pagamentos aos bancos públicos, não informadas de maneira clara ao Congresso Nacional, para que a situação econômica parecesse melhor do que estava. De fato, condenou o governo a pagar mais juros, causando impacto negativo no orçamento.
Dos principais carros chefe da campanha da reeleição de Dilma, o pleno emprego durou até 2014, quando alcançou a mínima de 4,3% de desempregados na população economicamente ativa. Mas, após a manutenção do governo nas urnas de 2014, voltou a crescer a partir de 2015. Em dezembro daquele ano, quando o então presidente da Câmara Federal Eduardo Cunha (PMDB/RJ) aceitou o pedido de impeachment de Dilma, foi fechada a pior série histórica de geração de vagas (saldo entre admissões e demissões) do ministério do Trabalho e Emprego (MTE), iniciada em 2002. Dez milhões de pessoas terminaram 2015 desempregadas.
Outro fator externo afetou duramente a economia que apostava na produção de petróleo, impulsionada pelas reservas futuras do pré-sal, para manter sua balança comercial favorável. Depois do pico registrado em junho de 2014, quando o barril de petróleo chegou a US$ 115, ele abriu 2015 sendo negociado no mercado internacional a US$ 50. Com queda de preço acumulada em 60%, foi a pior retração da commodity desde a crise econômica de 2008.
— Aqui a frustração econômica causada pelo término da era das commodities implicou uma enorme dificuldade de manutenção das políticas econômicas e sociais do lulismo continuadas por Dilma Rousseff. Este é um ponto crucial para entendermos a insatisfação que gerou os movimentos de massa pós-2013 — destaca o sociólogo e cientista político George Gomes Coutinho, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) de Campos.
Pressionada por seu próprio legado, Dilma esperou ser reeleita para tirar Mantega da Fazenda. Colocou no lugar o economista ortodoxo Joaquim Levy, doutor na Universidade de Chicago. Na reforma ministerial anunciada em 27 de novembro de 2014, a presidente tentou um giro de 180º na economia. Mas o reflexo dos seus erros anteriores, a divisão do país causada pela polarização da eleição, mais a corrupção sistêmica que começava a ser eviscerada pela Lava Jato, levaram às primeiras manifestações.
Quem primeiro saiu às ruas foi o PT. Em 13 de março, CUT, UNE e MST reuniram milhares de pessoas em protestos contra o impeachment de Dilma e em defesa da democracia. Apenas dois dias depois, a resposta foi contundente: as manifestações de 15 de março foram as maiores do país, desde as “Diretas Já”, em 1984. Em pelo menos 160 cidades de todos os Estados brasileiros, as Polícias Militares contabilizaram entre 1,4 e 2,4 milhões as pessoas que foram às ruas pedir a renúncia ou o impeachment de Dilma.
Na maior manifestação, a PM de São Paulo estimou que 1 milhão de pessoas tomaram a av. Paulista e adjacências, enquanto o Datafolha contou apenas 210 mil.
Como nas “Jornadas de Junho” de 2013, a até então maior da história brasileira foi mobilizada em 2015 pelas redes sociais. Desta vez, pelos grupos de oposição Movimento Brasil Livre (MBL), Vem Pra Rua e Revoltados Online, que se diziam “apartidários”.
Ainda assim, os protestos de 15 de março contaram com o apoio do PSDB, DEM, PPS e SD, que convocaram seus filiados ao ato. O governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) também foi acusado de liberar as catracas do metrô, para dar livre trânsito aos manifestantes.
— Os movimentos da chamada “nova direita” no Brasil, a partir de 2015, se utilizaram fartamente tanto da estética de mobilização dos grupos de junho de 2013 quanto até mesmo de nomenclaturas e slogans. Afinal, o “Movimento Passe Livre”, o MPL, de alguma forma inspirou o “Movimento Brasil Livre”, não por acaso MBL. O slogan “Vem Pra Rua” tornou-se um movimento homônimo — relembra George Coutinho.
Uma reação foi tentada em 18 de março pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), também ligado ao PT. Apesar disto, eles fecharam rodovias em sete Estados para protestar contra o ajuste fiscal de Levy, mas chamaram as passeatas de três dias antes de “golpistas”.
Na queda de braço das ruas, em 12 de abril, uma nova manifestação pelo impeachment da presidente se espalhou por 152 cidades de 24 Estados. Menor do que os atos de 15 de março, elas levaram cerca de 700 mil pessoas às ruas.
No dia 15 de abril, o então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, foi preso pela Lava Jato, acusado de receber propina do esquema de corrupção da Petrobras para o partido. No mesmo dia, o Tribunal de Contas da União (TCU) considerou as “pedaladas fiscais” crime de responsabilidade, a Câmara Federal adiou a votação do projeto de terceirização proposto pelo governo e, contra ele, as centrais sindicais promoveram protestos em 23 Estados e em Brasília.
Em 16 de agosto, a terceira grande manifestação de rua pelo impeachment de Dilma ocorreu em 291 cidades de todos os Estados brasileiros. Menores que os de março, mas maiores que os de abril, os protestos reuniram cerca de 900 mil pessoas em todo o país, segundo os cálculos das Polícias Militares.
