Equilíbrio e homenagem
Por Felipe Fernandes
Lançado em 1979, “Alien: O oitavo passageiro” se tornou um clássico. Referência quando pensamos em horror no espaço, o filme gerou várias continuações, prelúdios, um universo expandido em games, livros, quadrinhos, tornando o Xenomorfo uma das criaturas mais famosas da sétima arte.
Eis que chega aos cinemas “Alien: Romulus”, longa que busca abrir uma nova ramificação dentro da mitologia da franquia, expandindo a narrativa. Situado entre os dois primeiros filmes, a história acompanha um grupo de jovens mineradores, dispostos a fugir da miséria no planeta em que vivem. Controlados por uma mega corporação, eles fogem para uma estação espacial abandonada. Lá, encontram um local destruído e habitado por criaturas mortais, forçando-os a lutar por sua sobrevivência.
“Romulus” é o primeiro filme a explorar um planeta propriamente dentro das questões relacionadas à corporação Weyland-Yutani. Acompanhamos um grupo de jovens mineradores, que vivem em um planeta insólito, presos em um regime de quase escravidão. A corporação é provavelmente a grande vilã da franquia, já que tudo o que acontece é em decorrência da ganância da empresa.
Escrito e dirigido pelo cineasta uruguaio Fede Alvarez, chama a atenção como o filme é cuidadoso com o restante da franquia. Além de referenciar diversos elementos de praticamente todos os filmes, chegando ao ponto de repetir cenas e diálogos — homenagens que nem sempre funcionam —, existe uma preocupação com questões de continuidade. O design de produção da estação espacial repete exatamente o visual da nave Nostromo do filme de 1979. Os computadores, os formatos dos corredores, são níveis de detalhes muito interessantes.
O filme funciona como um híbrido entre os dois primeiros filmes, buscando um equilíbrio entre o suspense do filme de Ridley Scott e a ação do filme de James Cameron. Alvarez é bem sucedido nessa proposta, ainda que principalmente em sua segunda metade, o filme ganhe uma ação hiperbólica, que remete mais a “Alien: A ressurreição”. Mas se o filme de Jeunet remete a um quadrinho, aqui temos uma versão para as novas gerações, com uma ação acelerada, digna de um game.
Um elemento interessante é a mistura de efeitos práticos com CGI, outro ponto de equilíbrio que funciona muito bem, construindo um visual orgânico. E que reforça a sensação de ameaça constante, que pode vir de qualquer lugar.
Uma característica da franquia que sempre me chamou a atenção é o fato de, a cada novo filme, nós descobrirmos um pouco mais sobre a natureza fisiológica dos Xenomorfos e toda essa relação parasitária com outras espécies. “Romulus” expande essa questão, agregando questões como maternidade e o corpo feminino, temas já abordados em longas anteriores e que, aqui, ganham outra abordagem.
Agrada-me a forma como o roteiro de Alvarez trabalha a dinâmica entre os personagens. Ainda que nenhum deles receba um grande desenvolvimento, nem mesmo a protagonista, a sequência do grupo no planeta é muito eficiente nessa construção. Cria um senso de unidade que funciona, muito também pela economia de personagens. É um grupo pequeno.
Em outra constante na franquia, o andróide David é uma boa adição, se tornando peça central no embate entre o cuidado entre a vida humana e os interesses da corporação. As mudanças que o personagem sofre no decorrer da trama o tornam um personagem ambíguo, reforçando a sensação de perigo.
“Alien: Romulus” consegue ser um filme que funciona como uma grande homenagem ao misturar elementos de praticamente todos os filmes anteriores, mas consegue ter o mínimo de personalidade. Alvarez se arriscou ao construir uma narrativa na busca do equilíbrio entre escolhas estéticas e narrativas. Cria um longa consistente, que se não chega perto dos dois clássicos originais, ao menos se prova um ponto positivo na franquia, com potencial para renovar seu público.
Publicado hoje na Folha da Manhã.
Confira o trailer do filme: