Marquinho Bacellar fala como presidente da Câmara

 

Por Aluysio Abreu Barbosa, Arnaldo Neto, Cláudio Nogueira e Matheus Berriel

 

Eleito presidente da Câmara Municipal de Campos no pleito anulado pela atual Mesa Diretora, Marquinho Bacellar (SD) espera que a Justiça ou o prazo máximo da eleição até dezembro confirme o resultado de 15 de fevereiro. Mas ciente de que sua maioria mínima de 13 vereadores caminha à ampliação, no caso da reeleição em outubro do irmão Rodrigo Bacellar (PL) e de Cláudio Castro (PL), respectivamente, a deputado estadual e a governador. Em entrevista no início da manhã de ontem (17) ao Folha no Ar, Marquinho falou do seu nome como de consenso na oposição, defendeu o voto do edil Maicon Cruz (PSC) que definiu sua vitória, revelou nomes de colegas que podem ampliar sua vantagem, das defecções governistas e seus motivos, da ameaça aos mandatos oposicionistas, do ex-governador Anthony Garotinho (União), do trabalho estadual de Castro e Rodrigo por Campos, do prefeito Wladimir Garotinho (sem partido), da queixa-crime contra o atual presidente Fábio Ribeiro (PSD), da redução do remanejamento do Executivo no Orçamento municipal e voltou a negar qualquer acordo para a eleição da Mesa Diretora.

 

Marquinho Bacellar no microfone da Folha FM 98,3 (Foto: Genilson Pessanha/Folha da Manhã)

 

Nome de consenso da oposição – Meu nome não era apresentado como presidente. A gente tinha dois nomes no grupo: Helinho Nahim (PTC), sempre imaginando que o governo iria antecipar essa eleição, pela história de vida que ele tem com o grupo, ele já imaginava isso. E tinha o nome de Nildo Cardoso (União), por toda a experiência. Foi decidido realmente no dia da votação que teria que ser o meu nome, para unificar o grupo. Houve resistência da minha parte, da parte do meu irmão, do meu pai, porque realmente, num primeiro mandato, eu, particularmente, considero que precisava de uma bagagem maior para o posto de presidente. Mas, vendo a incapacidade administrativa e de grupo do atual presidente, vendo o quadro de ter que ter um nome para unificar o grupo, para gente não ter um grupo dividido, me coloquei à disposição. Como todos sabem, sou filho de Marcos Bacellar. Não sou omisso, não fujo de uma briga. Graças a Deus, conseguimos articular bem, em cima da hora, e conseguimos vencer a eleição. Como todos puderam ver, foi declarada a minha vitória. Infelizmente, essa eleição está por conta do Judiciário. Acredito que a eleição para presidente está decidida.

Após assumir compromisso com governo, Maicon define vitória da oposição – Se durante a plenária, com todos assistindo, a imprensa toda, quase foi agredido pelo vice-presidente da Casa (vereador Juninho Virgílio, União), imagina dentro de uma sala trancada. Se ele diz “não vou votar”, o que aconteceria ali dentro? Se, em vídeo, está comprovado que houve uma tentativa de agressão física, houve agressão verbal. Então, eu realmente não sei o que se passou lá dentro. Não julgo o Maicon por isso, tanto que posso conversar com ele e, hoje, já falei várias vezes para ele que foi corajoso demais ao tomar a atitude que tomou. É muito difícil você sair de baixo de um cabresto de Garotinho.

Após Maicon e Dandinho (Rio Preto, PSD) quem é o 15º vereador da oposição? – Para a mídia, não parece, mas o nosso 15º vereador é Marcione (da Farmácia, União): apoia Rodrigo Bacellar para deputado estadual e está na base do prefeito. A gente tem Silvinho (Martins, MDB), que foi eleito no grupo de Rodrigo e também está na base do governo. Então, se a gente for avaliar em questão de apoio a Rodrigo, não são nem 14 no grupo. Abdu tem um candidato dele (a deputado estadual), Bruninho (Vianna, PSD) é pré-candidato a deputado estadual e está no grupo. Mas, no contexto geral, 15º para a oposição ainda não tem. O Dandinho, a conversa dele foi exclusiva de apoio ao Rodrigo. Foi uma conversa que eles tiveram. Na Câmara, o 15º depende da incompetência ou da má gestão de Wladimir. Se ele continuar com projetos complicados para a população, que desgastam o vereador e prejudicam a população, ele vai desgastar a base do governo. Ninguém vem para outro grupo política se não tiver insatisfeito. Eu comecei o meu mandato sozinho na oposição. Fui aprendendo a falar. Fui o único que não votei em Fábio Ribeiro para presidente. E fui aprendendo no dia a dia. Lógico, com toda a história do meu pai, do meu irmão. Mas, hoje, a figura é Marquinho Bacellar, um cara que sempre foi de bastidor e aceitou o desafio de estar à frente. Devagar, no dia a dia, fui vendo: Abdu (Neme, Avante) muito experiente, insatisfeito; Nildo, muito experiente, insatisfeito.

