Geosmina na água do Paraíba
A falta de chuva e o baixo nível do rio Paraíba do Sul provocaram o efeito da geosmina (composto orgânico da proliferação de algas) na água captada e distribuída em Campos. O que gerou inúmeras queixas da população sobre seu gosto e odor. Muito embora a geosmina não seja danosa à saúde, a incerteza gerou especulações e áudios anônimos alarmistas em grupos de WhatsApp, crescendo a procura de água mineral na cidade. A concessionária Águas do Paraíba reforçou o tratamento contra a geosmina com carvão ativado. O que provocou uma tonalidade mais escura no rio na manhã de ontem (30). E voltou a gerar especulações.
Com tratamento de carvão e sem toxina
O tratamento do alarmismo foi a verificação dos fatos pela ciência. O Instituto Estadual do Ambiente (Inea) informou que “após a análise realizada por um técnico do instituto, foi constatado que a mancha resultou do carvão ativado utilizado pela concessionária no tratamento da água”. Enquanto resultado prévio do exame da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) enviado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na investigação da 1ª Promotoria de Investigação Penal do Ministério Público Estadual em Campos, revelou que a água do Paraíba não contém a toxina saxitoxina. Como a Águas do Paraíba já tinha informado.
Análise da Uenf
Na matéria da Folha de sábado (27), da jornalista Ingrid Silva, o fenômeno da geosmina foi esclarecido pelo professor Carlão Rezende, do Laboratório de Ciências Ambientais (LCA) da Uenf, que testou a água do rio: “O que há é a produção de um composto chamado geosmina. Não existe nada na literatura que aponte efeitos toxicológicos à população humana, mas ele gera alteração no padrão organoléptico (odor e sabor). O que a gente está vendo é se, junto com isso, não tem outras coisas. Mas, em relação a esse cheiro e o gosto, a substância não produz risco para a população”, garantiu o cientista. Que hoje fala do assunto no Folha no Ar.
Análise do Projeto Piabanha
Também na Folha de sábado, a informação sobre a geosmina foi confirmada pelo biólogo e diretor técnico do Projeto Piabanha, Guilherme Souza: “Planta precisa de sol. Alga é planta, só que fica debaixo d’água. Quando temos um momento como esse, sem inverno, pouco volume de água no rio e muito adubo na água, é tudo que a planta quer. Aí tem uma proliferação excessiva naquele ecossistema aquático, que é essa cor verde. Quanto maior a quantidade de sol que entra naquele sistema, mais ela vai fazer a fotossíntese. Mas, em um rio saudável, ele não fica verde, porque é nutriente limitante: nitrogênio e fósforo”, explicou o biólogo.
Versão da Águas do Paraíba (I)
Na segunda (29), o diretor executivo da Águas do Paraíba, Giuliano Tinoco, foi o entrevistado do Folha no Ar. Ele afirmou: “Respondendo à pergunta mais importante, a água está própria para consumo. A gente vem afirmando isso desde terça (23). Apesar de as notas serem acrescidas de novas informações, com novos laudos, a informação de que a água está própria para consumo, saudável e segura é a mesma desde sempre. As reclamações começaram na segunda e começamos a dosar o carvão ativado, ainda sem nenhuma análise que confirmava a presença de algas, geosmina”, garantiu o diretor da concessionária.
Versão da Águas do Paraíba (II)
“Pela questão das queixas, já na segunda a gente começou a dosar. Mas, de fato, na terça (24) aumentou bastante o número de reclamações. A gente atende a 165 mil residências. Se você multiplicar uma média de três pessoas, a gente deve estar falando aí em torno de 400 mil pessoas abastecidas pela água do Paraíba do Sul. As pessoas conseguiram reclamar, abrir suas solicitações, as equipes foram aos locais, fizeram a verificação, coletaram água para análise. Adotamos o mesmo processo de qualidade que é sempre feito nesses casos”, explicou Giuliano Tinoco, falando em nome da Águas do Paraíba, na Folha FM 98,3.
Problema recorrente em ano sem chuva
No Folha no Ar de ontem (30), o entrevistado foi João Gomes Siqueira, diretor do Comitê da Bacia Hidrográfica do Baixo Paraíba. Ele alertou: “Uma coisa que precisa se precisa ter em mente é que isso é recorrente. Em anos de chuva, como o ano passado, isso não ocorre. A chuva está diretamente ligada à qualidade da água. Quando estamos como agora, há 60 dias sem chover aqui e em Minas (Gerais), na Bacia do Paraíba do Sul, a qualidade da água cai muito. É importante a população saber que uma coisa é a agua bruta, que passa no rio Paraíba, outra coisa é a água que sai da torneira. No caso da geosmina, é difícil tirar ela no tratamento. É preciso carvão ativado e outras coisas que estão sendo feitas, pela Águas do Paraíba”.
Abaixo do mínimo necessário
“Dependemos da natureza. Sem chuva, a vazão do rio diminuiu muito, a cerca de 4,63 metros de cota. Isso equivale a uma vazão de 177 metros cúbicos por segundo. A vazão mínima para o rio sobreviver, não só em qualidade de água, seria de 252 metros cúbicos por segundo. Isso está definido em estudos. Ou seja, estamos com 30% a menos que o mínimo necessário. E o que estamos vendo é isso: o rio está morrendo. E sua água bruta é de péssima qualidade. A Águas do Paraíba faz todos os esforços para tratar, mas como tratar uma coisa naturalmente ruim?”, questionou, na Folha FM, o diretor do Comitê da Bacia Hidrográfica do Baixo Paraíba.
Publicado hoje na Folha da Manhã.