Alexandre Buchaul — Agonia Política

 

 

 

A prisão de suspeitos de crimes de grosso calibre sempre nos deixa estupefatos, menos pela surpresa de que o sejam mesmo culpados da suspeição que lhes imputam, que pela magnitude dos impactos, pelos tamanhos da ganância e do despudor. As vultuosidades dos valores envolvidos e a variedade de crimes dos quais são acusados talvez nos ponham no livro dos recordes e, lhes confesso, acho que será difícil nos tirarem de lá.

De contraventores do jogo do bicho, aos traficantes de drogas e as milícias o cidadão do Estado do Rio de Janeiro já houvera visto um pouco de tudo, o ineditismo agora, fica por conta de estarmos assistindo a prisões de indivíduos que foram além de se pôr no domínio de guetos, becos e morros que se tornam enclaves da bandidagem em nosso querido e sempre belo Rio de janeiro, a prisão de indivíduos que nos levaram aos estertores, que transformaram o Estado inteiro em seu covil. A sustentação do poder alcançada a qualquer custo, políticas públicas que condenaram os fluminenses ao atraso para que pudessem garantir às “ímpias falanges”¹ fartos currais eleitorais, votos a serem comprados com dinheiro de crimes e pagos com “sangue, sofrimento, lágrimas e suor”² do povo do Rio de Janeiro.

Estarão esses indivíduos, ao serem presos, impedidos de dar continuidade as ações que os levaram a prisão? A história contada nas páginas policiais nos mostra que não. Recados aos associados, dossiês, intimidações, eleição de cúmplices e toda sorte de interferências no meio político eleitoral provavelmente permanecerão ocorrendo. O Estado se mostra incapaz de impedir que traficantes transformem os presídios em escritórios e universidades do crime, lembrem-se da história do surgimento do Comando Vermelho, nascido em Ilha Grande, e do PCC, este paulista de nascimento, para ficarmos em apenas dois exemplos, os crimes de falso sequestro seguem igualmente praticados a partir das cadeias públicas, seria estupidez crer que esse Estado incapaz de dominar criminosos comuns viria a conter a quem subjuga o próprio Estado.

O Rio de Janeiro precisa despertar, deixar de ser esse belo adormecido em “berço esplêndido”¹ para assumir que precisa recomeçar, aprender com o passado que nos assombra o presente e construir um futuro digno de toda a beleza com que fomos agraciados por Deus. Para que isso aconteça é preciso que tenhamos alternativas reais pelas quais optar, deixar de escolher o menos pior e começar a eleger os melhores projetos para o nosso futuro. Compreendendo que a solução para problemas políticos é através da política, precisamos que os partidos deixem de ser a geleia geral que se tornaram. Deixem de se submeter aos caprichos, de se pôr a serviço, de forças políticas que se transformaram em grandes polos de influência e assumam a vocação que disseram ter em seus estatutos e manifestos, que deixem de ser cúmplices por ação ou omissão dessas forças que subjugam e escravizam o Rio de Janeiro.

 

1 Versos do Hino Nacional Brasileiro

2 Fragmento de frase de Winston Churchill em seu primeiro discurso como Primeiro Ministro Inglês.

 

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Este post tem um comentário

  1. Emar Azevedo

    Excelente texto!

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