As redes sociais — um conjunto expressivo de ferramentas multimidiáticas — modificaram, nas últimas duas décadas, o comportamento da sociedade consumista no que se refere aos seus costumes (moral e ética) e indeterminaram os seus limites em razão da apropriação por parte, principalmente, das “novas” gerações, sempre ávidas de novidades para que possam inserir-se no hodierno discurso vanguardista.
O artista Luiz Carlos França, por exemplo, de uma geração, como a nossa, nascida no contexto da II Guerra Mundial, num tempo em que se usava, ainda, o gasogênio como combustível e que a grande revolução era a mensagem produzida pelo rádio, acaba de ceder à imposição do tempo e, feliz, já se encontra, embora tardiamente, nas redes intermediando informações, é claro, perplexo diante das múltiplas possibilidades.
Assim como ele, outros intelectuais de remotas gerações estão checando a novidade (aquela de que nos fala o professor André Parente, “O Virtual e o Hipertextual”) para conceituar os estranhamentos produzidos por um sistema que, entre outros efeitos híbridos, praticamente, acaba com a solidão voluntária, aquela definida como transtorno da personalidade descrita por Freud uma vez que contraria o princípio de que os seres humanos nasceram para viverem no cerne de grupos associativos.
Por ser um lugar (espaço das pessoas, como nos ensina Muniz Sodré) de neutralidade e por isso democrático, porquanto se pode falar (comentar) sobre tudo e sobre todos, sem que necessariamente tenhamos condições para fazê-lo, nasceu para ficar. Neste ciberespaço — núcleo para onde convergem todas as tendências da pós-modernidade — encontram-se elementos de parcas luzes dialogando com poetas, cientistas, escritores, médicos, artistas, loucos, prostitutas, proxenetas, fofoqueiros, desvairados…
Interessante é que até “doutores” em cultura se arvoram em dar opiniões, pela via do comedimento crítico, sobre fatos que, pela sua complexidade, só poderiam ser definidos no campo das discussões epistemológicas. Uma nítida confusão, naturalmente, composta por quem não consegue examinar os liames entre a arte, a técnica e os poderes, uma vez que através de seu discurso “hegemônico” se considera, erroneamente, capaz de diluir as discrepâncias técnicas com a lente da ineficácia.
Portanto, precisamos ter cuidados especiais no manuseio desses equipamentos tão interessantes. Todos aprendem, rapidamente, a fazê-lo, mas a maioria desconhece, cientificamente, quais as suas fórmulas de funcionalidade, como uma prova mais que insofismável de que “as coisas velhas já se dissiparam, mas as novas não aconteceram, ainda”, no dizer da professora Ana Maria Fadul, uma das fundadoras da Intercom.
Bom. E o depois? O mercado cibernético disporá nos próximos meses, além da ampliação da velocidade e melhores formas de armazenamento de informações, outros aparelhos (e plataformas) muito mais modernos (?), fortalecendo a memória artificial em detrimento da memória natural, esta cada vez mais fragilizada e dependente das novas tecnologias. No seu “otimismo crítico” Foucault não via deformações (i) naturais no avir das tecnologias, as quais Deleuze e Guattari denominam de uma “era pós-mídia”. Meros discursos dos meios acadêmicos…
Existe, todavia, a percepção, embora tênue, de que a sociedade, se não mudar, agora, sua visão sobre as práticas sociais, estéticas, politicas, pedagógicas e, principalmente, analíticas, dificilmente se livrará dos grilhões das falas vazias, das opiniões desusadas sobre artes, dos erros gramaticais, da arrogância própria do poder, da pornô-estética e dessa tendência minúscula, ainda, do avanço de ideologias totalitárias (…). Essas reflexões são da cientista Janice Caiafa, ao falar sobre o assunto em artigo publicado no livro “Nas Fronteiras do Contemporâneo” Ed. Mauad, 2001). E ela tem razão.
Enquanto essas previsões não se consumam, as redes sociais como a midiatização contemporânea, será de suma importância para as eleições de 2018, superando as perspectivas até mesmo dos produtores de televisão que, pelas estatísticas, vêm perdendo mercado publicitário para a novidade das redes, porquanto estão (as redes) na vantagem por estabelecerem a informação em tempo verdadeiramente real.
Podemos, também, correr o risco, no caso de uma possível falha do sistema, de construirmos o futuro com as perspectivas sombrias de um apagão virtual. E aí teremos, por força das circunstâncias, de reconstruir as memórias apagadas pelo artificialismo. Se é que haverá, por parte da geração que está por vir, interesse na preservação da história da humanidade, contrariando o pensamento de Hegel e Francis Fukuyama.