Um quarto de segundo andar, debruçado sobre o Atlântico, numa tarde fria de Atafona. Dentro dele, corpos em pausa, um sobre o outro, ofegantes após imitarem à exaustão as ondas em ressaca do lado de fora. Na inevitável lembrança de quantas comungaram do mesmo lugar e situação, a certeza agradecida de que todas se bastam em quem está ali agora. Satisfação por ter chegado, sem vontade de ir embora. E isso, embora mais brando, é tão prazeroso quanto o próprio gozo.
Pela boca do príncipe de Falconeri, Tomasi di Lampeduza estava prenhe de razão: “As coisas têm que mudar para continuarem as mesmas”.
credo em cruz
(p/ mahelle)
louco a frio
no tempo
e o vento
lá fora
ressaca
martela
lembranças
à têmpora
do mar
no quarto
com corpo
aquecido
ainda dentro
do outro
a devoção
sobreposta
faz silêncio
de cruz
atafona, 17/05/15
Belo poema. Eu poderia escrever mais sobre. Não. Isso seria tentar competir. E perder. Portanto, belo poema. Dos que se bastam e dos que precisamos para viver. Prbns!
Caro Nino,
Obrigado pela generosidade! Qt aos seus poemas, que acha de reunir uma coletânea de cinco que entenda melhor resumirem e representarem o conjunto da sua obra e me enviar no inbox do face?
Gd abç!
Aluysio
Vou tentar, nem me considero mais um poeta,ainda mais lendo coisas tão bem feitas quanto as suas e de outros feras da poesia, talvez eu seja um resumidor de ideias, buscando frases cada vez menores. Serviriam?
Caro Nino,
Poesias são ideias capazes de expressar com palavras aquilo que só palavras não conseguiriam dizer. Envie-me, por favor, aquelas que entenda melhor representarem sua obra.
Abç!
Aluysio
Muito lindo.A musa deve estar feliz.Parabéns para os dois:Poeta e Musa.