No último domingo, o espaço dominicial do blog cativo à poesia foi preenchido aqui com os versos do russo Vladímir Maikóvski (1893/1930). Pois neste domingo seguinte, em homenagem não só ao grande poeta da Revolução Russa de 1917 e à sua metáfora mais conhecida (“nuvem de calças”), mas também à coletividade à qual Maiakóvski dedicou sua obra e sua vida, segue abaixo um poema feito a seis mãos, entre o blogueiro e os também poetas Marcelo Garcia e Sthevo Damaceno.
Não por outro motivo, estão presentes o uso de maiúsculas e da pontuação ao final dos versos, quase que completamente abolidos na minha poética. Quanto à composição do poema, se não me falha a memória, Marcelo o iniciou, na cidade paranaense de Casacavel, com os três primeiros versos. Depois, em Campos, Sthevo compôs os três primeiros versos da segunda estrofe; o primeiro, o quarto e quinto da terceira estrofe; além dos dois da estrofe final. O trabalho restante, mera extensão do que já fora feito, assim como o título, coube a este misto mal ajambrado de poeta, jornalista e blogueiro.
Ao fim e ao cabo, o que importa é o resultado coletivo.
Viúva de Maiakóvski
Em certos dias,
a saudade rasga as paredes da casa
e o outono nos olhos espreita as portas abertas
— cato todas as paixões vitimadas
pela gravidade das folhas.
Em dias certos,
não consigo me manter só,
vendo você entre os cômodos
e as gavetas vazias
da intimidade que nos vestia.
Essas miragens entre espelhos,
do alguém que já não temos,
com um outro que já não somos,
me lembram: não apreendo ainda
[as coisas por dentro,
condenado à espuma das ondas,
ao afogamento de quem temeu mergulhar.
Desafivelo o cinto da nuvem de calças
e quando roço meu sexo no seu,
abate-me a impotência do suicida triste.
Ser imagem
e estar sempre do lado de fora.
Cascavel/Campos, 21/12/06
Que pena que não terei a minha dose de cultura ,dominical
AZUL é sempre LINDO mostra a mudança, que é sempre bem vinda
🙂