Crítica de cinema — Um faroeste novaiorquino

De olhos bem abertos

 

Liam Neeson - Noite sem fim

 

Mateusinho 3Noite sem fim — Jimmy Conlon (Liam Neeson) é um assassino  aposentado, decadente e alcoólatra, que ainda permanece no grupo do mafioso irlandês Shawn Maguire (Ed Harris) apenas pela amizade que une esses velhos camaradas. Ambos têm filhos homens, mas, enquanto o do chefão permanece próximo a ele e tenta lhe apresentar novos ‘projetos’ criminosos, o filho de Conlon faz tempo se mantém afastado, enojado pela atividade do pai.

Por um acaso do destino (leia-se ‘roteiro’) ambos filhos irão se encontrar, e alguém morrerá. Tal evento irá repercutir na relação de Conlon e Maguire e, apesar dos longos anos de companheirismo e afeição, o desejo de vingança falará mais alto.

Se a breve sinopse apresentada não parece ser muito original, é simplesmente porque todo resumo é impreciso, e nunca consegue descrever  o que verdadeiramente faz a diferença num filme, que é o tom, o ritmo e a graça. Assim, há de se dizer que este terceiro trabalho da parceria entre Liam Neeson e o diretor catalão Caullet-Serra (os quais já realizaram os atrativos “Desconhecido”  e “Sem Escalas”) contém todos esses elementos, dosificados de uma forma bem eficaz para obter uma história de ação e suspense que entretém genuinamente.

Como uma espécie de faroeste ambientado na Nova Iorque atual, Neeson será aquele anti herói que irá resolver um conflito, embora seja incapaz de se ajustar a um mundo por ele ‘consertado’. A ação, que se desenvolve nesse breve lapso temporal que é a noite do título, engata a partir da meia hora de projeção e praticamente não se detém até o final, combinando perseguições de carros pelas ruas de NY, a fuga impossível de um prédio cercado por policiais e um tiroteio dentro de um pub que, pela fúria punitiva, nos lembrará “Os Imperdoáveis” de Clint Eastwood, aquele outro western vingativo.

Outro atrativo que “Noite Sem Fim” possui é o aspecto trágico da sua história, no sentido clássico do termo, em relação ao destino que se lhes apresenta aos personagens de Neeson e Harris. Ambos estão mais unidos entre si que com seus filhos, pois compartilham um passado de fidelidade recíproca. Um foi um matador leal, o outro um chefão protetor e compreensivo na decadência de seu soldado. Todavia, como se fosse uma fatalidade imposta pela natureza de suas essências, se verão obrigados a confrontar-se até a morte quando a linhagem do sangue fale mais alto. Quem queira, e possa, apreciar esse subtexto narrativo certamente estará assistindo um filme bem mais interessante.

Um parágrafo final para comentar a espetacular virada na filmografia de Liam Neeson. O ator irlandês, que se destacara no começo da sua carreira por filmes ‘sérios’ como “A Lista de Schlinder”, de Spielberg ou “Maridos e Esposas”, de Woody Allen, iria se revelar a partir dos 55 anos como um exitoso protagonista de filmes de ação, com o filme “Busca Implacável”, interpretando um ex-agente americano que deve resgatar sua filha de um grupo de sequestradores. Depois viriam “A Perseguição”, “Busca Implacável 2”, e vários outros, além dos realizados com o diretor Callet-Serra, já mencionados. Hoje, aos 63 anos, Neeson continua em plena forma para chutar traseiros e estourar bilheterias.

 

Mateusinho viu

 

Publicado hoje na Folha Dois

 

Confira o trailer do filme:

 

 

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