“Se gritar pega Centrão, não fica um, meu irmão”. Era a convenção nacional do PSL, em 22 de julho de 2018, quando o general da reserva do Exército Augusto Heleno cantou sua paródia da música “Se gritar pega ladrão”, do sambista Bezerra da Silva. Em 2018, o bloco fisiológico de partidos de centro-direita e direita, ao qual Jair Bolsonaro (hoje, sem partido) sempre pertenceu em seus 30 anos de vida parlamentar, apoiava o presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB). Mas o Centrão pulou para Bolsonaro antes mesmo do primeiro turno, quando as pesquisas deixaram claro que o candidato tucano não iria ao segundo. Como já tinha pulado antes dos governos Fernando Collor de Mello (hoje, Pros) e Dilma Rousseff (PT), que igualmente apoiaram, quando o impeachment de ambos se mostrou inevitável.
Em dois anos e meio de governo, Jair Bolsonaro (sem partido) vive sua pior fase. Que é atestada em todas as pesquisas. A mais recente, do Ipec, montado pela equipe do antigo Ibope, divulgou na madrugada de ontem que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem hoje 49% de intenções de voto, contra 23% do capitão. Como nenhum outro presidenciável chegou a dois dígitos e com 10% de brancos e nulos, mais 3% que não souberam ou quiseram responder, a consulta indica que Lula não é apenas o favorito ao pleito presidencial de 2022. Se fosse hoje, ele o venceria no primeiro turno.
Não cabe reproduzir o negacionismo bolsonarista das pesquisas. Até porque, quando elas favorecem o seu “mito”, como foi a pesquisa Datafolha de agosto de 2020, que registrou o aumento da aprovação popular do governo Bolsonaro, então de 37%, o pastor neopentecostal Silas Malafaia comemorou em postagem do Twitter: “A imprensa e os esquerdopatas piram com Bolsonaro! Como pode isso acontecer? Cinco meses de massacre na mídia e Bolsonaro consegue sua maior aprovação, segundo o Datafolha, desde sua eleição”. Depois, em linguagem imprópria a quem se diz “homem de Deus”, mas é reproduzida diariamente na Geena das redes sociais por ditos “cristãos”, arrematou: “Chupa essa manga cambada!”
O primeiro turno de 2022 tem data prevista para 2 de outubro. Está pouco mais de 15 meses distante da última pesquisa Ipec, com espaço para muita água passar por baixo da ponte, sob os céus do ex-governador mineiro Magalhães Pinto, famoso pela definição: “Política é como nuvem. Você olha e está de uma maneira. Olha de novo e ela já mudou”. E, para projetar o futuro, é recomendável olhar antes o passado. Desde que a instituição do segundo turno passou a existir nas eleições ao Executivo no Brasil, a partir da Constituição de 1988, apenas um presidente foi eleito em turno único: Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 1994 e 1998, batendo duas vezes Lula. Este, mesmo no auge da sua popularidade, em 2006, só conseguiu se reeleger presidente no segundo turno. Como havia sido eleito em 2002.
Assim como é relevante lembrar que, no encontro entre Fernando Henrique e Lula, promovido no dia 12 de maio por Nelson Jobim (MDB), ex-ministro dos dois ex-presidentes, o tucano disse que votaria no petista em um eventual segundo turno contra Bolsonaro. No que, se ocorrer, poderá ser seguido por aqueles que não acreditam na inocência de Lula. Mas, ainda assim, creem que o Supremo Tribunal Federal (STF) agiu correto ao definir na quarta (23) a parcialidade do ex-juiz federal Sergio Moro no julgamento e condenação do ex-presidente.
São os 8,6 milhões de brasileiros que votaram nulo no segundo turno de 2018, entre Bolsonaro e o poste petista Fernando Haddad. Somados aos outros 31,3 milhões de eleitores que sequer apareceram para escolher entre as duas opções. Mas não estão mais dispostos a fazê-lo em 2022, pelo caos em que o eleito transformou o Brasil. Com volta da inflação e queda vertiginosa do poder de compra, desemprego galopante, ministro das Relações Exteriores demitido após se orgulhar por transformar o país em “pária mundial”, ministro do Meio Ambiente demitido por crimes ambientais e, sobretudo, os 509 mil mortos pela condução desastrosa da pandemia da Covid-19. Entre eles, 403.700 vidas perdidas de maneira absolutamente desnecessária, se fôssemos capazes de manter a média de óbitos pela doença no resto do mundo.
A quem não é cúmplice do maior assassínio de brasileiros em meio milênio de História do Brasil, a CPI da Covid, longe de ser composta de santos, revelou as causas do inferno: busca dolosa de uma imunidade de rebanho por Bolsonaro, que se consiste em matar os fracos para que fortes sobrevivam assassinando sua humanidade; sua atuação como garoto propaganda de medicamentos comprovadamente ineficazes como a cloroquina, seu combate às medidas de restrição social adotadas por governadores e prefeitos, seu incentivo pessoal à aglomeração, ao não uso de máscara e ao questionamento das vacinas. E, quando finalmente foi obrigado a adotá-las, o fez rendido à corrupção do Centrão, que segura seus 130 pedidos de impeachment na Câmara Federal.
