Bienal do Livro merece defesa contra estupidez, mas também críticas

 

 

Defesa da Bienal

Na quinta a coluna foi (aqui) enfática na defesa da Bienal do Livro contra a campanha de ódio e intolerância que lhe foi lançada nas redes sociais. Ela foi perpetrada por alguns aloprados da direita local, tentando surfar a onda conservadora que elegeu Jair Bolsonaro (PSL) presidente, para saírem da obscuridade e se lançarem a vereador por Campos em 2020. Com ambições pessoais travestidas de cruzada moral, a intenção é semear ódio e medo para tentar tumultuar o evento cultural mais importante da cidade.

 

Contra livro a estudantes

A Bienal será realizada no campus Campos-Centro do Instituto Federal Fluminense (IFF), entre os dias 20 e 25. Ironicamente, um dos autores de vídeo contra a Bienal é também professor de pedagogia do próprio IFF. O obscurantismo da sua posição foi tamanho, que ele chegou a criticar o incentivo do governo municipal à leitura de alunos da rede pública, através de um vale-livro no valor de R$ 10,00. Segundo ele, o dinheiro poderia ser usado na construção de uma sala de repouso, na qual possivelmente dormita seu compromisso como educador.

 

Nem Hitler ou Mussolini

O outro autor de vídeo atacando a Bienal do Livro foi um jovem que diz liderar um grupo de direita em Campos. Estranhamente, a sigla do coletivo é composta das iniciais do nome do suposto líder. Ao que se saiba, Adolf Hitler nunca pensou em designar o Partido Nacional-Socialista como AH. Tampouco Benito Mussolini pensou em chamar o Partido Nacional Fascista de BM. Aparentemente, os dois ditadores tiveram mais humildade e senso de ridículo do que seu pastiche campista.

 

Posição do IFF

Sobre o professor do IFF, a coluna consultou o reitor da instituição, professor Jefferson Azevedo, sobre o vídeo. Ele disse: “Reafirmamos que a manifestação do servidor no vídeo não representa, em hipótese alguma, a opinião e o posicionamento da instituição com relação a esse relevante evento cultural, este ano em sua 10ª edição. Apesar de manifesta de maneira agressiva e com claro viés político-ideológico, nosso entendimento é de que as críticas são feitas por um cidadão no uso de sua liberdade de expressão em um ambiente social.”

 

Soldo rosáceo

Já sobre o líder do grupo de direita que batiza com as iniciais do seu nome, quem descobriu algumas coisas interessantes foi o jornalista Esdras Pereira. O jovem em questão não só quer ser candidato a vereador em 2020, como já foi em 2012, quando teve apenas 117 votos. E, como consta no site de prestação de contas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele recebeu seis doações de campanha da ex-prefeita Rosinha Garotinho (atual Patri), no valor total de R$ 1.486,60. A mesma Rosinha que trocou com a petista Dilma Rousseff a ausência da filha Clarissa na votação do impeachment da então presidente pela venda do futuro de Campos.

 

Nelson censurado

Rosinha e Garotinho saíram do teatro à política. Após ter interpretado papeis ousados nos palcos de Campos, nas décadas de 70 e 80 do século passado, Rosinha ficaria marcada como prefeita por ter censurado no Trianon, em julho de 2013, a peça “Bonitinha, mas ordinária”, do mestre da dramaturgia brasileira Nelson Rodrigues. O motivo foi denunciado à época pelo Rodrigo Vahia, do grupo teatral carioca Oito de Paus: “meu grupo de teatro teve a peça CENSURADA em Campos (…) Simplesmente porque a peça de Nelson Rodrigues poderia ofender a prefeita Rosinha Garotinho, que é evangélica. Em pleno século XXI?”.

 

Crítica à Bienal

Em vez de servir a velhos senhores e tentar surfar a onda conservadora, críticas construtivas poderiam ser feitas à organização da 10ª Bienal. Realmente, muitas dos seus temas e debatedores atendem à agenda lacradora, recusada pelas urnas de outubro. Há muitos intelectuais de pensamento liberal que poderiam ser convidados para dar equilíbrio ao evento. Sem discordância não há debate, só monólogo. A unanimidade, como sentenciava o próprio Nelson, é burra. Em verso, o poeta Manoel de Barros advertia: “O mundo é sortido, Senhor”.

 

Publicado hoje (17) na Folha da Manhã

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Este post tem 2 comentários

  1. Sandra

    O fiel da balança,para mostrar o equilíbrio ,tem que ter dois pesos iguais .Isto é JUSTIÇA .Tem que ter o contraditório e com certeza terá .É inegável a participação da liberdade .

  2. Ronald

    Concordo com suas criticas a tudo que aconteceu na Bienal, pelo que vi as palestras lacradoras não atraiu um público desejado, já que os auditórios Miguel Ramalho e de multimídia o público chegava no máximo a 30% da capacidade, e realmente faltou alguém com um viés liberal ou conservador, porém a direita em Campos historicamente é fraca, e hoje se resume aos liberais clássicos, libertários e conservadores ‘moderados” do Partido NOVO, os católicos ultra tradicionalistas do IPCO, alguns nacionalistas, includindo aí integralistas, e de alguns evangélicos que são democratas-cristãos ou conservadores ao estilo americano,…E em relação a bienal, achei que o espaço era acanhado, talvez por causa do baixo número de editoras e livrarias, o que descambou mais uma vez para a baixa qualidade dos títulos apresentados, já que 99% ou eram romances ou de literatura fantástica para adolescentes , pouquíssimos livros de outras vertentes literárias, isto me lembrou que das 10 vezes que teve bienal aqui em Campos, as 2 melhores disparadas foram a 2° que aconteceu no parque de exposições da Pecuária, e a bienal que aconteceu na praça São Salvador…em relação ao professor do IFF não conheço, já o outro fulano nem a direita de Campos gosta dele e já correu até de debates com outros direitistas, inclusive mostra que é apenas um oportunista de plantão, já que apoia os Garotinhos que historicamente são adeptos daquele trabalhismo com viés nacionalista e populista do Leonel Brizola, e apoia ao mesmo tempo um ultraconservador como o Bolsonaro, e não podemos esquecer que na entrevistas que o Flávio Bolsonaro deu à este jornal meses atrás, ele deixou claro que os Bolsonaros sempre foram força antagônica/contrária aos Garotinhos aqui no Estado.

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