Pichações de morte no novo prédio da UFF começam a ser apagadas
Com Gabriel Torres
As paredes do novo prédio da Universidade Federal Fluminense (UFF) começaram a ser limpas por alunos na manhã deste sábado (17). O campus recebeu várias pichações na noite de quinta (15), inclusive com apologia ao assassinato, como “Morte aos transfóbicos” e “Fogo nos racistas”, que geraram indignação dentro e fora da universidade.
Segundo os alunos, eles estariam limpando as pichações voluntariamente. Mas, como a coluna Ponto Final e o blog Opiniões anteciparam (confira aqui) a ação teria sido definida em uma reunião ontem (16), entre os estudantes do Movimento para uma Universidade Popular (MUP), que assumiram (confira aqui) a pichação nas redes sociais, e a direção da UFF-Campos, pressionada pela péssima repercussão do caso.
— Uma reunião entre os pichadores e a diretoria da UFF-Campos teria ocorrido ontem. Quando os primeiros teriam admitido o erro e se comprometido a apagar a pichação que promoveram no novo prédio público. É até louvável. Mas não basta. Como não poderia bastar aos bolsonaristas que vandalizaram prédios públicos em Brasília no 8 de janeiro de 2023 — revelou a coluna de opinião da Folha da Manhã.
Versão dos alunos apagando pichações
Hoje, a aluna Nicky Nara contou que estava presente na oficina de picho realizada na noite de quinta (15). Segundo ela, alguns alunos escreveram frases que não condizem com o objetivo da atividade:
— Quando a oficina acabou, a gente perdeu esse controle de recolher os canetões. E aí teve pessoas que não participaram da oficina em si e foram para o outro lado. Estavam já brincando, tinham ido para o lado de fora, e escreveram algumas coisas que não condizem com a oficina.
Jessyka Portella, graduanda em serviço social, defendeu o picho como forma de expressão dos alunos. Mas reconheceu que algumas pessoas extrapolaram o objetivo da atividade:
— Essa intervenção que a gente fez foi pensando no melhor, mas teve pessoas que saíram um pouco do tom. Acho que é por isso que a gente está fazendo essa limpa hoje, pensando no bem da comunidade também. E que a gente continue fazendo outras intervenções e que tenham outros olhares pela visão da sociedade.
Ego, também aluno do curso de serviço social, destacou que o espaço da universidade é democrático e por isso tomaram a iniciativa de limpar as paredes:
— Eu acho que teve, sim, gente que acabou extrapolando. Mas, infelizmente ou felizmente, o espaço é totalmente democrático. E hoje, exatamente pelo espaço ser democrático, as pessoas também se uniram para estar limpando aqui, para poder fazer valer isso.
Versões da direção, de ex-diretor e de professor da UFF-Campos
Em nota divulgada ontem, a direção da UFF Campos afirmou (confira aqui) que não compactua com as pichações realizadas e que está tomando “as medidas administrativas cabíveis diante do ocorrido”.
Ex-diretor da UFF-Campos, o professor Roberto Rosendo também havia se posicionado ontem à reportagem da Folha da Manhã, horas antes da publicação da nota da atual diretoria da universidade em Campos:
— Certamente, não foi com a permissão da UFF. Esperamos que a direção apure os fatos e, dentro das regras instituídas, responsabilize os que cometeram estes atos deploráveis.
Também ontem, em comentário à publicação da nota da UFF-Campos, um de seus professores, George Gomes Coutinho se manifestou. E revelou dificuldades para ministrar aulas no novo prédio da universidade:
— É dever de nossa comunidade, de todos os segmentos, cuidar do patrimônio público construído com recursos derivados do trabalho de nossa população tão sofrida. Devemos cuidar da UFF em nosso nome e em nome das futuras gerações. Eu mesmo precisei ontem, exercendo meu ofício, pedir para que o volume de caixas de som na tenda fosse regulado para que eu pudesse exercer meu trabalho pelo qual sou pago: dar aulas. Enfim, que se abra, a partir desse lamentável episódio, um caminho de aprendizado institucional…
Análise do Centro Acadêmico de Economia da UFF-Campos
Também ontem, o Centro Acadêmico de Economia e da Atlética de Economia da UFF-Campos se posicionou nas redes sociais (confira aqui) sobre a forma como foi conduzida a oficina de pixo. Confira abaixo o vídeo e sua transcrição:
“Reconhecemos a pichação como uma forma legítima de manifestação política e artística, historicamente ligada à resistência. No entanto, entendemos que, para que essa forma de expressão contribua com o fortalecimento das lutas sociais, ela precisa ser realizada de maneira responsável, coletiva e respeitosa com o espaço e a comunidade universitária.
A oficina em questão foi conduzida de maneira antidemocrática, sem a devida consulta ou aprovação em assembleia estudantil, o que contraria os princípios de representatividade e diálogo que devem nortear o movimento estudantil. Além disso, conteúdos de cunho obsceno foram confundidos com manifestações políticas, o que, na prática, descredibiliza o movimento estudantil da UFF-Campos e reforça estereótipos negativos que a comunidade externa já possui em relação à nossa universidade.
A oficina foi realizada sem a devida comunicação à direção do polo, evidenciando ainda mais sua desorganização e falta de responsabilidade com o patrimônio da Universidade Federal Fluminense.
A parede da universidade não é lugar para comparações de partes íntimas, nem para ‘votações’ sobre preferências sexuais ou mensagens que incitem o ódio. Isso desvia o foco das pautas reais e urgentes que afetam o dia a dia dos estudantes.
Precisamos, para além de defender as cotas, lutar ativamente pela permanência estudantil: por moradia digna, alimentação adequada e o aumento da frota do BusUFF, que, pela manhã, frequentemente chega atrasado, prejudicando estudantes e professores.
Reforçamos a importância de atos organizados, e com o apoio da direção, com participação efetiva dos estudantes, que fortaleçam, e não fragilizam, o movimento estudantil”.