Quaest com filtro: Lula 53% x 47% Bolsonaro nos votos válidos

 

(Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

Pesquisa Quaest, contratada pelo Banco Genial, voltou a mostrar a liderança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na corrida ao 2º turno de 30 de outubro, daqui a exatos 17 dias. Ele tem 53% dos votos válidos, contra 47% do presidente Jair Bolsonaro, 6 pontos atrás. Os números foram obtidos através do modelo “likely voter”, para identificar os eleitores com maior probabilidade de votar. É a primeira iniciativa dos institutos de pesquisa para tentar corrigir os erros na projeção da votação de Bolsonaro nas urnas de 2 de outubro, a despeito do acerto quase exato na votação de Lula. Em 1º de outubro, véspera do 1º turno, a Quaest deu 49% dos votos válidos ao petista, que teve 48,43%. Mas aquela pesquisa também deu 38% ao capitão, que teve 43,20% dos votos válidos, 5,2 pontos a mais do que o projetado.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

INTENÇÕES DE VOTO COM FILTRO DE QUEM VAI VOTAR — Feita de segunda (10) a quarta (12) e divulgada hoje, com 2.000 eleitores ouvidos presencialmente e margem de erro de 2 pontos para mais ou menos, a pesquisa com o novo filtro é responsável por Lula ter oscilado 1 ponto para baixo nos votos válidos, dos 54% na pesquisa de 6 de outubro aos 53% de hoje. Assim como Bolsonaro, no mesmo período de sete dias, oscilou também 1 ponto, só que para cima: de 46% a 47%. Sem o “likely voter”, onde a certeza de votar conta sobre as intenções de voto, as tendências mudam. Na consulta estimulada, quem oscilou 1 ponto para cima foi o petista, de 47% a 49% na última semana, com o capitão 8 pontos atrás, estagnado em 41%.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

OS 9% QUE DEVEM DEFINIR A ELEIÇÃO — A nova Quaest também revelou que o voto para 30 de outubro não vai mudar para 92% dos brasileiros, número que sobe a 93% entre os eleitores de Lula e a 94% nos de Bolsonaro. Os dois candidatos disputam os 9% do eleitorado que devem definir o pleito. São 0s 8% que dizem poder mudar de voto caso algo aconteça, mais o 1% que não sabe ou não respondeu.

 

(infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

REJEIÇÃO — Considerada fundamental à definição de qualquer eleição de 2º turno, a rejeição segue liderada por Bolsonaro. Hoje, 50% dos brasileiros não votariam nele de maneira nenhuma, contra 42% de Lula, 8 pontos abaixo no índice negativo. O petista tem outros 45% os que o conhecem e nele votarão, enquanto 10% conhecem e poderiam votar. Abaixo nos dois índices positivos, o capitão tem 37% dos brasileiros que o conhecem e votarão em sua reeleição, com 9% que conhecem e poderiam votar.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

William Passos, geógrafo com especialização doutoral em Estatística no IBGE

ANÁLISE DO ESPECIALISTA — “A segunda Quaest deste 2º turno aponta estabilidade em relação à pesquisa da última quinta (6), com poucos números se movimentando. Na simulação estimulada, 76,7 milhões de eleitores hoje votariam em Lula no próximo dia 30: 49% do eleitorado. E 64,1 milhões dos brasileiros prefeririam Bolsonaro, 41% do total. Para 143,9 milhões de eleitores, 92% do total, o voto já está decidido e não sofrerá alteração até a urna. Há, portanto, apenas 12,5 milhões de eleitores em disputa pelos dois candidatos, ou 8% do eleitorado. A simulação baseada no modelo “likely voter” identifica os brasileiros com maior probabilidade de votar no 2º turno, minimizando a abstenção, cujas dificuldades de medição, em algumas eleições, distancia o resultado das pesquisas da apuração final do TSE. Com base nisso, a Quaest calculou 53% dos votos válidos a Lula e 47% a Bolsonaro. Sempre importante recordar que pesquisas eleitorais são só a fotografia de um momento, sem a pretensão de adivinhar o resultado final ou capacidade metodológica de dimensionar o ganho eleitoral dos candidatos nas últimas 48 horas antes da urna”, advertiu o geógrafo William Passos, com especialização doutoral em Estatística do Setor Público, da População e do Território na Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence) do IBGE.

 

Deputado federal eleito, Lindbergh no Folha no Ar desta 6ª

 

(Arte: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Deputado federal eleito com a maior votação do PT no RJ, ex-senador e vereador carioca em exercício, Lindbergh Farias é o convidado para fechar a semana do Folha no Ar nesta sexta, ao vivo a partir das 7h10 da manhã, na Folha FM 98,3. Ele analisará as eleições fluminenses a deputados, senador e governador.

Por fim, Lindbergh falará do novo Congresso mais conservador eleito em 2 de outubro que integrará em 2023. E projetará o 2º turno de 30 de outubro entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL).

