JURASSIC WORLD: O MUNDO DOS DINOSSAUROS — Steven Spielberg foi muito feliz no casamento de ciência e cinema em Jurassic Park, em 1993. A concepção que os cientistas tinham dos dinossauros tanto foi bem representada no livro homônimo de Michael Crichton quanto no filme. Suas continuações, embora orientadas pelo mesmo Spielberg, não alcançaram o mesmo sucesso.
De 1993 para 2015, ou seja, em 22 anos, a ciência e as tecnologias do cinema avançaram, mas a concepção média dos dinossauros continua a mesma. Hoje, a ciência considera que a crise do Mesozoico, há cerca de 65 milhões de anos, não extinguiu todas as linhagens de dinossauros. Um grupo sobreviveu à crise por ser constituído de espécies pequenas e contar com temperatura corporal autorregulável.
Esse grupo mais próximo dos extintos dinossauros é representado pelas aves. Assim como muitas espécies de dinossauros reproduziam-se por ovos e tinham o corpo revestido por penas, assim também são as aves. Levando esse princípio a consequências mais radicais, pode-se dizer que os mamíferos também são descendentes dos dinossauros. Este grupo internalizou o ovo e sistematizou a viviparidade e o aleitamento.
As pesquisas científicas mostram que o velociraptor era, de fato, um dinossauro carnívoro, mas tinha o tamanho de um peru e o corpo coberto de penas. De fato, ele era um grande predador, mas de animais pequenos. Nunca um velociraptor poderia ser usado como cão de caça feroz contra um grande animal também predador.
Por sua vez, o brontossauro, mostrado no filme de 2015 como tendo cabeça grande, contava com caixa craniana pequena. E o galimimmus parecia-se com um avestruz, e não com um lagarto grande. Difícil admitir que se possa fabricar o maior dinossauro de todos os tempos, como o “Indominus rex”, que nunca existiu, com múltiplos remendos de material genético. Difícil admitir também que este grande animal acabasse devorado por um mosassauro.
Acontece, porém, que as salas de cinema ficaram lotadas e que a maioria dos espectadores é formada por leigos, não por paleontólogos. Assim, um filme com dinossauros correspondentes ao conhecimento atual que se tem deles seria um fracasso.
O problema de “Jurassic World: o mundo dos dinossauros”, agora dirigido por Colin Trevorrow, mas ainda com supervisão e produção de Spielberg, é a previsibilidade. Enquanto “Jurassic Park” representou uma surpresa, “Jurassic World” é perfeitamente previsível: um enclave de dinossauros criado pelos Estados Unidos na América Central, um casal que se bica mas acaba junto, dois irmãos perseguidos pelos bichos, um casal de classe média em crise matrimonial, os bons e os maus, os erros dos técnicos e a vitória final dos dinossauros. Esta é a quarta tentativa de criar um parque com dinossauros, para atração turística, que malogra. Creio que já é hora de mudar de rumo. Talvez um filme colocando os trilobitas em evidência, como desejava Richard Fortey, um novo ciclo.
Contudo, há um ensinamento filosófico a extrair dos quatro filmes sobre dinossauros iniciados com o de 1993. No fim, eles mostram que a natureza sempre vence e o projeto humano de domesticar, que a Modernidade nos legou, sempre acaba derrotado. Nos quatro filmes, os heróis são sempre os dinossauros. Por esse prisma, nossos empreendimentos de domesticar os rios, as lagoas, os mares, o clima resultam sempre em fracasso. Fica o recado subliminar de que é muito perigosa a ciência sem consciência.
Publicado hoje na Folha Dois
Confira o trailer do filme: