Lições de outubro — Aos que chegaram ao poder e nasceram nos anos 1980

 

Crise + oportunidade

 

 

 

Vários foram os fatores que levaram à vitória acachapante de Rafael Diniz (PPS), nas sete Zonas Eleitorais, ainda no primeiro turno, pela Prefeitura de Campos:

  • A contagiante campanha do vitorioso na democracia irrefreável das redes sociais e na propaganda de TV, concebida por profissionais locais, que compensou pouco tempo com dinamismo e criatividade;
  • A articulação e o desassombro de Rafael nos debates, aliado ao desempenho claudicante do candidato governista Dr. Chicão (PR), sobretudo no último, de maior e decisória audiência, da InterTV Planície;
  • A atuação firme do Ministério Público e Justiça Eleitorais, além da Polícia Federal (PF), certamente inspirados na Operação Lava Jato, a provar que a cidade, como o país, não aceitam mais determinadas práticas dos seus governantes;
  • A diarreia verbal (aqui e aqui) do marido e secretário de Governo da prefeita Rosinha Garotinho (PR), no microfone da sua rádio, com contornos de surto psicótico, sobretudo na última semana de campanha, quando desidratou de vez a candidatura governista.

Mas talvez nada tenha definido os rumos da eleição quanto a surpreendente posição do ex-prefeito Arnaldo Vianna (PMDB). Ao romper (aqui e aqui) com a candidatura do filho único Caio Vianna (PDT), questionando publicamente (aquiaqui) o preparo deste, para apoiar (aqui, aqui e aqui) a de Geraldo Pudim (PMDB), há quem tenha dito, talvez não sem razão, que Arnaldo teria assassinado não dois, mas três coelhos numa cajadada solitária e trapalhona: a pretensão de Caio em ser prefeito, quando ainda liderava (aqui) as pesquisas de intenção de voto, a de Pudim e o próprio arnaldismo — outrora popular derivação do populismo garotista, em sua oposição carbono.

A opinião de que a atitude de Arnaldo e suas consequências, mais que quaisquer outros fatores, definiram a eleição de Campos, ainda no primeiro turno de 2 de outubro, ganhou reforço sobretudo na análise, Brasil afora, do resultado final das eleições municipais, findo o segundo turno do dia 30. Como observou o jornalista Paulo Celso Pereira:

— Em quatro das cinco maiores capitais, a disputa foi marcada pela ascensão de candidatos que se apresentavam como outsiders ou representantes de uma “nova política”. Foi assim no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Fortaleza.

Assim, por mais distinções que Rafael possua, respectivamente, dos também eleitos Marcelo Crivella (PRB), João Doria (PSDB) e Alexandre Kalil (PHS), além do ex-PM Capitão Wagner (PR), derrotado por pouco na capital do Ceará, o que os uniu e impulsionou foi a busca do eleitor pelo novo, diante de um modelo tradicional de fazer política cuja falência é outra consequência inequívoca da Lava Jato.

Foi esse desejo de ruptura que definiu as urnas de Campos e São Paulo ainda no primeiro turno, e do Rio e de Belo Horizonte no segundo. Como elegeu, por exemplo, o jovem Nelson Marchezan em Porto Alegre (RS), ou o azarão Dr. Hildon, em Porto Velho (RO), outras duas capitais do total de sete que serão governadas pelo PSDB — vencedor nacional do pleito municipal, cujo maior perdedor foi o PT. De terceira maior legenda do país em número de prefeituras, o partido dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff desceu a ladeira à 10ª posição.

E quem tem dúvida local sobre os danos ao PT da sua associação, eviscerada na Lava Jato, ao que sempre houve de pior na tradição fisiológica da política brasileira, que se pergunte quantos votos faria o vereador Marcão (Rede), merecidamente reeleito com a maior votação legislativa de Campos, caso tivesse permanecido no partido pelo qual conquistou seu primeiro mandato.

Antes de qualquer particularidade regional, Rafael foi eleito na esteira de um fenômeno nacional, por quem buscou novidade, mudança. E a esperança chegou a ser endereçada a Caio, antes do seu pai extraviar a correspondência, assumida com competência pelo destinatário final da maioria nas urnas.

