Por Mauro Paulino e Alessandro Janoni
Por trás da reprovação majoritária da população ao governo Dilma Rousseff, revelada pelo Datafolha após as manifestações de 15 de março, há diferenças importantes entre os eleitores que se posicionam contra a presidente.
Por meio de uma análise combinatória de duas variáveis — o voto declarado no segundo turno da eleição presidencial de 2014 e a avaliação que os entrevistados fazem do governo Dilma hoje —, o Datafolha dividiu a amostra de sua última pesquisa nacional em seis subgrupos.
Os três primeiros reúnem aqueles eleitores que optaram por Dilma no ano passado e que agora têm visões diferentes sobre o desempenho da presidente. São os eleitores “satisfeitos”, os “apreensivos” e os “frustrados”.
Os outros três grupos são compostos por pessoas que não votaram na petista, isto é, escolheram o senador Aécio Neves (PSDB-MG), votaram nulo ou em branco nas últimas eleições. São subdivididos em “surpresos”, “atentos0” e “refratários”.
Os eleitores “satisfeitos” avaliam positivamente o início do segundo mandato da candidata que elegeram. Atribuem à presidente nota 8,3 — a média na população é 3,7. Eles correspondem a 11% dos brasileiros, são mais velhos e muito mais petistas do que a média. Vivem principalmente no interior do país, estão mais otimistas com a economia e são os que menos acreditam em omissão de Dilma diante da corrupção na Petrobras. É o segmento mais fiel à presidente.
Os eleitores “apreensivos” não aprovam, mas também não reprovam o governo Dilma. Avaliam sua gestão como regular ou não souberam opinar. Totalizam 15% da amostra e, entre os que votaram na petista, são o grupo com mais moradores das capitais. Dão nota 6,1 à presidente e estão pessimistas com os rumos da economia, mas em proporção menor do que a média.
Em comum com os grupos que não rejeitam Dilma, os “apreensivos” estão mais otimistas em relação à sua situação econômica pessoal do que com as condições do país. Se sentirem em sua rotina os efeitos dos ajustes na economia, tendem a se frustrar. Caso contrário, podem voltar a apoiar a presidente.
Os eleitores “frustrados” votaram em Dilma, mas agora a consideram uma presidente ruim ou péssima. De todos os seis subconjuntos, é o que tem menor renda e mais moradores no Nordeste. Somam 16% e atribuem média 2,4 à petista, nota superior apenas à dos “refratários”.
É um estrato que demonstra bastante pessimismo com a economia e o mais inseguro com o emprego. Para reconquistá-los, o governo deveria minimizar os efeitos da recessão no mercado de trabalho e em benefícios sociais.
No universo dos que não votaram em Dilma na eleição, dois pequenos subconjuntos destacam-se pela avaliação que fazem da presidente.
Os “surpresos” representam apenas 2% do total, são menos escolarizados e mais pobres, e dão nota 7,1 à gestão da petista. Os “atentos”, que somam 10%, a consideram regular, com média 5,4. São mais jovens, a maioria tem ensino médio e é do sexo masculino, estão pessimistas com a economia do país, mas nem tanto em relação à situação econômica pessoal.
O maior grupo de todos é o dos “refratários”. Corresponde a quase metade da população (47%). É um contingente que não votou em Dilma e a reprova totalmente. Entre eles, a nota média obtida pela petista fica em 1,7. É o segmento mais escolarizado e com mais gente no Sudeste.
Exibe grande pessimismo na economia e é o que mais condena a presidente por omissão diante da corrupção na Petrobras. Foi o estrato mais presente nos protestos do dia 15 e parece blindado contra iniciativas do governo.
Impacto do ajuste
As variações na opinião pública daqui em diante dependerão principalmente do impacto do ajuste econômico no dia a dia dos brasileiros, especialmente nos segmentos “apreensivos” e “atentos” da população.
São estratos que percebem a gravidade da situação do país, mas ainda não o projetam para a vida prática. Para os “atentos”, ações ou confusões na área da educação, como a que aconteceu com o FIES, podem pesar bastante.
Para os “frustrados”, a questão é saber se o fantasma do desemprego se materializará. Isso pode ser determinante para a adesão desse segmento às manifestações de rua. Entre os eleitores “refratários”, o governo não encontra, por enquanto, espaço para manobras.
A rejeição que perdura desde as eleições, intensificada pela derrota do antipetismo nas urnas, anula, pelo menos por enquanto, qualquer tentativa de aproximação de Dilma com esse segmento. Resta saber quem da oposição preencherá essa lacuna.
Publicado aqui, na folhadesaopaulo.com