Quatro dias depois, em 20 de agosto, o procurador geral da República, Rodrigo Janot, apresentou denúncia contra Eduardo Cunha, por envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras. No mesmo dia, numa coalisão da CUT, UNE e MST e partidos de esquerda, cerca de 190 mil pessoas foram às ruas em defesa do governo Dilma. Apesar disto, eles também pediram a saída do ministro Joaquim Levy, além de elegerem Cunha como seu novo inimigo.
A vingança do “Coisa Ruim”, como o falecido jornalista Jorge Bastos Moreno (1954/2017) se referia a Cunha, não tardaria. Em 2 de dezembro, no mesmo dia em que o PT anunciou que votaria no Conselho de Ética contra o presidente da Câmara Federal, ele aceitou o pedido de impeachment de Dilma, por crime de responsabilidade. Era elaborado pelos juristas Miguel Reali Júnior, Janaina Pascoal e Hélio Bicudo. Emblematicamente, o último foi fundador do PT.
Em 13 de dezembro, novos protestos contra a presidente foram registrados em 87 cidades de todos os Estados. Mas, talvez esvaziados pela abertura do processo de impeachment, eles foram os menores contra Dilma naquele ano, mobilizando cerca de 83 mil pessoas. Na queda de braço com os defensores do governo, 16 de dezembro foi a primeira vez em que estes conseguiram superar os opositores: segundo cálculos das Polícias Militares, foram 98 mil manifestantes, em pelo menos 42 cidades.
— Os movimentos da “nova direita” passam a vocalizar demandas e perspectivas de grupos da sociedade que até então não encontravam representantes dotados da capacidade de síntese necessária e com enorme habilidade em utilizar as redes sociais. Não quer dizer que não existissem as visões de mundo mais conservadoras. Apenas não haviam encontrado grupos que vocalizassem esses sentimentos difusos. A grande mídia monopolista engrossou de forma sistemática a narrativa que associou o Partido dos Trabalhadores de forma inequívoca, por vezes quase exclusiva, ao fenômeno da corrupção. Por outro lado, no âmbito da política tradicional, Dilma lidou diretamente com um governo dotado de capacidade decisória limitada e um Congresso Nacional rebelde liderado por Eduardo Cunha — concluí o sociólogo e cientista político George Coutinho.
Continua no próximo domingo (19/11)
Confira as duas primeiras partes da série:
Ruas pela democracia do Brasil desde a Ditadura
Cabruncos nas ruas do Brasil de Itamar às Jornadas de Junho
Publicado hoje (12) na Folha da Manhã
Mais uma vez, parabéns pela retrospectiva histórica das ruas tomadas pelos movimentos sociais!Mais uma vez, indico todo este material produzido como instrumento didático em nossas salas de aulas!Aguardando o próximo domingo. E quando um leitor aguarda os ‘próximos capítulos’, é excelente sinal. Até!
Cara Guiomar,
Repito aqui o que disse em resposta ao seu comentário na democracia irrefreável das redes sociais:
“É o melhor sinal. Grato pela colaboração e a generosidade na avaliação!”
Abç!
Aluysio
Boa noite.
Me desculpe o editor, mas o que ocorreu no país foi um golpe de estado!!
Caro Mario,
Boa tarde! Em primeiro lugar, não há pq se desculpar. Vc defende um ponto de vista. E ainda que o faça numa simples assertiva, carente de contexto, faz parte do democracia pelas quais as ruas brasileiras brigavam desde 1984, período de tempo abordado nesta série de reportagens.
A narrativa do impeachment de Dilma que vc ecoa, é a do PT. Por óbvio, é diferente da adotada no impeachment de Collor, ou quando o partido liderou o “Fora FHC”. Mas concordo que a mais atual se reforça quando a Câmara Federal protege Temer, assim como o Senado a Aécio, com o beneplácito de ministros do Supremo como Gilmar Mendes, Alexandre Moraes, Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli e Marco Aurélio Mello.
De qualquer maneira, dentro da própria esquerda, a narrativa do PT não é consensual. Pré-candidato a presidente pelo PDT e ex-ministro de Lula, Ciro Gomes declarou publicamente:
— Não é possível insultar a inteligência do povo brasileiro e manter essa narrativa (de perseguição política). Nós estamos ferindo de morte a narrativa central de que ainda dava a nós alguma respeitabilidade na opinião pública progressista brasileira, que é a ideia de que o Brasil está sob um golpe de estado. Como é que eu posso então assistir o Lula abraçado com Renan Calheiros (PMDB/AL), que era senador e votou pelo impeachment?
Abç e grato pela chance da exposição!