Saída de Fred (Machado, Cidanania), Raphael (Thuin, PTB) e Bruno da base no projeto do Código Tributário – Ali (em maio de 2021), no aumento de imposto, foi algo que eu particularmente nunca vi daquela forma que foi feita. Mandar um chumaço de projeto de 500 folhas às 15h para a gente apresentar um voto às 17h deixou claro que nem a base do governo leu. “Toma e vota!”.  Digo hoje que, graças a Deus, com a experiência de Fred Machado, que já foi presidente daquela Casa, Thuin e Bruninho realmente eram mais próximos, conversaram e chegaram num entendimento de que, daquela forma, não ia passar. A gente conseguiu tirar de pauta na madrugada, foi até 3h da manhã. E a gente veio brigando com aquilo. Infelizmente, passou grande parte, mas alguma parte a gente conseguiu travar.

Wladimir disse: “Ou vai ou racha” – E rachou. Rachou e rachou muito. Por isso que eu digo: o prefeito não está tendo o poder de articulação que se esperava dele.

Ameaça de afastamento dos 13 vereadores de oposição – A questão do afastamento ou o nome que ele (Fábio Ribeiro) quer dar, eu entendo como cassação de mandato. Foi uma forma covarde. Como a gente costuma dizer, jogou fora da bola com os colegas ali. Todo mundo sabe a luta de cada colega que está ali. Político já é muito difamado na rua, mas a gente sabe o suor que a gente tem para chegar ali, a história política a gente tem que ter. Eu, particularmente, considero mais fácil a minha trajetória, por toda a história do meu pai, do meu irmão. Mas, eu sei o que me doei para estar ali. E há colegas ali que não têm uma família política como eu tenho. Então, por causa de uma divergência, de perder uma batalha política, você pedir a cassação de um mandato… O senhor não está pedindo um vereador; está afetando a família, o grupo e os eleitores desse vereador. Então, é algo que fugiu da bola. Graças, a Deus o Ministério Público e o juiz de Campos entenderam que não cabe cassação de vereador.

Eleição da Mesa Diretora – Fábio realmente se perdeu no meio dessa pressão de grupo político e de tomar atitudes erradas. Está por conta da Justiça do Rio, aguardando o parecer do Ministério Público do Rio também, para o juiz tomar a decisão. Mas, diferente do juiz de Campos, o parecer do juiz do Rio deu a entender, sim, que se for considerado que houve uma falta de atitude correta por parte do presidente, ele vai intervir e dizer que a eleição tem que ser mantida ou tem que ser refeita de imediato, ou, na pior das hipóteses, no final do ano. Eu confio muito na Justiça. Assim que o Ministério Público der o parecer deles, espero que seja favorável à gente e acredito que vai ser, eu acho que essa eleição vai ser colocada em pauta antes da eleição para deputado, governador e presidente. Assim espero. Pelo que o Judiciário diz, a gente também está confiante nisso.

“Puxadinho da Prefeitura” – o A gente já entende que a Câmara, usando o linguajar popular, é um puxadinho da Prefeitura. E acho que não pode ser assim. Você pode, sim, ter um presidente da base do prefeito. Mas, com limites. E ali não está tendo.

Papel de Garotinho – Em relação ao Garotinho, é lógico que tem que ser respeitada toda a história dele na política, onde ele chegou, mas eu considero que Garotinho hoje perdeu o tempo da política. Eu respeitava muito ele por articulação, por ter sempre um grupo à mão. Hoje, a gente não vê isso. Hoje, a gente não vê ele conseguindo interferir tanto no prefeito, que é filho dele. Eu vejo ele mais atrapalhar o Wladimir do que ajudar. E essa forma de falar. “Ah, Garotinho falou que alguém vai te trair”. Se a gente for botar ao pé da letra tudo o que Garotinho fala, o mundo acaba. Inventa cada coisa e faz os vídeos dele, algo mirabolante, de que sempre tem alguém perseguindo. Agora ele cismou que o Rodrigo está perseguindo ele. Se você olhar a agenda de Rodrigo, é insana. Eu não consigo falar com meu irmão. Então, o Rodrigo vai tirar tempo para perseguir Garotinho?