Quem quiser participar ao vivo do Folha no Ar desta sexta pode fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, na página da Folha FM 98,3 no Facebook.

 

Lula e Bolsonaro: Campos, Brasil, playboy e motoboy

 

(Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

A presidente na região e Brasil

Em Campos, o presidente Jair Bolsonaro (PL) ampliou sua votação entre o 1º turno de 2018 e 2022: de 55,19% a 58,01% dos votos válidos. No Norte e Noroeste Fluminense, no entanto, ele diminuiu sua votação nos últimos quatro anos: de 57,45% a 52,79%. Mas, se dependesse das duas regiões fluminenses, o capitão teria sido reeleito em 2 de outubro. Como o Brasil não se resume a elas, quem quase se elegeu no 1º turno foi o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que teve 48,43% dos votos. Ficou a apenas 1,47% mais 1 voto de fechar a fatura em turno único. E, daqui a 18 dias, disputará o 2º turno contra Bolsonaro, que sai de 43,20%.

 

Decepção lulista e bolsonarista

No Norte e Noroeste Fluminense, onde Bolsonaro foi mais votado foi em São Francisco de Itabapoana: 61,84%. Nas duas regiões, Lula ficou na frente em sete municípios. E venceria em turno único em quatro: Laje do Muriaé (57,73%), Porciúncula (52,20%), Miracema (51,30%), Quissamã (50,53%). Do regional ao nacional, as urnas de 2 de outubro trouxeram frustações aos eleitores de Lula e Bolsonaro. Aos do petista, por ele não ter vencido no 1º turno, possibilidade indicada nas cinco pesquisas da véspera. Aos do capitão que nele creem, pelo mesmo motivo. Ele afirmava que venceria com os 60% que nunca teve em nenhuma pesquisa.

 

Pesquisas no 1º turno: erros e acertos

Se já eram questionadas pelos bolsonaristas, por mostrarem a liderança de Lula durante todo o ano e a possibilidade de ele levar em turno único, as pesquisas passaram a sofrer mais críticas após subestimaram a votação do capitão no 1º turno. No contraste com os 43,20% que teve das urnas de 2 de outubro, Bolsonaro teve sua votação subestimada na véspera. Em 35% na Ipespe (8,2 pontos abaixo), 36% na Datafolha (7,2 pontos), 37% na Ipec (6,2 pontos), 38% na Quaest (5,2 pontos) e 40% (3,2 pontos) na MDA. Mas três delas acertaram os 48,43% de Lula quase exatamente: a Quaest e a MDA lhe deram 48%, enquanto a Ipespe lhe deu 49%.

 

Lula lidera na Ipec

Na margem de erro de 2 pontos, a Datafolha também acertou a votação de Lula no 1º turno, ao projetá-la em 50%. Por sua vez, a Ipec deu-lhe 51%, errando em 0,57 ponto fora da margem de erro. Correndo atrás dos seus erros, foi da Ipec a primeira pesquisa desta semana, segunda do instituto na corrida a 30 de outubro. Até aqui, é a quem vem dando maior vantagem de Lula para Bolsonaro neste 2º turno. Feita de sábado (8) a segunda (10) e encomendada pela Globo, ouviu 2.000 eleitores presencialmente. E deu ao petista 55% dos votos válidos, contra 45% do capitão. Como são os mesmos números da Ipec de 5 de outubro, indicou estabilidade.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Lula lidera?

A vantagem de 10 pontos na Ipec ao 2º turno para Lula, se repetidos os erros do 1º turno 0,57 ponto para cima a ele, e de 6,2 pontos para baixo a Bolsonaro, afunilariam a disputa do 2º turno em 3 pontos, empate técnico na margem de erro. Do que a pesquisa mostrou, outro dado também preocupa o petista. Fundamental à definição do 2º turno, a rejeição mostra uma aproximação. Nos últimos cinco dias, Bolsonaro reduziu de 50% a 48% os brasileiros que não votariam nele de maneira nenhuma, enquanto Lula subiu de 40% a 42%. A diferença é de 6 pontos, a apenas 2 do empate técnico. Se a rejeição se igualar, qualquer resultado é possível.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Disputa na Ipespe

Segunda pesquisa da semana e primeira do instituto ao 2º turno, a Ipespe foi divulgada ontem (11). Foi feita também entre sábado e segunda, mas entre 1.110 eleitores ouvidos por telefone. Com margem de erro de 3 pontos, ela também deu a liderança de Lula, com 54% dos votos válidos, contra 46% de Bolsonaro. A diferença de 8 pontos, se repetido o erro de 8,2 pontos para baixo com o capitão no 1º turno, a despeito do acerto com o petista, significaria hoje nenhuma diferença. Na rejeição, a diferença entre os dois é um empate técnico de 4 pontos: 49% não votariam de maneira nenhuma em Bolsonaro, contra 45% de Lula.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Lula lidera no Sudeste?

