No Ponto Final de domingo (26), a superintendência de Comunicação (Supcom) da Prefeitura informou (aqui) que a Guarda Civil Municipal (GCM) finalmente vai fiscalizar, quando acionada, os constantes abusos dos clientes da boate Luxx, na rua Pero de Góis, que têm infernizado as noites e madrugadas do bairro residencial do Parque Tamandaré. O que a Supcom também informou, mas a coluna não divulgou, é que, nas operações que a GCM promete fazer junto com o 8º BPM, será exigido que o morador reclamante acompanhe os desordeiros de outros bairros, não raro bêbados e por vezes armados (como evidencia o flagrante das imagens acima), para registrar a ocorrência na 134ª DP durante a madrugada.
Divulgada em grupos de WhatsApp dos residentes do Tamandaré, a proposta da GCM de passar a fiscalizar o que deveria fazer por força de lei, mas desde que um morador se disponha a acompanhar quem insiste em se deslocar ao bairro residencial para fazer das suas ruas um baile funk a céu aberto, gerou muitas críticas:
— Na verdade o poder público municipal é totalmente descoordenado, ineficiente e desperdiça recursos escassos. Caso cumprissem o que determina a lei de zoneamento urbano não dariam permissão para fazer funcionar uma boate num bairro residencial, a raiz do problema. Desta forma os órgãos de segurança pública estadual e municipal não teriam que desviar os recursos já carentes para resolver estes problemas. Portanto a (superintendência municipal de) Postura, a secretaria de Obras e (a superintendência de) Segurança deste município ou não se falam ou existem interesses por trás desse funcionamento, que desconhecemos — questionou um residente do Tamandaré
— Com certeza é uma maneira de intimidar! — concluiu outra moradora.
— Concordo também! A Prefeitura está de acordo com tudo isso! É um absurdo um de nós prestar serviço que nos expõe com pessoas de péssimos comportamentos! — desabafou mais uma residente.
— Estão passando para os moradores o que eles têm a obrigação e não estão fazendo. Isso é uma piada? — indignou-se outra moradora.
Diante do que os residentes do Tamandaré encaram como tentativa de intimidação por quem deveria ter obrigação de fazer cumprir a lei, o blog foi ouvir um especialista em Segurança Pública, sem ligação com os poderes públicos municipal e estadual. Policial federal com especialização em Segurança Pública pela UFF e mestrando em Sociologia Política pela Uenf, Roberto Uchôa deu razão aos moradores do bairro que se sentem intimidados pela exposição proposta. Ele ressaltou que a PM tem cumprido seu papel, mas reforçou as críticas ao poder público municipal na maneira de encarar suas obrigações com a Segurança Pública:
“O longo período de inércia do poder público municipal com relação aos constantes tumultos que têm ocorrido no Parque Tamandaré, principalmente no trecho onde está localizada uma casa noturna, mostra como os gestores municipais de nossa cidade ainda não entenderam que Segurança Pública também é responsabilidade municipal.
A Polícia Militar tem enviado viaturas ao local quando acionada. Mas sem o auxílio dos órgãos municipais, fica inviável resolver o problema. Porém, devido à grande repercussão do tema durante a semana passada (relembre aqui) e após inúmeras reclamações, a Prefeitura decidiu mudar de atitude e prometeu atuar juntamente com a Polícia Militar no local quando acionados.
Ocorre que, segundo informações, seria exigido que o denunciante estivesse presente para, juntamente com a Guarda Municipal, ir até a delegacia fazer o registro da ocorrência.
Essa é uma medida sem fundamento. Em tempos de disque denúncia e de incentivo ao papel da sociedade civil como auxiliar das forças policiais através do fornecimento de informações, expor a pessoa que faz a reclamação parece ser muito mais uma forma de evitar as denúncias, do que de realmente resolver o problema que aflige os moradores.
Se a Prefeitura finalmente compreendeu que tem um papel a ser desempenhado na Segurança Pública, parece que ainda não sabe como desempenhá-lo. A única certeza é que expor o morador não é o melhor caminho para resolver o problema”, advertiu Roberto Uchôa.