Lula sai na frente no segundo turno contra Bolsonaro

 

(Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

Na disputa do 2º turno de 30 de outubro, daqui a 22 dias, todas as pesquisas desta semana apontaram que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) continua à frente na disputa com o presidente Jair Bolsonaro (PL). Mas, tomado por base o contraste com as urnas do 1º turno, todas as pesquisas sérias acertaram a liderança e a votação de Lula nas urnas de domingo (2), onde teve 48,43% dos votos válidos. Mas todas as também subestimaram, fora da margem de erro, a votação do presidente Jair Bolsonaro (PL). Embora tenham acertado seu 2º lugar, foi abaixo dos 43,20% dos votos válidos que ele teve.

Luciano D’Ângelo, matemárico e petista histórico de Campos

EXPLICAÇÕES NÃO CONVENCEM PETISTA — Segundo os diretores dos institutos, até pela possibilidade apontada de Lula vencer no 1º turno, o que não conseguiu por apenas 1,47%, Bolsonaro recebeu nas últimas 24h o “voto útil” de parte dos eleitores antilulistas do ex-ministro Ciro Gomes (PDT), da senadora Simone Tebet (MDB) e dos indecisos, gerando a diferença da urna para as pesquisas. Se a explicação tem base lógica, ela não convenceu os bolsonaristas. Até porque muitos afirmavam que seu candidato não só estaria na frente na corrida, como a venceria já no 1º turno. Mas também não convenceu lulistas: “Até agora não ouvi uma explicação convincente para o erro nos votos de Bolsonaro pelas pesquisas”, advertiu o matemático, professor, ex-diretor da antiga Escola Técnica Federal de Campos (atual IFF) e petista histórico de Campos, Luciano D’Ângelo.

Geraldo Goutinho, industrial e ex-presidente do PSDB em Campos

ANÁLISE DO TUCANO — “Nunca fiz coro com aqueles que questionam a seriedade dos institutos de pesquisa. Contudo, não há como negar, estamos diante de uma situação até agora não explicada. Os institutos precisam reconhecer o descolamento de resultados e, assumindo os equívocos, mostrar a todos porque devemos voltar a enxergar as pesquisas como retrato fidedigno de um momento. Isso não aconteceu, as fotos foram mal reveladas. Explicar os números de Bolsonaro pela migração de ‘votos úteis’ não esgota a questão. Há muito a ser explicado sobre os pontos cegos das pesquisas e até do comportamento do eleitor. Este pleito será estudado para se encontrar novos parâmetros a orientar pesquisas futuras”, disse o industrial Geraldo Hayen Coutinho, proprietário da Usina Paraíso, presidente do Sindicato da Indústria Sucroenergética do Estado do Rio de Janeiro (Siserj) e ex-presidente do PSDB em Campos. Ele declarou voto no programa Folha no Ar, de 25 de agosto, a Ciro no 1º turno e a Bolsonaro, no 2º turno contra Lula que as pesquisas já projetavam.

William Passos, geógrafo com especialização doutoral em Estatística no IBGE

ANÁLISE DO ESTATÍSTICO — “Importante destacar que o bolsonarismo tem um padrão particular de comportamento eleitoral, que vai ficando mais claro à medida que o tempo vai passando. Continuamente, esse segmento mobiliza uma campanha cibernética dirigida a um público-alvo bem definido, que ganha um impulso bastante agressivo na reta final das eleições com o objetivo de ‘virar’ o voto dos eleitores, especialmente aqueles ainda em dúvida ou que poderiam votar em branco, anular o voto ou mesmo não comparecer ao pleito. É este movimento que ajuda a explicar a ‘virada’ favorável a Bolsonaro que os institutos de pesquisa não conseguiram dimensionar”, explicou o geógrafo William Passos, com especialização doutoral em Estatística do Setor Público, da População e do Território na Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence) do IBGE.