Tão fundamental quanto a rejeição, o que definirá o 2º turno presidencial será a votação da região Sudeste, que concentra 42,6% do eleitorado do país. No 1º turno, Bolsonaro ficou na frente, com 47,6% dos votos válidos, contra 42,6% de Lula. Mas a Ipec na segunda projetou que o petista teria virado: 48% contra 44% do capitão, com 6% de brancos e nulos, mais 2% que não souberam responder. O cientista político Antônio Carlos Almeida, professor da UFF e da FGV, e autor do livro “O Voto do Brasileiro” (2018), disparou do Twitter: “Está errado o resultado do Ipec para o Sudeste indicando Lula à frente de Bolsonaro”.

 

 

Bolsonarismo no Noroeste

Da região brasileira eleitoralmente mais importante de volta às regiões fluminenses, ontem viralizou nas redes sociais um vídeo de alunos do curso de medicina do campus Itaperuna da Universidade Iguaçu (Unig). Foi gravado na última sexta (7), quando eles participavam dos Jogos Universitários de Medicina (Intermed), em Vassouras. Onde os futuros médicos cantavam animadamente: “Ei, eu sou playboy. Não tenho culpa de seu pai é motoboy”. A Unig divulgou de repúdio à atitude discriminatória dos seus estudantes. No 1º turno presidencial de Itaperuna, município polo do Noroeste Fluminense, Bolsonaro teve 60,95% dos votos válidos.

 

 

Publicado hoje na Folha da Manhã

 

Deputada federal reeleita, Talíria no Folha no Ar desta 3ª

 

(Arte: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Deputada federal reeleita com a terceira maior votação do estado do Rio, Talíria Petrone (Psol) é a convidada do Folha no Ar desta terça (11), ao vivo a partir das 7h20 da manhã, na Folha FM 98,3. Ela analisará a eleição fluminense a deputados, senador, governador e o novo Congresso de maioria conservadora eleito pelo país em 2 de outubro.

Talíria também tentará projetar o 2º turno do próximo dia 30 ao Palácio do Planalto, entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL).

Quem quiser participar ao vivo do Folha no Ar desta terça pode fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, na página da Folha FM 98,3 no Facebook.

 

Debate presidencial entre “satanismo” e “maçonaria”

 

Canibalismo dos índios tupinambás no Brasil do séc. 16 retratado pelo belga Theodore de Dry

 

 

Entre “satanismo” e “maçonaria”, fome e carne humana com banana

 

Maior evento do século 20 e que ainda define estas primeiras décadas do século 21, a II Guerra Mundial (1939/1945) foi decidida na Europa em sua frente oriental, entre a Alemanha nazista de Adolf Hitler e a União Soviética comunista do Josef Stálin. Tão decantada pelos filmes de Hollywood, a invasão anfíbia dos Aliados ocidentais no Dia D, nas praias francesas da Normandia, foi evento coadjuvante das batalhas decisivas travadas em solo russo. Como as de Stalingrado e Kursk, maior enfrentamento de blindados da História. Até elas, os nazistas eram senhores invencíveis da Europa. Depois delas, o Exército Vermelho só parou em Berlim.

Se em todo o mundo, incluindo Ásia, África, Oceania e litoral das Américas, a II Guerra tirou cerca de 80 milhões de vidas humanas, a União Soviética perdeu, só ela, mais de 26 milhões. Que cobrou ao matar mais de 4,4 milhões de militares alemães, entre os cerca de 5,5 milhões que perderam a vida entre 1939 e 1945. O ateu Exército Vermelho encomendou a alma de 80% dos soldados mortos, em sua maioria cristãos luteranos e católicos romanos, sob o altar da suástica nazista. Todos os demais Aliados juntos deram cabo dos outros 20%. A contabilidade macabra não deixa dúvida quanto ao protagonismo da II Guerra. Ou ao caráter do conflito na frente oriental que a definiu: dos dois lados, foi uma guerra de extermínio.

O 2º turno da eleição presidencial do Brasil, em 30 de outubro, daqui a 22 dias, será disputado entre os dois vencedores do 1º turno do domingo: Lula e Bolsonaro. E por seus eleitores, não menos aguerridos que soldados alemães e soviéticos na II Guerra. Que, como nesta, tratam seus adversários pelos mesmos termos: “fascistas” e “comunistas”. No que parece ser também uma guerra de extermínio, com ódio visceral à simples existência do outro. Como provam os corpos dos petistas Marcelo Arruda, Rafael Silva Oliveira e Edmilson Freire da Silva, assim como dos bolsonaristas Hilder Henker e José Roberto Gomes, todos assassinados neste ano eleitoral por apoiarem o candidato a presidente oposto ao de quem os matou.