Alysio
A conclusão que chego é que os movimentos ocorridos nesse período (contra ou a favor) não partiram de vontade popular e sim de um pequeno grupo ou outro que usou o povo como massa de manobra para interesses de uma minoria. Comparo as manifestações a uma massa de zumbis que repetem sempre a mesma falácia na qual foram programados para falar e bradar. A prova mais contundente para isso podemos ver nos dias de hoje, em que o presidente e seus ministros, senadores e todos os poderes se preocupam mais em se defender de acusações e continuar prestando uma desserviço a sociedade em beneficio próprio. A corrupção parece está mais clara do que nunca e bem embaixo de nosso nariz. E para onde foram as manifestações grandiosas? O povo não tem voz própria, logo nos dias de hoje, na era das mídias sociais. Lamentável.
Caro Robson,
Mesmo que tenham sido organizados por grupos como MBL — que desde a exposição do Queermuseu, no Centro Cultural do Santander em Porto Alegre, têm estado ao lado das pautas mais retrógradas do Brasil —, os protestos pelo impeachment de Dilma, em 15 de março de 2015, foram as maiores manifestações de rua brasileira desde as “Diretas Já”, em 1984. Não podem ser, portanto, desprezadas. Tampouco atribuídas, apenas, a uma minoria.
Todavia, concordo que o atual Congresso Nacional, após ter tirado Dilma do poder, tem se esforçado para endossar a narrativa de golpe, quando protege Temer e Aécio da Lava Jato. Por isto mesmo, como foi colocado desde o primeiro parágrafo da primeira matéria desta série, saber por que as ruas brasileiras se calaram é uma pergunta necessária.
Abç e grato pela colaboração!
Aluysio
Bom, acompanho as reportagens da folha a muito tempo como as reportagens de outros meios de comunicação, percebo que as mídias tem participação, mesmo que limitadas, nas idas as ruas dos brasileiros porém na minha opinião não foi ela que foi o papel decisivo e sim os grandes meios de comunicação, que se empenharam para só repassarem o pior do Brasil, o PT, a situação econômica, etc…! Não posso afirma se teve interesse ou ganhos por parte dessa imprensa, mais é de ser estranhar e muito de como a notícia e repassada ao povo brasileiro. Do acordar ao dormir, era capa de revista, nos tele jornais, era feito intensamente essa propaganda negativa. Sendo assim meu caro Aluysio, sua reportagem é magnifica, porém mais do que os cerca, advindo de você e sua classe de jornalista, suponho eu, que o senhor sabe como uma emissora, um jornal e capaz de persuadir o indivíduo a seguir suas idéias, mudando as opiniões de acordo com seu interesse!
Mais parabéns pelo conteúdo, estamos atendo aos acontecimentos e a tudo que esta ocorrendo ao povo do nosso querido Brasil.
Caro Leandro Bento,
Sim, a mídia brasileira, sobretudo a Rede Globo, foi acusada de ampliar com lupa a divulgação dos protestos pelo impeachment de Dilma. Mas se vc ler esta série de matérias desde o seu início, observará que os principais protestos de ruas no Brasil receberam grande divulgação da mídia desde o impeachment de Collor, em 1992, passando pelo “Fora FHC”, tentado sem sucesso pelo PT em 1999.
Creio que exceção se deu nos comícios das “Diretas Já”, em 1984, quando a mesma mídia foi tb acusada, novamente com ênfase ao jornal e TV Globo, de não ter dado a cobertura devida, sobretudo em seu início, ainda em 1983. Mas o período tem que ser relativizado pelo fato de ainda estarmos na Ditadura Militar, fruto do Golpe Civil/Militar de 1964, que contou com apoio de boa parte da mídia e da população, dividida pela bipolaridade do auge da Guerra Fria (1945/91).
Tb nas “Jornadas de Junho”, a mídia brasileira foi novamente acusada de não ter dado a cobertura devida, sobretudo em seu início, ainda em 2012. Fato que pareceu mudar após a violenta repressão da PM paulista ao protesto de 13 de junho de 2013. Mas há que se lembrar que os jornalistas, de diversos veículos nacionais, foram hostilizados pelos manifestantes. E foi a morte trágica de um desses profissionais, atingido por um rojão disparado por black-blocks numa manifestação no Rio de Janeiro, em 6 de fevereiro de 2014, que sepultou a simpatia popular pelos protestos contra a Copa.
De qualquer maneira, se há algo que a “Primavera Árabe” ensinou ao mundo entre 2010 e 2012, foi que os grandes movimentos de massa, a partir dali, teriam as redes sociais, não a mídia institucional, como seu principal veículo. Nas ruas do Brasil, foi o que lecionaram tanto as “Jornadas de Junho” de 2013, cuja falta de foco nas reivindicações foi criticada por mídia e governo, quanto os protestos pelo impeachment de Dilma, entre 2015 e 2016.
Ao fim e ao cabo, talvez fosse relevante constatar que a opinião mais crítica sobre a gd mídia, emitida pela fonte ouvida na terceira matéria desta série, o sociólogo e cientista político George Gomes Coutinho, foi não ao acaso escolhida como destaque no alto de página em sua publicação impressa na Folha da Manhã: “A grande mídia monopolista engrossou de forma sistemática a narrativa que associou o Partido dos Trabalhadores de forma inequívoca, por vezes quase exclusiva, ao fenômeno da corrupção”.
Abç, grato pela generosidade da avaliação e a chance da exposição!
Aluysio