PESQUISAS DO 2º TURNO — Sob questionamentos, as principais pesquisas ao 2º turno começaram a ser divulgadas com a Ipec (antigo Ibope) de quarta (5). Encomendada pela Globo, foi feita de segunda (3) à própria quarta e ouviu presencialmente 2.000 eleitores. Na quinta (6), vieram mais duas pesquisas: a do instituto Quaest Pesquisa e Consultoria, contratada pelo banco Genial, que também ouviu 2.000 eleitores presencialmente, também de segunda a quarta; e a PoderData, feita com recursos próprios do site Poder360, também de segunda a quarta, mas que ouviu por telefone 3.500 eleitores por telefone. Quarta pesquisa da semana, a Datafolha foi contratada pela Globo e Folha de S.Paulo. Divulgada no início da noite de ontem (7) e feita de quarta à própria sexta, ouviu presencialmente 2.884 eleitores.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

LULA SAI NA FRENTE — Na projeção dos votos válidos ao 2º turno, Lula ficou com 55% a 45% de Bolsonaro na Ipec (10 pontos de vantagem), 54% a 46% na Quaest (8 pontos), 52% a 48% na PoderData (4 pontos) e 53% a 47% na Datafolha (6 pontos). O petista lidera fora da margem de 2 pontos para mais ou menos da Ipec, Quaest e Datafolha, assim como na de 1,8 ponto da PoderData.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

OBJETO DE DESEJO — Sem descontar os indecisos, os que dizem que votarão em branco, nulo ou não votarão, estes revelam o eleitor a ser disputado renhidamente pelas duas candidaturas nos próximos 22 dias. Somados, são 10% na Ipec, 11% na Quaest, 8% na PoderData e na Datafolha. Estes são os eleitores, diante da pouca chance de mudar os que já declaram voto em Lula e Bolsonaro, que poderão definir quem será o presidente da República a partir de 2023.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

REJEIÇÃO — Índice considerado fundamental à definição do 2º turno, a rejeição segue liderada por Bolsonaro, também fora da margem de erro. Entre os brasileiros que não votariam em um dos dois candidatos a presidente de maneira nenhuma, o capitão tem 50% contra 40% de Lula (10 pontos a mais) na Ipec, 50% a 41% na Quaest (9 pontos), e 51% a 46% na Datafolha. A PoderData desta semana não divulgou rejeição. Quem nela tem mais de 50%, não pode matematicamente vencer uma eleição em dois turnos.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

JUROS DO ERRO COM BOLSONARO — No entanto, nas pesquisas anteriores de cada instituto, todas acertaram a votação de Lula no 1º turno, mas erraram a de Bolsonaro. Este saiu da urna com 6,2 pontos a mais do que as intenções de voto que tinha na Ipec, 5,2 pontos a mais do que tinha na Quaest e PoderData, e 7,2 a mais do que tinha na Datafolha. Caso estes mesmos erros se repetissem nas pesquisas desta semana, o capitão hoje teria ao 2º turno 51,2% de intenções de votos válidos na Ipec e na Quaest, 53,2% na PoderData e 54,2% na Datafolha. Continuaria numericamente atrás de Lula na Ipec e Quaest, mas passaria à frente na PoderData e Datafolha, em empate técnico nas quatro.

George Gomes Coutinho, cientista político e professor da UFF-Campos

ANÁLISE DO CIENTISTA POLÍTICO — “Fundamental continuar acompanhando as pesquisas feitas pelos institutos sérios. Mas apontando aí para o risco de que, no clima do negacionismo e da postura anticientífica, parte do eleitorado de Bolsonaro decidiu até fazer boicote aos entrevistadores, o que pode causar problemas nas amostras. A despeito disso, as pesquisas seguem ‘termômetros’ para medir a temperatura da disputa daqui até as urnas. Os primeiros dias deste interregno do 1º ao 2º turno estão sendo pautados pela guerra cultural: maçonaria, satanismo, etc. Este contexto de guerra cultural, que mobiliza mais elementos irracionais e afetivos do que cálculos racionais, aumenta a imprevisibilidade do resultado final da disputa. Não é uma eleição normal e nem sei se as futuras serão”, advertiu o cientista político George Gomes Coutinho, professor da UFF-Campos.

 

Página 2 da edição de hoje da Folha

 

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