Artigo do domingo — Acabou o milho, acabou a pipoca?

 

Até as últimas duas semanas, quem julga entender algo de política afirmava, sem medo de errar, que o pleito para governador do Rio neste ano repetiria a eleição à Prefeitura de Campos, em 2004, e a suplementar, em 2006. Em ambas, hoje deputado estadual do PR em busca de reeleição, Geraldo Pudim só venceu o primeiro turno para refugar no segundo, vencido por Carlos Alberto Campista e depois por Alexandre Mocaiber.

No caso, o deputado federal Anthony Garotinho (PR) repetiria Pudim se confirmasse sua própria liderança ao primeiro turno do governo do estado em outubro próximo, mas acabasse superado nas urnas de novembro pelo segundo colocado do mês anterior. E é exatamente o que as pesquisas projetam tanto se seu adversário no segundo turno for o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), quanto o senador Marcelo Crivella (PRB).

Na última consulta Ibope da corrida ao Palácio Guanabara, divulgada no dia 9 deste mês, Garotinho ainda mantinha a dianteira no primeiro turno, com 26% das intenções de voto, mas já em empate técnico com Pezão, que apareceu apenas um ponto percentual atrás, enquanto Crivella manteve seus 17%. Todavia, na mesma amostragem, o político da Lapa perderia de 40% a 33% para Pezão no turno final — no qual não passaria do empate técnico de 34% a 33%, caso o adversário fosse Crivella.

Quanto à pesquisa Datafolha, liberada no dia 10, Pezão já apareceu em empate exato com Garotinho, ambos com 25%, para o pleito de outubro, ao qual Crivella registrou 19%. E no segundo turno? Garotinho tomaria um vareio tanto de Pezão (35% a 47%) quanto de Crivella (33% a 45%), perdendo para ambos pela mesma considerável diferença de 12 pontos percentuais.

Mas se Garotinho é derrotado em quase todas as simulações do segundo turno estadual em 2014, nos dois principais institutos de opinião brasileiros, por que não se cumpriria a analogia com a derrota final de Pudim nas eleições municipais de 2004 e 2006? Simples: Garotinho corre o risco não só de perder a liderança da corrida ao governo fluminense para Pezão, ainda no primeiro turno, como de acabar fora do segundo, sendo ultrapassado na reta final também por Crivella.

Menos conceituado do que Ibope e Datafolha, que não soltaram novos números ao governo do Rio na última semana, o Gerp divulgou no dia 16 a pesquisa mais recente da disputa. Nela, Garotinho (23%), Pezão (21%) e Crivella (20%) apareceram quase juntos na escadinha do empate técnico no primeiro turno. No segundo, o político de Campos também perderia as simulações tanto com Pezão (30% a 32%), quanto com Crivella (30% a 35%).

Com 12% das intenções de voto no Datafolha e 9% no Ibope e no Gerp, o senador Lindberg Farias (PT) ainda parece distante dos líderes na corrida a governador registrada pelas pesquisas. Fora delas, no entanto, o petista tem dado as demonstrações mais recentes de que Pezão hoje parece ter mais garantias de acesso do segundo turno do que Garotinho.

Não bastasse ter abertamente trocado o governador do PMDB pelo deputado do PR como principal alvo das suas críticas, seguindo o conselho que recebeu pessoalmente do ex-presidente Lula, o próprio Lindberg deixou clara sua análise do atual quadro eleitoral, em entrevista exclusiva publicada hoje na Folha (aqui): “Garotinho está caindo nas pesquisas e não tem força para enfrentar Pezão. Tenho condições de crescer e tirar Garotinho do segundo turno”.

Pelo menos em relação à primeira afirmação, o petista parece prenhe de razão na comparação das duas últimas pesquisas de cada instituto, na qual o crescimento de Pezão e a queda de Garotinho surgem como tendências inequívocas. O primeiro subiu pelo Ibope (19% a 25%), Datafolha (23% a 25%) e Gerp (15% a 21%), enquanto o segundo caiu nos três: 27% a 26% (Ibope), 28% a 25% (Datafolha) e 25% a 23% (Gerp). Fungando ao cangote de ambos, apesar de ter mantido os mesmos 17% nas duas últimas consultas do Ibope, Crivella cresceu pelo Datafolha (de 18% para 19%) e pelo Gerp (de 18% para 20%).