No mundo da razão, como o PL fez a maior bancada na Câmara Federal e o PT a segunda, respectivamente com 99 e 68 deputados, Bolsonaro e Lula seguirão protagonistas da vida política nacional, ganhem ou percam a eleição a presidente. Sobretudo o capitão, que elegeu no domingo nada menos que 20 aliados entre os 27 novos membros do Senado da República. Adicionados aos que lá já estão e continuarão por mais quatro anos, serão 41 senadores bolsonaristas, num total de 81, a partir de 2023. Que, não mais com bravatas na acefalia das redes sociais, mas como reza a Constituição, poderão passar pedidos de impeachment aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), emparedando-os.

Considerado o último dos três Poderes da República que ainda não foi cooptado pelo Executivo nos últimos quatro anos, após a compra do Legislativo com o “Orçamento Secreto”, o Judiciário em sua esfera máxima do STF terá os ministros Rosa Weber e Ricardo Lewandowski se aposentando em 2023. Caberá ao próximo presidente indicar seus sucessores. Se for Bolsonaro, ele já anunciou que proporá ao Congresso um projeto para criar mais quatro cadeiras do STF, das atuais 11 para 15, com o qual indicaria mais quatro ministros.

Com seus ministros Nunes Marques e André Mendonça, mais os substitutos de Weber e Lewandowski, e outros quatro numa já prometida ampliação, um Bolsonaro reeleito formaria a maioria no STF de oito ministros em 15. E redesenharia as tais “quatro linhas da Constituição” como quisesse. O Brasil se tornaria uma grande Hungria de Viktor Órban, pária hoje na União Europeia, ou a Venezuela de um Hugo Chávez de extrema-direita. Com esta, nossas semelhanças não param por aí. Pois já há uma PEC no Congresso que visa ampliar para 15 as cadeiras do STF. Foi proposta desde 2013, quando Dilma Rousseff (PT) ainda era “presidenta”, pela sua então aliada e deputada federal reeleita em 2022, Luiz Erundina (Psol/SP).

A guerra de extermínio político em que o Brasil está mergulhado desde 2014, quando Lula chamou o PSDB de “nazistas” em comício no Recife, no segundo turno que reelegeria Dilma, foi sendo escalada até 2022. Para além da ruptura institucional de Aécio Neves (PSDB), que há oito anos pediu recontagem de votos da sua derrota presidencial, seria elevada com o discurso golpista do bolsonarismo, a partir de 2018. E chegou ao presente com o capitão creditando a surra que levou do petista no Nordeste, nas urnas do 1º turno, ao… analfabetismo.

Hoje, o fato é que ninguém simboliza melhor os exterminados eleitorais do domingo do que o próprio PSDB. Após capitanear a estabilização econômica do país com o Plano Real, para dali ser o único partido a eleger e reeleger um presidente do Brasil em turno único, com Fernando Henrique Cardoso em 1994 e 1998, os tucanos agora choram a perda da sua última cidadela, o poderoso estado de São Paulo, que governavam há 28 anos.

Após não ir nem ao 2º turno, o governador morto-vivo Rodrigo Garcia, tucano só a partir de 2021, anunciou logo na terça (4) seu “apoio incondicional” à reeleição de Bolsonaro e ao ex-adversário Tarcísio de Freitas (Republicanos), mais votado no 1º turno e agora favorito ao Governo de São Paulo. E que disse não querer a presença do adversário convertido em apoiador em seu palanque contra o petista Fernando Haddad.

Humilhado incondicionalmente, Garcia foi também desautorizado pelo PSDB paulista, no racha do que restou do partido. Cujos velhos caciques nacionais, como FHC e o senador Tasso Jereissati, declararam apoio a Lula. Como os economistas Edmar Bacha, Persio Arida, Pedro Marlan e Armínio Fraga, pais do Real. Em contraponto, o apoio a Bolsonaro do governador reeleito de Minas, Romeu Zema (Novo), pode ter ainda mais peso no câmbio eleitoral.

Do que pode ser daqui a quatro domingos ao que já foi no último, o bolsonarismo exterminou em sua “guerra santa” neopentecostal o centro, a centro-direita e a direita democráticas do país. Cujos últimos remanescentes, como a senadora Simone Tebet (MDB), pularam para Lula também na certeza que só terão chance de sobrevivência sob um novo governo petista. Que, se acontecer, será muito mais ao centro do que delira a esquerda identitária, maior culpada pelo êxito da pauta de costumes do capitão. É a mesma patota festiva que, no estado do Rio, assistiu ao atropelamento previsível do seu dândi Marcelo Freixo (PSB), campeão de rejeição, pelo governador bolsonarista Cláudio Castro (PL), reeleito no 1º turno.

