Felipe Fernandes — Trilogia de terror em filme desnecessário

 

 

Felipe Fernandes, cineasta publicitário e crítico de cinema

Silêncio e morte em Nova York

Por Felipe Fernandes

 

Lançado em 2018, “Um lugar silencioso” conquistou o público com uma atmosfera pesada, trabalhada no silêncio, um aspecto pouco usual quando pensamos em cinema, principalmente de terror. Contando a história da família Abbott durante o apocalipse silencioso, o filme acerta em narrar uma história contida, um filme de situação, que não expande a história dos acontecimentos, focado totalmente na sobrevivência da família.

Lançado em meio a pandemia, a segunda parte trouxe um longo flashback em que narra o primeiro encontro dos personagens com as criaturas. E, posteriormente, seguiu a história da família Abbott. Praticamente do mesmo ponto do encerramento da primeira parte. Para mostrar a família tendo que seguir por um caminho desconhecido, onde eles descobrem que as criaturas não são o único perigo pelo caminho.

Com o sucesso dos longas anteriores, a franquia se expande para um terceiro longa, que funciona como um prelúdio, que promete mostrar o dia 1 da invasão, tendo como foco a cidade de Nova York.

A ideia de mostrar o dia 1 em Nova York, uma das cidades mais barulhentas do mundo, cria uma curiosidade devido ao contraste natural da situação. Se nos longas anteriores acompanhamos os personagens em locais ermos, a proposta aqui é mostrar o início do ataque das criaturas em meio à metrópole.

O filme acompanha Samira (Lupita Nyong’o), uma jovem com câncer em estado terminal, que vive com constantes dores em uma espécie de hospital/asilo. Ela aceita ir à cidade em uma excursão, com a promessa de que após o passeio haverá pizza. E é durante essa excursão que ela vai se ver presa junto a seu gato nessa situação.

Para um filme que se propõe a mostrar o dia 1, o filme passa bem longe de acrescentar qualquer informação ou conceito novo no contexto geral da franquia. Tirando a mudança de cenário, é mais do mesmo. A cena da chegada das criaturas remete diretamente ao 11 de setembro, uma cicatriz que a cidade não vai perder e que está enraizada no imaginário popular.

O filme trabalha a relação da protagonista em sua jornada ligada a símbolos da cidade, fugindo do aspecto mais visual. Esqueça cenas com os pontos mais famosos, nesse sentido, o filme poderia ter sido filmado no centro do Rio de Janeiro.

Assim como nos anteriores, o filme aposta em uma jornada pessoal de sobrevivência. Uma escolha acertada, principalmente em nos fazer ter interesse pelos personagens. Porém, essa abordagem reforça a falta de originalidade do longa, que não apresenta nada de relevante.

As criaturas não ganham qualquer nova adição. Ao contrário dos longas anteriores, acompanhamos várias delas, o que é natural, já que o filme acontece durante a invasão. Porém, entra naquele problema das continuações, se não tem mais o fator surpresa, vamos apostar na quantidade.

Os principais destaques ficam pela atuação intensa da grande Lupita Nyong’o, que mais uma vez se estabelece como uma das melhores atrizes no gênero. O outro destaque é o seu companheiro, o gato Frodo, um personagem bem atípico para esse tipo de produção. Mas que, narrativamente, é importante para a protagonista.

“Um lugar silencioso: Dia 1” se prova um filme desnecessário, já que não acrescenta nada à franquia, nem se prova uma grande experiência cinematográfica. É um filme correto, bem produzido, mas totalmente esquecível, em uma franquia que perde força a cada novo filme.

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.

 

Assista ao trailer do filme:

 

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