Greve dos médicos na mesa do boteco
Por Aluysio Abreu Barbosa
— E a greve dos médicos? — abriu a sessão Rogério, à mesa do boteco, após o primeiro gole gelado de cerveja.
— Ficou mais dura depois que os médicos recusaram a proposta do governo. Agora é ver quem pisca primeiro! — Aníbal devolveu na tabela, antes de também molhar a palavra com cerveja.
— Por que você acha que eles recusaram?
— Acho que os médicos se tornaram reféns das mesmas redes sociais que usaram para se mobilizarem à greve, publicando fotos mostrando a precariedade das unidades de saúde.
— Como assim?
— No “pacto” assinado pelos líderes da categoria com o governo na terça, a precariedade que se repete no mínimo há 10 anos na Saúde, mas só foi lembrada quando as gratificações e substituições foram suspensas, e o ponto biométrico imposto, nem entrou na mesa de negociação. E o oportunismo foi cobrado nas redes sociais. Foi o que forçou a decisão de quarta para manter a greve. Divididos, os médicos ficaram reféns do que iniciaram.
— E agora?
— O governo já tinha endurecido quando o prefeito disse em entrevista ao Arnaldo Neto, na Folha, que descontaria as faltas dos grevistas. E voltou a jogar duro depois que os médicos recusaram a proposta. Liberou o pagamento de 50% das substituições e gratificações para todos os profissionais da Saúde, à exceção dos médicos.
— Mas os médicos também endureceram. O coordenador regional do Cremerj disse no blog do Edmundo Siqueira, da Folha, que vai levar a questão da precariedade ao Ministério Púbico Estadual e Federal. E garantiu: “Condição de trabalho é inegociável”!
— Pois é. Foi a reação das redes sociais que fizeram as condições de trabalho voltarem à pauta. Agora, como te disse, é ver quem pisca primeiro.
— E o que você acha que acontece?
— Jogo de espera. É um caso clássico da luta de classes do velho Karl Marx. Não é a única força-motriz da sociedade, como querem os marxistas. Mas existe e é legítima. Só é engraçado ver uma categoria que votou em peso em Bolsonaro a presidente, ter sua melhor tradução de legitimidade em Marx.
— Na ditadura, era famosa a figura do “marxista de axila”. Era o cara que nunca leu Marx, mas colocava “O Capital” embaixo do braço e saía gritando palavras de ordem. Agora temos os antimarxistas de sovaco. Em comum, só a ignorância de quem defende ou ataca o que jamais leu — sentenciou Rogério, em meio a risos.
— Lembra daquela polêmica foto que os formandos da Faculdade de Medicina de Campos, em apoio a Bolsonaro, tiraram e expuseram nas redes sociais em 2016? Foi dois anos antes da eleição a presidente. E evidenciou como o giro de 180º à direita, que se daria no comando do Planalto Central, aconteceu antes entre os médicos da planície goitacá.
— Acho que foi o Getúlio Vargas quem disse que, para onde Campos vai, vai o Brasil.
— Pois é. Como acho que foi José Candido de Carvalho quem disse: “campista pede, mas não quer”.
— O tempo vai dizer. O problema é com a maioria da população, que não pode pagar plano de saúde. E não pode pagar o pato dessa queda de braço.
— Sim, a greve já está afetando o serviço de Saúde Pública. No mesmo dia 13 da assinatura do “pacto”, a emergência adulta do São José, na terra de Zé Candido, chegou a ficar sem atendimento por falta de médico.
— Só que não dá nem para saber se foi por conta da greve. Em 23 de março, antes do novo hospital da Baixada ser inaugurado, o São José também já tinha interrompido o atendimento. E foi por falta de médico. Olha que naquela época ainda não tinha ninguém falando em greve.
— O ponto é o ponto?
— Não sei se é “o”. Mas que é “um”, só ignora quem soma dois e dois para achar 25. Em Macaé, depois que a biometria foi instalada por um médico no poder, 1/3 dos seus colegas de profissão pediram para sair.
— Acha que pode acontecer o mesmo por aqui?
— Cidades diferentes, contextos diferentes. Em Macaé há muita população flutuante, o que não ocorre em Campos. Só acho que essa “briga” tinha que ter sido comprada pelo governo lá atrás, quando tinha mais capital político. Não só com os médicos, mas com toda a folha de servidores inchada no tempo das vacas gordas dos royalties. Que nunca mais vai voltar. Como na Reforma da Previdência, a conta não fecha. E uma hora alguém em Campos vai ter que ter a coragem para encarar isso de frente.
— Sim. Mas melhor esperar o Congresso votar a Reforma Administrativa, para saber como vai ficar a estabilidade do servidor. Rodrigo Maia, presidente de fato do Brasil, já disse que será depois da Reforma Tributária. Agora, em Campos, o governo peita os médicos pelo menos nobre dos motivos: falta de dinheiro. Foi um erro estratégico. A conta pode vir na eleição de 2020.
— A conta só não pode ser paga agora por quem depende da Saúde Pública para definir entre sua vida e sua morte. Nessa história de ver quem pisca primeiro, é lembrar o questionamento de Mahatma Gandhi ao Velho Testamento: “olho por olho e acabará todo mundo cego”! — advertiu Aníbal, enquanto seus pelos eriçavam com um mau pressentimento. Que engoliu com a cerveja.
Publicado hoje (18) na Folha da Manhã
Por que será que a conta só não fecha quando é pro médico? O que dizem da folha de milhões pagos a cargos comissionados que não comissionam nada??? Não era questão apenas de gestão? Cadê a gestão então? Somente não pagando médicos é que Campos ficará no azul novamente??? Fácil culpabilizar uma classe tendo seu salário integral no bolso não é mesmo??? Quem trabalha tem o DIREITO de receber seu salário!
Cara Katianne Morais,
Pois é. Marx concordaria contigo.
Abç e grato pela participação!
Aluysio
Quer dizer que o problema não é o ponto? É só ver Macaé. Um médico prefeito obrigou os médicos que recebiam sem trabalhar a pedirem exoneração. Se for entrar na cobrança do famoso social nos hospitais conveniados de Campos aí que a coisa fica feia.
ATENÇÃO ANTENÇ~AO!! DESDE SEXTA COMEÇARAM A FAZER OPERAÇÃO PADRÃO PARA LOTAR OS CORREDORES DO FERREIRA MACHADO . AMONTOAR PESSOAS COMO GADO E COLOCAR VIDAS HUMANAS EM RISCO PARA FAZET PRESSÃO É CRIMINOSO !!