E, com o país de volta ao mapa da fome e o vídeo resgatado do capitão falando ao NYT de comer carne humana com banana, seguiremos os próximos 22 dias no diapasão do quinto dos infernos entre “satanismo” e “maçonaria”. Como, entre “comunistas” e “fascistas”, entraremos em 2023, independente do resultado das urnas de 30 de outubro de 2022. Enquanto o mundo teme outra guerra de extermínio de fato, desta vez com bombas nucleares, no mesmo palco decisório da II Guerra: contra a Ucrânia de Zelensky, pela Rússia de Putin. Para este, o 2º turno do Brasil tanto faz. Lula e Bolsonaro são seus aliados geopolíticos.

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.

 

Lula sai na frente no segundo turno contra Bolsonaro

 

(Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

Na disputa do 2º turno de 30 de outubro, daqui a 22 dias, todas as pesquisas desta semana apontaram que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) continua à frente na disputa com o presidente Jair Bolsonaro (PL). Mas, tomado por base o contraste com as urnas do 1º turno, todas as pesquisas sérias acertaram a liderança e a votação de Lula nas urnas de domingo (2), onde teve 48,43% dos votos válidos. Mas todas as também subestimaram, fora da margem de erro, a votação do presidente Jair Bolsonaro (PL). Embora tenham acertado seu 2º lugar, foi abaixo dos 43,20% dos votos válidos que ele teve.

Luciano D’Ângelo, matemárico e petista histórico de Campos

EXPLICAÇÕES NÃO CONVENCEM PETISTA — Segundo os diretores dos institutos, até pela possibilidade apontada de Lula vencer no 1º turno, o que não conseguiu por apenas 1,47%, Bolsonaro recebeu nas últimas 24h o “voto útil” de parte dos eleitores antilulistas do ex-ministro Ciro Gomes (PDT), da senadora Simone Tebet (MDB) e dos indecisos, gerando a diferença da urna para as pesquisas. Se a explicação tem base lógica, ela não convenceu os bolsonaristas. Até porque muitos afirmavam que seu candidato não só estaria na frente na corrida, como a venceria já no 1º turno. Mas também não convenceu lulistas: “Até agora não ouvi uma explicação convincente para o erro nos votos de Bolsonaro pelas pesquisas”, advertiu o matemático, professor, ex-diretor da antiga Escola Técnica Federal de Campos (atual IFF) e petista histórico de Campos, Luciano D’Ângelo.

Geraldo Goutinho, industrial e ex-presidente do PSDB em Campos

ANÁLISE DO TUCANO — “Nunca fiz coro com aqueles que questionam a seriedade dos institutos de pesquisa. Contudo, não há como negar, estamos diante de uma situação até agora não explicada. Os institutos precisam reconhecer o descolamento de resultados e, assumindo os equívocos, mostrar a todos porque devemos voltar a enxergar as pesquisas como retrato fidedigno de um momento. Isso não aconteceu, as fotos foram mal reveladas. Explicar os números de Bolsonaro pela migração de ‘votos úteis’ não esgota a questão. Há muito a ser explicado sobre os pontos cegos das pesquisas e até do comportamento do eleitor. Este pleito será estudado para se encontrar novos parâmetros a orientar pesquisas futuras”, disse o industrial Geraldo Hayen Coutinho, proprietário da Usina Paraíso, presidente do Sindicato da Indústria Sucroenergética do Estado do Rio de Janeiro (Siserj) e ex-presidente do PSDB em Campos. Ele declarou voto no programa Folha no Ar, de 25 de agosto, a Ciro no 1º turno e a Bolsonaro, no 2º turno contra Lula que as pesquisas já projetavam.

William Passos, geógrafo com especialização doutoral em Estatística no IBGE

ANÁLISE DO ESTATÍSTICO — “Importante destacar que o bolsonarismo tem um padrão particular de comportamento eleitoral, que vai ficando mais claro à medida que o tempo vai passando. Continuamente, esse segmento mobiliza uma campanha cibernética dirigida a um público-alvo bem definido, que ganha um impulso bastante agressivo na reta final das eleições com o objetivo de ‘virar’ o voto dos eleitores, especialmente aqueles ainda em dúvida ou que poderiam votar em branco, anular o voto ou mesmo não comparecer ao pleito. É este movimento que ajuda a explicar a ‘virada’ favorável a Bolsonaro que os institutos de pesquisa não conseguiram dimensionar”, explicou o geógrafo William Passos, com especialização doutoral em Estatística do Setor Público, da População e do Território na Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence) do IBGE.