Na sessão tumultuada da CPI que se arrastou pela noite de ontem, só às 22h o deputado federal e bolsonarista raiz Luis Miranda (DEM/DF) revelou o nome por trás do escândalo de corrupção para comprar a vacina indiana Covaxin, não aprovada pela Anvisa: o deputado Ricardo Barros (PP/PR), do Centrão e líder do governo Bolsonaro na Câmara Federal. Velho conhecido do Ministério da Saúde, Barros ocupou a pasta no governo Michel Temer (MDB), quando foi investigado pelo Ministério Público Federal (MPF). Servidores de carreira denunciaram pressão para antecipar o pagamento de R$ 19,9 milhões à empresa Global, por medicamentos que nunca foram entregues.
Agora, após o governo Bolsonaro ignorar mais de 100 tentativas da Pfizer para ofertar vacinas mais baratas e eficazes que a Covaxin, o coronel da reserva do Exército Elcio Franco, um dos militares colocados no Ministério da Saúde sob o “mito” da honestidade, pressionava o servidor de carreira Luis Ricardo Miranda para o pagamento antecipado de US$ 45 milhões pela Covaxin. Com sobrepreço de 1000%, em contrato total no valor de R$ 1,6 bilhão. Não direto da fábrica, como ocorrem com todas as demais vacinas no país, mas à atravessadora Madison Biontech, empresa com endereço fictício no paraíso fiscal de Singapura. Em contato intermediado no Brasil pela Precisa Medicamentos, empresa de Francisco Maximiano, sócio da Global investigado com Ricardo Barros no governo Temer. Líder de Bolsonaro na Câmara, Barros foi autor da emenda para a importação da Covaxin sem o aval da Anvisa.
O servidor Luis Ricardo Miranda, que foi depor ontem na CPI após voltar dos EUA no avião que trouxe as vacinas Jansen ao Brasil, é irmão do deputado Luiz Miranda, que chegou ontem ao Congresso usando colete à prova de balas. Ele tinha proximidade pessoal com Bolsonaro suficiente para ser recebido, junto do irmão servidor, em um sábado, 20 de março, no Palácio Alvorada. Ao ouvir a denúncia, segundo os irmãos Miranda, o presidente informou: “Isso é coisa de Ricardo Barros”. Talvez por saber que não sobrevive politicamente sem o Centrão e que perdeu sua bandeira eleitoral contra a corrupção desde as “rachadinhas” do filho Flávio Bolsonaro (Republicanos), o chefe da nação nada fez. O que configura crime de prevaricação.
Aos que creem que todo o eleitorado conservador e antipetista ainda é capaz de negar o inegável, como os lulopetistas no Mensalão e Petrolão, interessante observar as divisões dentro do próprio meio militar. Ao usar o Twitter como o “homem de Deus” Malafaia, o general da reserva do Exército Paulo Chagas lembrou do colega de farda Augusto Heleno. E postou em 16 de junho, antes de explodir o escândalo da Covaxin: “‘Se gritar pega Centrão, não fica um’! Independente de qualquer outra opinião, eu continuo acreditando nesta afirmação. O Centrão, hoje no controle geral da gestão pública, está a aprovar o salvo conduto para roubar. Parabéns! Nem no governo de Lula, o Ali Babá, eles foram tão longe!”
Publicado hoje na Folha da Manhã
A esquerda pira né? Você realmente acredita que o governo de Jair Messias Bolsonaro é corrupto? Faz-me rir! Continuem batendo! Quanto mais vocês batem, mais cresce a popularidade dele!!!
Cara Sandra,
A direita pira? Ou o general Paulo Chagas estava rindo como o Coringa quando escreveu: “O Centrão, hoje no controle geral da gestão pública, está a aprovar o salvo conduto para roubar. Parabéns! Nem no governo de Lula, o Ali Babá, eles foram tão longe”?
Grato pela chance das indagações!
Aluysio
Tiraram um vagabundo da cadeia, tornaram esse vagabundo elegível e querem fazer desse vagabundo presidente, naturalmente contanto com as urnas eletrônicas fraudulentas! Voto impresso auditável nas próximas eleições!!!!!
Cara Sandra,
Pelo andar da carruagem, pode ter muito vagabundo que ainda vai parar na cadeia. Condenado pela Justiça brasileira e/ou pelo Tribunal Penal Internacional de Haia. Quanto às eleições, fraudulentas para quem, cara pálida? Na dúvida, confira: https://opinioes.folha1.com.br/2021/05/22/bolsonarismo-no-voto-impresso-sob-analise/
Grato pela chance da lembrança!
