Ricardo André Vasconcelos — Primeiras impressões de 2018

 

 

 

A manutenção da liderança de Lula na corrida presidencial, de acordo com a primeira pesquisa Datafolha após a prisão do ex-presidente, mostra que o quadro sucessório está longe, muito longe, de qualquer indicativo do que o eleitor vai decidir em 7 de outubro.  O instituto ouviu 4.194 pessoas entre os dias 11 e 13 de abril, poucos dias após o inicio do cumprimento da prisão de Lula, em Curitiba, condenado a 12 anos e um mês por crimes de corrução e lavagem de dinheiro no caso que ficou conhecido como o do “triplex no Guarujá”.

O petista, que teve a candidatura confirmada pelo partido na semana passada, ficou com 31% das intenções de voto, seguido de longe pelo capitão reformado e deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) com 15%. Como principal antagonista da candidatura do petista, Bolsonaro parece ter batido no teto das intenções de voto, ou está próximo disso, porque seria natural o seu crescimento diante da certeza, cada diz mais cristalina, de que Lula está definitivamente fora do páreo.

Além de reverter a prisão, Lula precisaria suspender os efeitos da condenação e, ainda, da inelegibilidade imposta pela lei da Ficha Limpa, para ter seu nome incluído na urna eletrônica. Pode-se concordar ou não, mas é um fato, tal qual a reação das ruas que não veio e, com isso, ficou reduzida a capacidade de transferência de votos. O PT e os partidos de esquerda tentam, com poucas chances de êxito, fortalecer um nome como herdeiro do espólio lulista, mas a tarefa é tão difícil quanto à presença do próprio Lula na eleição. A pesquisa testou o nome do ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, que ficou com parcos 2% de intenções de voto. Dos possíveis herdeiros do patrimônio eleitoral do petista, Ciro Gomes (PDT), ficou com 5%. A ex-ministra do governo Lula, Marina Silva, que nas duas últimas eleições presidenciais, consolidou em torno de 20% dos votos, pontuou na pesquisa com 10%, seguida do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa (PSB), com 8%. Manuela D’Ávila (PCdoB) teve 2% e Guilherme Boulos (PSOL) não pontuou,

Barbosa é uma esfinge. Demorou para se decidir filiar a um partido político, estica até a undécima hora se vai ou não entrar na disputa, e chega ao cúmulo da indecisão ao confessar que ainda não sabe se quer ou não ser candidato. Se as pesquisas que indicam que o eleitor quer alguém novo, sem os tradicionais vícios políticos e principalmente, sobre o qual não pesem dúvidas sobre a honestidade, estaria aí um campo enorme para crescimento de Joaquim Barbosa ou de Marina, ou quem sabe os dois juntos numa mesma chapa? O problema é que, defeito ou virtude, a ambos carece a gana para disputar a talvez mais importante eleição deste a redemocratização.

Pesquisas à parte, que são retratos de momentos, ao que parece, um dos principais fatores a decidir a eleição presidencial será o ritmo e rumos da Lava-Jato nos próximos meses. A mesma Lava-Jato que abateu Lula e Aécio Neves, pode levar ao cadafalso o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, agora fora da benfazeja sombra do STF, já é investigado na primeira instância da justiça paulista. Alckmin largou mal na pesquisa Datafolha com apenas 6%. Além da Lava-Jato, outro fator determinante na eleição de 7 de outubro é a questão do financiamento. Será a primeira eleição com doações empresariais proibidas, ou seja, sem a Odebrecht e suas congêneres e sem a onipresente JBS, todas irrigando recursos nas campanhas distintas de olho nas vantagens auferidas junto à que se sagrar vencedora. Além disso, será uma campanha mais curta, de apenas 45 dias de propaganda no rádio e TV.

Uma candidatura Temer é impensável e dificilmente a máquina do Governo Federal teria algum êxito no apoio ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), por exemplo, mas este é outro que pode ser apanhado na rede da Lava-Jato. Por este prisma, restariam a insossa Marina, o titubeante Joaquim e o explosivo Ciro, de um lado, e o Bolsonaro correndo sozinho com seu discurso de retrocesso arrebanhando votos dos que entendem que os problemas se resolvem enfrentando as consequências e não as causas.

 

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