PESQUISAS DO 2º TURNO — Sob questionamentos, as principais pesquisas ao 2º turno começaram a ser divulgadas com a Ipec (antigo Ibope) de quarta (5). Encomendada pela Globo, foi feita de segunda (3) à própria quarta e ouviu presencialmente 2.000 eleitores. Na quinta (6), vieram mais duas pesquisas: a do instituto Quaest Pesquisa e Consultoria, contratada pelo banco Genial, que também ouviu 2.000 eleitores presencialmente, também de segunda a quarta; e a PoderData, feita com recursos próprios do site Poder360, também de segunda a quarta, mas que ouviu por telefone 3.500 eleitores por telefone. Quarta pesquisa da semana, a Datafolha foi contratada pela Globo e Folha de S.Paulo. Divulgada no início da noite de ontem (7) e feita de quarta à própria sexta, ouviu presencialmente 2.884 eleitores.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

LULA SAI NA FRENTE — Na projeção dos votos válidos ao 2º turno, Lula ficou com 55% a 45% de Bolsonaro na Ipec (10 pontos de vantagem), 54% a 46% na Quaest (8 pontos), 52% a 48% na PoderData (4 pontos) e 53% a 47% na Datafolha (6 pontos). O petista lidera fora da margem de 2 pontos para mais ou menos da Ipec, Quaest e Datafolha, assim como na de 1,8 ponto da PoderData.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

OBJETO DE DESEJO — Sem descontar os indecisos, os que dizem que votarão em branco, nulo ou não votarão, estes revelam o eleitor a ser disputado renhidamente pelas duas candidaturas nos próximos 22 dias. Somados, são 10% na Ipec, 11% na Quaest, 8% na PoderData e na Datafolha. Estes são os eleitores, diante da pouca chance de mudar os que já declaram voto em Lula e Bolsonaro, que poderão definir quem será o presidente da República a partir de 2023.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

REJEIÇÃO — Índice considerado fundamental à definição do 2º turno, a rejeição segue liderada por Bolsonaro, também fora da margem de erro. Entre os brasileiros que não votariam em um dos dois candidatos a presidente de maneira nenhuma, o capitão tem 50% contra 40% de Lula (10 pontos a mais) na Ipec, 50% a 41% na Quaest (9 pontos), e 51% a 46% na Datafolha. A PoderData desta semana não divulgou rejeição. Quem nela tem mais de 50%, não pode matematicamente vencer uma eleição em dois turnos.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

JUROS DO ERRO COM BOLSONARO — No entanto, nas pesquisas anteriores de cada instituto, todas acertaram a votação de Lula no 1º turno, mas erraram a de Bolsonaro. Este saiu da urna com 6,2 pontos a mais do que as intenções de voto que tinha na Ipec, 5,2 pontos a mais do que tinha na Quaest e PoderData, e 7,2 a mais do que tinha na Datafolha. Caso estes mesmos erros se repetissem nas pesquisas desta semana, o capitão hoje teria ao 2º turno 51,2% de intenções de votos válidos na Ipec e na Quaest, 53,2% na PoderData e 54,2% na Datafolha. Continuaria numericamente atrás de Lula na Ipec e Quaest, mas passaria à frente na PoderData e Datafolha, em empate técnico nas quatro.

George Gomes Coutinho, cientista político e professor da UFF-Campos

ANÁLISE DO CIENTISTA POLÍTICO — “Fundamental continuar acompanhando as pesquisas feitas pelos institutos sérios. Mas apontando aí para o risco de que, no clima do negacionismo e da postura anticientífica, parte do eleitorado de Bolsonaro decidiu até fazer boicote aos entrevistadores, o que pode causar problemas nas amostras. A despeito disso, as pesquisas seguem ‘termômetros’ para medir a temperatura da disputa daqui até as urnas. Os primeiros dias deste interregno do 1º ao 2º turno estão sendo pautados pela guerra cultural: maçonaria, satanismo, etc. Este contexto de guerra cultural, que mobiliza mais elementos irracionais e afetivos do que cálculos racionais, aumenta a imprevisibilidade do resultado final da disputa. Não é uma eleição normal e nem sei se as futuras serão”, advertiu o cientista político George Gomes Coutinho, professor da UFF-Campos.

 

Página 2 da edição de hoje da Folha

 

Quaest: Lula 54% com dos votos válidos a 46% de Bolsonaro

 

(Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr)

Se fosse hoje, ainda a 24 dias das urnas do 2º turno de 30 de outubro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceria a eleição por 54% dos votos, contra 46% do presidente Jair Bolsonaro (PL), 8 pontos atrás. Índice considerado fudamental à definição do 2º turno, a rejeição segue liderada pelo capitão, em quem 50% dos brasileiros não votariam de maneira nenhuma, contra 41% do petista. É o retrato do presente feito pela nova pesquisa do instituto Quaest Pesquisa e Consultoria, contratada pelo banco Genial. Foi feita com 2.000 eleitores, de segunda (3) a quarta (5) e divulgada hoje, com margem de erro de 2 pontos para mais ou menos.