Castro e Rodrigo – O tamanho, hoje, que o Cláudio (Castro, PL) está trabalhando e Rodrigo está trabalhando, quanto mais Campos evoluir, independentemente do prefeito, é bom para a população e é bom para todo mundo. O que eles estão se desdobrando para ajudar a reconstruir nossa cidade, não está brincadeira. O que o governador vem fazendo por Campos, na minha curta passagem na política, eu não vi nenhum governador fazer. É lógico, o Cláudio é muito bom, mas quem está lá é o Rodrigo, um cara da cidade, um cara que tem um irmão vereador e que tem uma trajetória política toda construída aqui dentro. Então, é lógico que ele está puxando para Campos, está trazendo o que ele puder para ajudar Campos.

Briga de grupos? – “Ah, existe uma briga política”. Eu não considero uma briga de grupos políticos em Campos, considero uma briga de vaidade do prefeito em não assumir que existem outros grupos políticos que podem ajudar Campos, se ele permitir. Você já imaginou se parasse essa picuinha do prefeito em atacar Rodrigo em rede social, atacar vereador de oposição? Ele vai inaugurar uma UBS dele e, em vez de falar das qualidades, vai bater em vereador de oposição. Então, todo momento que ele tem para unificar Câmara, Prefeitura e Governo do Estado, ele usa para piorar uma situação.

Elogio e críticas a Wladimir – Já pude falar em plenária e falei para o prefeito diretamente: quanto mais ele se afastar do pai, da mãe e da irmã, ele vai ter oportunidade. O pai e a mãe realmente têm mostrado um desgaste em rede social com ele, expondo briga familiar sem necessidade, vendo que seu filho está num turbilhão de problemas, precisaria de apoio e não de críticas familiares expostas ainda ao público. Então, se ele se afastar e se ele voltar a botar a carreira dele na linha, como estava em Brasília. Ainda dá tempo de fazer o nome dele na história. Ninguém pede para ele: “Ah, não sou mais filho de Garotinho”. Não! Constrói a sua história na política. Ele recebeu muitos elogios na passagem dele por Brasília, era assumido isso na rua: “Está mostrando um poder de articulação muito bom”. E quando ele venceu, eu vi esperança, achei que fosse fazer o nome dele, porque largou o mandato em Brasília para assumir um desafio grande, porque a Prefeitura realmente está numa dificuldade financeira muito grande. Achei que ele não fosse vir jogar o nome dele. Não votei nele, não apoiei. O grupo de Rodrigo escolheu (apoiar) ele. Fiquei na minha, fiquei em casa. Não apoiei nem o Caio nem ele, respeitando a maioria do grupo. E fui vendo, no dia a dia, que não está construindo a história. Está repetindo os erros do pai. Costumo falar para o meu pessoal: meu pai é o melhor pai do mundo, é lógico. Qualidades extremas, demais. Defeitos, tem, como todo mundo tem. Então, acho que o papel de todo filho é a evolução. Você pega o que o seu pai tem de bom, e o que ele errou, você vai tentando não errar. E eu vejo Wladimir cometendo os erros que o pai cometeu, e até de forma maior, nessa questão de perseguir, de não dar autonomia para o grupo. Se você for ver uma questão: vereadores que estavam na base do governo e hoje estão na oposição, sobem no plenário para falar toda sessão, coisa que não falavam dia nenhum. Então, você vê a liberdade, a tranquilidade de a pessoa subir e defender (o conserto de) uma lâmpada queimada, um buraco na rua, uma falta de médico, um transporte caótico. Coisa que, na base do governo, se você fizer você, vai ter retaliação. E é algo que você está fazendo não é para criticar Wladimir, mas para alertar o secretário.

Queixa-crime da oposição contra Fábio – Após a decisão da eleição, aquela confusão do vice-presidente tentar agredir Maicon, se encerrou a sessão naquele momento. Pude ir lá atrás, na sala do Fábio, e falei com ele: “Você perdeu uma batalha, não perdeu a guerra. Não se preocupe que não haverá perseguição de forma alguma no nosso mandato como presidente. Fique tranquilo para trabalhar de forma tranquila, você só perdeu uma batalha”. Ele muito me agradeceu, falou que ia botar a cabeça em ordem, que estava ainda atordoado do movimento precipitado que fez. Então, ali, no meu entender, eu já dei uma forma de abrir um diálogo com ele. O movimento antecipado dele não deu certo. E a gente procurou a delegacia porque o artigo 156 e o artigo 281 nos dão direito a falar na sessão. Se você pegar o regimento, se eu pedir artigo 156, eu tenho direito a falar; se eu pedir explicação pessoal, eu tenho direito a falar. E eu digo: como presidente, se um vereador quiser falar, ele não tem que usar o regimento. A Casa ali é para isso, é para debate. Se um vereador está lá e disser que quer falar, não cabe mais no regimento: dá a palavra ao vereador. O ele vai fazer? Se ele atacar de forma ilegal, se ele bater fora da bola, a gente vai encerrar. Mas, deixa o vereador falar. Ali é uma Casa para se debater, para se discutir, para se chegar numa solução. E ele vem retaliando a gente. A gente não podia falar. Desde a votação, a gente pediu uma palavra para explicar o que aconteceu, e não dava. De forma descarada: “Não vou dar”. Se a gente está ali com o regimento embaixo do braço e não está sendo respeitado, a gente ia fazer o que mais? Cruzar o braço e deixa-lo tocar a sessão da forma que ele quisesse, sem nos dar direito a falar e se defender? Então, a única solução de imediato que a gente buscou foi ir à delegacia. Por questão de abuso de poder, a gente não está podendo exercer a nossa função.