Leitor de pesquisas como poucos, ninguém está mais ciente da realidade do que Garotinho. Não por outro motivo, após ficar sem postar em seu blog por quase 24h, entre os dias 10 (quando foi divulgada a última pesquisa Datafolha) e 11, além de cancelar vários compromissos nos dias seguintes, sob alegação de “virose”, o candidato do PR ressurgiu bem ao seu estilo, no dia 18, numa entrevista ao vivo no RJ TV, onde disparou sua conhecida metralhadora giratória contra as Organizações Globo.

Na aparente impossibilidade retórica de responder às perguntas da jornalista Mariana Gross sobre processos contra ele e Rosinha, por conta da administração desta no governo do estado, Garotinho “respondeu” acusando a Globo de sonegação fiscal na compra dos direitos de transmissão dos jogos da Copa do Mundo de 2002. Para quem só é capaz de enxergar o mundo pelos antolhos do maniqueísmo, foi uma reação contundente (e merecida) contra a toda poderosa “Vênus Platinada” dos irmãos Marinho, ao estilo do ex-governador Leonel Brizola (1922/2004).

Todavia, para quem tem capacidade de enxergar o dois somado ao outro, e projetar o quatro como resultado final da equação, soa meio óbvia a lembrança de que as denúncias de Garotinho no RJ TV já vinham sendo feitas, não é de hoje, pela Rede Record, principal concorrente da Globo e propriedade de Edir Macedo, tio de Crivella. Nem é preciso estar tomado da onisciência do espírito santo para identificar o sinal terreno.

Na melhor das hipóteses, se estiver no segundo turno com Pezão, Garotinho tenta construir uma ponte “evangélica”, senão capaz de conquistar o apoio declarado de Crivella, suficiente ao menos para que este libere os fieis eleitores da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd). Na hipótese menos boa, caso não consiga estancar sua queda e acabe fora do segundo turno, só restará a Garotinho orar para lá estar o mesmo Crivella, que passaria a ser sua possibilidade de salvação do limbo político no estado do Rio.

Se até 15 dias atrás o que Garotinho mais tinha a temer era ser o Pudim de uma década atrás, ele tem só mais duas semanas, até 5 de outubro, para tentar exorcizar de si e dos seus um medo muito maior: ser o Paulo Feijó de 2004, quando o deputado federal hoje no PR liderou boa parte da corrida à Prefeitura de Campos, mas foi atropelado na reta final e acabou fora do segundo turno.

Por ora, diante da expectativa de virada de Pezão já nas próximas pesquisas, o clima reinante nas hostes do PR goitacá e fluminense é o de “acabou o milho, acabou a pipoca”.

 

Publicado hoje na edição impressa da Folha.

 

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Este post tem 6 comentários

  1. Edimar Azevedo

    Parabéns! mais uma vez você foi preciso na análise do quadro político eleitoral. Tenho dito há bastante tempo nas rodas de bate papo entre amigos ou dos ‘entendidos’ de análise política. Obviamente, muitos destes discordavam das minhas humildes reflexões.

  2. Danuza Leme

    Tem mesmo que ser muito idiota para não enxergar os reais motivos de Garotinho para atacar a Globo com acusações da Record. Mas de idiota, como prova a liderança de Dilma nas pesquisas a presidente, com mais de R$ 1 bilhão desviado da Petrobras pela quadrilha que ela e o PT instalaram no comando da estatal, o Brasil infelizmente está cheio.

  3. alexsandro

    Duvido que Crivella que é um homem de bem faça acordos com um chefe de quadrilha, tampouco “libere” seus seguidores pra apoia-lo….

    Aposto que Crivella apoiara PEZAO no segundomtueno.. claro que se Crivella nao for pro segundo turno e PEZAO for !

  4. Andre

    Pezão,com 19 partidos,vários prefeitos,toda mídia carioca,muita grana vários deputados apoiando ele e ainda não passou Garotinho? Garotinho com 1 minuto de TV,apanhando toda hora da mídia e com uma enorme rejeição está empatado com o atual governador? e no segundo turno com tempo de TV igual? onde os deputados não pede tanto voto p o governador como pede agora?
    Eleição as vezes apresenta cada surpresa…Garotinho não está morto no coração do povo hein?
    porque era p ele nem ir ao segundo turno se estivesse com essa rejeição toda que dizem…VOLTA GAROTINHO!!

  5. Edi Cardoso

    E os outros muitos idiotas são, os que votam em Garotinho.

  6. Edi Cardoso

    ah, eu não voto em Dilma, ou até que prove ao contrário, em ladrão algum.

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