SOMA DO ERRO NO 1º TURNO COM BOLSONARO — No sábado (1º), véspera do 1º turno de domingo (2), a Genial/Quaest deu 49% dos votos válidos a Lula. E acertou de maneira quase exata os 48,43% que ele teve na urna. Mas aquela pesquisa também deu 38% dos votos válidos a Bolsonaro. E errou fora da margem de erro, dando 5,2 pontos abaixo dos 43,20% que ele teve na urna. Caso se repetissem o acerto do instituto com o petista e o erro com o capitão, este teria hoje 51% dos votos válidos, contra os 54% do adversário. O que configuraria um empate técnico na disputa.

OS 11% QUE PODEM DEFINIR A ELEIÇÃO — Fora dos votos válidos projetados pela Genial/Quaest ao 2º turno, as campanhas de Lula e Bolsonaro disputarão renhidamente os 11% ainda soltos do eleitorado: os 7% de indecisos, mais os 4% que disseram votar branco, nulo ou que não votarão. Virar as intenções de voto de um a outro candidato será muito difícil. O petista tem 92% dos seus eleitores declarando que seu voto é definitivo, percentual que cresce a 94% entre os eleitores do capitão.

William Passos, geógrafo com especialização doutoral em Estatística no IBGE

ANÁLISE DO ESPECIALISTA — “A primeira pesquisa Quaest deste 2º turno estima, neste momento, 75,1 milhões de eleitores para Lula no próximo dia 30, ou 48% do eleitorado, e 64,1 milhões para Bolsonaro, ou 41% do total. Deste universo, 69,1 milhões, ou 44% do eleitorado, não mudarão o voto em Lula até às urnas, enquanto 60,3 milhões, ou 39% do total, não mudarão o voto em Bolsonaro. De acordo com o instituto, neste momento, restam apenas 17,2 milhões de eleitores em disputa, ou 11% do eleitorado. Metade dos habilitados a votar, ou 78,2 milhões de brasileiros, rejeitam o atual presidente, enquanto 41% do eleitorado, ou 64,1 milhões de pessoas, não votam em Lula de jeito nenhum. A rejeição superior a 50% inviabiliza matematicamente a vitória eleitoral. Todos esses números têm margem de erro de 2 pontos para mais ou para menos. Pesquisas eleitorais são apenas a fotografia do momento e não conseguem dimensionar o ganho eleitoral dos candidatos nas últimas 48h antes da urna”, advertiu William Passos, geógrafo com especialização doutoral em Estatística do Setor Público, da População e do Território na Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence) do IBGE.

 

Questionamentos e respostas entre pesquisa e voto na urna

 

Todas as pesquisas eleitorais sérias, de institutos testados no contraste das urnas, projetaram a possibilidade de vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda no 1º tuno do último domingo (2). Que, como ele teve 48,43% dos votos válidos, não se cumpriu por apenas 1,47%. Mas as pesquisas também subdimensionaram, acima da margem de erro, a votação do presidente Jair Bolsonaro (PL). Que teve 43,20% dos votos válidos, enquanto a Datafolha de sábado (1º) lhe deu só 36% de intenções de voto (7,2 pontos a menos); e a Ipec (antigo Ibope) do mesmo dia, 37% (6,2 pontos a menos).

Desde segunda (3), os diretores dos principais institutos de pesquisa explicaram que a diferença entre as intenções de voto e os votos de Bolsonaro teria se dado pelo “voto útil” que ele teria herdado, nas 24h anteriores ao pleito, da desidratação do ex-ministro Ciro Gomes (PDT). Que, na reta final do 1º turno, foi alvo de uma agressiva campanha do PT — maior tiro pela culatra, até aqui, desta eleição presidencial. Mas a explicação basta? Aos bolsonaristas, que passaram o ano todo questionando a liderança de Lula nas pesquisas e confirmada nas urnas, provavelmente não.

Mas e quem baseia seus questionamentos e respostas pela lógica, não pela mera torcida eleitoral? Neste sentido, o blog ecoa duas análises. A primeira, do industrial Geraldo Hayen Coutinho, proprietário da Usina Paraíso, presidente do Sindicato da Indústria Sucroenergética do Estado do Rio de Janeiro (Siserj) e ex-presidente do PSDB em Campos. A segunda, do geógrafo William Passos, com especialização doutoral em Estatística do Setor Público, da População e do Território na Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence) do IBGE.

 

 

 

Geraldo Hayen Coutinho

Geraldo Coutinho — “Nunca fiz coro com aqueles que questionam a seriedade dos institutos de pesquisa. Também nunca pus em dúvida a validade científica dos métodos aplicados nas pesquisas. Contudo, não há como negar, estamos diante de uma situação até agora não explicada.

Os institutos precisam reconhecer o descolamento de resultados e as previsões publicadas e, assumindo os equívocos, mostrar a todos porque devemos voltar a enxergar as pesquisas como retrato fidedigno de um momento. Isso não aconteceu, as fotos foram mal reveladas.

Explicar os números de Bolsonaro pela migração de votos úteis não esgota a questão. Foram dezenas de projeções importantes que se afastaram muito dos resultados. E aqui não estou me apegando apenas aos números, mas também à ordem de chegada e a viradas surpreendentes, trazidas como impossíveis pelos levantamentos feitos.