Aluysio
Excelente matéria, Caro Aluysio! Parabéns!!! Continue assim.
Caro Edmar Carlos da Cruz,
Obrigado pela leitura, generosidade e retorno.
Abç!
Aluysio
Aluísio, vão fechar os olhos para verdade? Mostre um ato de corrupção no Governo do Excelentíssimo Senhor Presidente da República Jair Messias Bolsonaro que não está isento de vir a tê-lo porque o Presidente não é onipresente para ver tudo, porém ele não coaduna como governos anteriores e não passará a mão na cabeça de quem vier a cometer, tanto que colocou Polícia Federal e demais órgãos fiscalizadores para investigar essa (trecho excluído pela moderação).
Com o voto auditável com certeza será reeleito no primeiro turno e muitos da Câmara, Senado, STF, governos estaduais e municipais irão acompanhar Lula que voltará para prisão de onde nunca poderia ter saído.
Caro Genildo Siqueira,
Nas palavras do liberal Ricardo Rangel: “Se, a esta altura, você ainda defende, releva ou passa pano para Jair Bolsonaro, você não é cego. Você é cúmplice”. É o mesmo liberal e crítico ao PT que já antecipou o próximo escândalo de corrupção do governo Bolsonaro, relacionado a outro desvio de bilhões do dinheiro público para a compra tardia e para lá de suspeita de imunizante:
“1. Vacina da qual ninguém nunca ouviu falar.
2. Vacina mais cara de todas.
3. Empresa intermediária brasileira.
4. Empresa Intermediária investigada pela Polícia Federal.
5. Empresário próximo da família Bolsonaro.
Covaxin?
Não, CanSino. Mas pode chamar de Covaxin II.
Carta de intenção no valor de 5 bilhões, mais de 3 vezes mais do que a Covaxin, assinada este mês (!).
Em breve em uma TV Senado perto de você.
O assunto corrupção no governo Bolsonaro não vai sair da pauta nem tão cedo.
Nem o assunto impeachment”.
Grato pela chance de tentar abrir seus olhos!
Aluysio
A justiça nesse país, tem dois pessoa e duas medidas. Um depoimento em uma CPI, vale para incrimina, ou até mesmo prender, mas um depoimento em uma delação premiada não serve prender um corrupto.
E o país onde o crime compensa. As empresas e empresários, citadas na lava jato devolveram dinheiro para o governo, reconhecendo o seu crime. E o corrupto que participou do roubo é inocente!!
Não errarei de novo
Cara Patrica Bessa,
Você representa os mais de 40 milhões de brasileiros que definirão 2022 com as lições aprendidas em 2018.
Grato pela participação!
Aluysio
Parabéns pelo belo texto, Aluísio!
Dar gosto ler os seus artigos,você escreve muito bem.
Você sabe como poucos que em se tratando de política as opiniões se divergem,cada um tem a sua posição.
As próximas eleições para presidente,as urnas dirão a verdade,inclusive corrigindo,quem sabe,possíveis equívocos do passado.
Podemos observar que os desenhos já começam a ser traçados.
Eu posso garantir que não errarei mais uma vez.
Voltando a beleza do texto,repito:
É ótimo ler os seus artigos,você é inspiração.
Caro Didimo Ribeiro Gomes,
Grato pela leitura, retorno e generosidade. E, sim, enquanto país, não podemos mais errar de maneira tão lamentável.
Abç e obrigado por sua participação!
Aluysio
A Sandra pode ser daqueles acreditam em todas as acusações que fazem contra seus adversários, mas pode ver seu mito GENOCIDA estrangulando um bebê que ela irá ver ele descascando uma laranja. Para ela o Flávio chocolate comprou a mansão de 6 milhões com o 13º e o porquinho de louça que quebrou.
Trinta anos de corrupção e você acredita que depoimentos sem provas numa CPI comandada por bandidos com inúmeros processos acumulados no STF vão atingir o presidente e transformá-lo em um governante corrupto. Mais ainda pior é a luta para que o voto não seja auditavel. De que teem medo, se o voto continuará eletrônico? Só terá um comprovante a mais, o que dará mais segurança. O problema é que muitos sentem saudade dos tempos dos desvios, dos verdadeiros genocidas, que deixaram o país sem nenhuma infraestrutura. Sobre esses não vejo nenhuma reportagem.
Caro Leonardo Souza Costa,
Tomo a liberdade de repetir o conselho que já dei na postagem anterior a outro negacionista:
“Tente ir além das fake news e do negacionismo das bolhas bolsonaristas. Certos da derrota de Bolsonaro para Lula no voto, militares e empresários já arquitetam o impeachment como a melhor opção: https://congressoemfoco.uol.com.br/opiniao/colunas/militares-empresarios-e-politicos-conspiram-para-tirar-bolsonaro-das-eleicoes/
Grato pela chance de expandir sua leitura!
Aluysio”
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