Mudança do Regimento Interno da Câmara – Já pude antecipar para os colegas, os 13, agora 14, e alguns veículos de imprensa também. Acho que um dos primeiros passos que a gente tem que ter ali dentro é a reformulação desse Regimento Interno, porque não pode um Regimento que tem que ser seguido à risca ter várias interpretações. Realmente, se você ler o regimento de forma branda, sem puxar para lado nenhum, você chega no entendimento do regimento. Mas, quando você está mal-intencionado a puxar para um lado ou puxar para o outro, você consegue ali dentro achar caminhos que possam levar para onde você quer. E eu acho que o regimento não pode ser assim, a constituição tem que ser taxativa. É assim, é assim, não é assim. Como todos sabem, o que ele usou do regimento foi de que Nildo não votou. Nildo tinha uma chapa apresentada. Ele abre a votação, apresenta a chapa dele. Nildo levanta no púlpito da plenária e diz: “Estou retirando a minha chapa, estou apresentando a chapa de Marquinho Bacellar e peço aos colegas que entrem comigo na chapa”. Deu-se a entender a todo mundo que assistia à sessão, ao primeiro-secretário Leon (Gomes, PDT), ao presidente Fábio, que Nildo antecipou o voto dele na minha chapa. Feito assim, Leon não fez a chamada nominal de Nildo. Isso ninguém nega, está num vídeo no YouTube. Então, dá-se a entender que, por má fé, por eu (Fábio) ter perdido, vou usar isso aqui do regimento e vou embargar essa eleição. Agora, se eu for seguir o regimento ao meu favor, eu consigo também. Nildo antecipou, o voto dele está gravado em vídeo. Se existe dúvida, pergunta ao Nildo qual é o seu voto. A maioria no plenário decide, vamos botar para o plenário decidir.

Remanejamento do Orçamento de 30% para 5% ao prefeito – Mesmo com 30%, se a gente for ver no quadro geral, a cidade demonstra total abandono. Eu estava vendo uns tópicos: UBS fechada, hospital sem pediatra, esgoto a céu aberto em Travessão, criança sem merenda, Vila Olímpica do Jóquei abandonada. A gente vê que não é questão de remanejamento que vai melhorar a nossa cidade. Eu acho que a questão do remanejamento de 30% dá muita autonomia a ele para tomar atitudes sem precisar da Câmara. E eu acho que quanto mais um prefeito precisar da Câmara, é melhor para a população. Se fossem 50%, 100%, a cidade permaneceria a mesma coisa. Então, não é desculpa dele falar assim: “Ah, a oposição quer em 5% para me amarrar”. Nós estamos tendo várias conversas entre os vereadores, o jurídico dos vereadores, figuras importantes da nossa cidade com experiência política, e estamos tentando chegar num consenso do que seria melhor de remanejamento, visto que o servidor está sem reajuste há sete anos e você vê o descaso do prefeito com o sindicato mais uma vez entrando em greve. Ele tem que mandar para a Casa, sim, onde ele vai gastar, e a gente tem que aprovar. O nosso papel ali é esse: propor projetos bons para a população e fiscalizar o prefeito.

Acordo para a Mesa Diretora? – Eu acho que não pode haver acordo na Mesa Diretora, porque a nossa chapa está montada. Com qualquer acordo ali, você vai descumprir uma palavra com os vereadores que vêm com a gente ali, lutando no dia a dia, que aceitaram o desafio de acreditar na independência deles ali dentro. Então, eu acho que não tem acordo. Para a população, não seria interessante um acordo, porque talvez o medo deles (do governo) é ter uma Câmara realmente independente. E em qualquer cidade, em qualquer parlamento, a Câmara tem que ser independente. Isso é bom para a população, é a única forma de a população ser protegida se o prefeito cometer algum excesso.

 

Página 2 da edição de hoje da Folha da Manhã

 

Confira abaixo, em quatro blocos, a íntegra da entrevista do vereador de oposição Marquinho Bacellar ao Folha no Ar de ontem (17):

 

 

 

 

 

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