Há muito a ser explorado, e explicado, sobre os pontos cegos das pesquisas e até de comportamento do eleitor. Este pleito será estudado em profundidade para se encontrar novos parâmetros a orientar pesquisas futuras. Não tivemos acesso a pesquisas de boca de urna, seria importante este fecho.

Precisaremos conhecer as primeiras pesquisas do segundo turno que, por regra, replicam o que houve no turno findo. Analisando os estratos dos eleitores talvez tenhamos algumas respostas de como se movimentou os votos entre projeção e realidade.

Por hora o que podemos observar é Lula bem à frente, portanto ainda franco favorito, entretanto passando ideia que está aplicando esforço para numa caminhada em aclive, enquanto Bolsonaro vem bem atrás, porém como se estive sendo ajudado por um declive que lhe facilita ganho de velocidade sem tanto esforço, está mais relaxado.

A única afirmação que podemos fazer, sem que possa suscitar quaisquer dúvidas, é a de que estas próximas semanas serão muito interessantes e movimentadas”.

 

William Passos

William Passos — “Os resultados das pesquisas não são prognósticos eleitorais, isto é, não antecipam os resultados das urnas, mas são ‘fotografias’ do momento das entrevistas aos eleitores. É por isso que os institutos enfatizam que seus resultados refletem o ‘se a eleição fosse hoje’. Importante ressaltar que, no Brasil, pesquisas eleitorais são pesquisas de opinião, isto é, apontam a preferências por candidatos, ou seja, a atitude dos eleitores.

Prognósticos, por outro lado, são antecipações sobre a probabilidade de cada candidato vencer a eleição, com base no seu provável desempenho nas urnas, ou seja, são o comportamento dos eleitores. Embora relacionados, atitudes são diferentes de comportamentos.

Modelos de prognósticos, além de não se basearem na pesquisa de um único instituto, recorrem a agregadores com as médias das pesquisas eleitorais de vários institutos, a provável precisão de cada resultado, o histórico do desempenho de cada empresa de pesquisa nas eleições anteriores e até mesmo variáveis do ambiente econômico e político que impactam na decisão do voto, como desemprego, inflação, avaliação do governo e expectativa de melhora de vida nos anos seguintes, atribuindo diferentes pesos, isto é, diferentes percentuais para cada resultado utilizado nos algoritmos que simularão os resultados finais destes modelos.

Assim, os resultados das pesquisas eleitorais precisam ser olhados ‘por dentro’, valorizando muito mais as curvas de tendência e as possibilidades matemáticas de alteração do resultado fotografado por cada instituto dos que os percentuais numéricos que costumam ser destacados. Até porque, como são feitos por amostragem, estas pesquisas, como sabido por quem as acompanha, têm margens de erro.

Como a preferência dos eleitores é dinâmica, ela pode ser alterada entre o dia da resposta ao entrevistador e o momento do depósito do voto na urna. Por isso, à medida que as eleições vão se aproximando, o olhar por dentro das pesquisas deve ser alterado. Até o início da semana da votação, a pesquisa estimulada, aquela em que os nomes de todos os candidatos são apresentados ao eleitor entrevistado, deve ser a mais valorizada, enquanto na semana da votação, a pesquisa espontânea, aquela em que o eleitor responde na ponta da língua, é o melhor indicador de aproximação da realidade. Isso combinada com o total dos eleitores que declararem que ainda poderão mudar o voto, dado que oferece a possibilidade matemática de alteração dos resultados apresentados por cada pesquisa.

Na Ipec, por exemplo, realizada de 29 de setembro a 01 de outubro de 2022, 33% dos eleitores entrevistados manifestaram intenção de voto no presidente Jair Bolsonaro na pesquisa espontânea, enquanto 15% declararam que a decisão do voto no momento da entrevista não era definitiva e poderia mudar até o momento do depósito nas urnas. Isso significa que, matematicamente, Bolsonaro poderia ir até 48%. Considerando a margem de erro máxima de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, num cenário extremo, o presidente poderia alcançar até 50% dos votos.

Importante destacar que o bolsonarismo tem um padrão particular de comportamento eleitoral, que vai ficando mais claro à medida que o tempo vai passando. Continuamente, este segmento mobiliza uma campanha cibernética dirigida a um público-alvo bem definido, que ganha um impulso bastante agressivo na reta final das eleições com o objetivo de ‘virar’ o voto dos eleitores, especialmente aqueles ainda em dúvida ou que poderiam votar em branco, anular o voto ou mesmo não comparecer ao pleito. É este movimento que ajuda a explicar a “virada” favorável a Bolsonaro que os institutos de pesquisa não conseguiram dimensionar, apesar de já terem identificado, na reta final, um crescimento da curva de intenção favorável ao presidente”.