Se nenhum prefeito a partir de 1º de janeiro de 2017 terá vida fácil na crise econômica legada pelos 13 anos de governo federal do PT, tanto pior no Estado do Rio condenado à insolvência pelo PMDB, uma oitava abaixo pela bancarrota na qual os oito anos do governo Rosinha afundaram Campos. Isso, lógico, enquanto quem bateu a carteira agora grita “pega ladrão!”, ao eco de delírios sobre anulação das eleições, Pátio Norte e outras manjadas variantes da sua ideação persecutória.

O jovem prefeito eleito, como a maioria dos nomes da sua equipe, antecipados (aqui, aqui e aqui) pela coluna “Ponto Final”, são de uma geração nascida nos anos 1980. E amanhã eles terão (aqui) a primeira reunião de transição com a atual administração, possivelmente na presença de Rosinha, mais seu secretário de Governo. Estes, por sua vez, de uma geração que chegou ao poder nos mesmos anos 1980 — década na qual também se conjugou crise com esperança.

Trinta anos depois, neste domingo de Enem, a lição parece simples: quem não aprender a sua é posto para fora da sala.

 

Publicado hoje (06) na Folha da Manhã

 

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Este post tem 14 comentários

  1. Savio

    Texto enxuto, lúcido, absolutamente coerente. Os fatores apontados são realmente como ocorreu o “fenômeno do desejo de mudança”.
    O que nos preocupa neste momento, é como será viável ao novo prefeito administrar tantas dívidas deixadas de “herança” por este governo, com todos os seus desvarios de gastos irresponsáveis!

    A segunda parte da preocupação se deve à pergunta: __Como vai ficar a situação deste monte de vereadores eleitos mas sob suspeita de compra de votos?

    __Vão simplesmente ficar livre, leves, e soltos, mesmo com esta infinidade de provas?

    __Se arrastará por 4 anos esta questão do “escandaloso esquema”, tal e qual até a presente data ainda há “recursos” e mais não sei o quê de 2012, inclusive “cinquentinhas”?

    __ E ainda se não bastasse toda esta gente pretensamente “honesta”, os mesmos estarão na Câmara novamente sendo teleguiados pelo mesmo desvairado “secretário”?

    Se for deste jeito, vai acabar o Índio Deitado se levantando indignado a sair por aí dando bordunadas num bando de safados pelo município afora!

  2. Sandra Santos

    Rafael Diniz se inspirou ,tal e qual o Presidente Obama ,nas Redes Sociais associado ao carisma que lhe é peculiar ,fizeram a diferença .Com criatividade e bem assessorado ele sairá dessa, estamos percebendo isso .Agora é só colocar as pessoas certas nos lugares certos. Boa sorte prefeito e que Deus nos ajude .

  3. cesar peixoto

    Ninguém esta assumindo a prefeitura dizemdo que não sabia ou enganado ainda a tempo de desistir de coversa fiada já estou saturado.Olha pezão que garotinho avisou e Cabral (trecho excluído pela moderação)

    1. Rodrigo Almeida

      O que ninguém aguenta, do que todos estão saturados, é desse tipo de argumento cara de pau, feito por quem é pago. Quer dizer que todos sabem que Rosinha e Garotinho quebraram a prefeitura de Campos? Deveriam mesmo saber, pois a própria Rosinha assumiu ter quebrado a cidade, num ataque de sincericídio num vídeo pelas redes sociais, ao lado do sorriso amarelo de Garotinho.

      E quem for assumir essa massa falida, por um casal de irresponsáveis com o dinheiro público de Campos, não tem direito de protestar e responsabilizar pela força da lei os culpados? Pô-los em cana se a Justiça entender ser o caso?

      Se foi isso que você quis dizer, ó, grande Cesar Peixoto, na boa: canja de galinha e senso de ridículo nunca fizeram mal a ninguém.

  4. cesar peixoto

    Ninguém esta assumindo a prefeitura dizemdo que não sabia ou enganado ainda a tempo de desistir de coversa fiada já estou saturado.Olha pezão que garotinho avisou e Cabral (trecho excluído pela moderação)

    1. Rodrigo Almeida

      O que ninguém aguenta, do que todos estão saturados, é desse tipo de argumento cara de pau, feito por quem é pago. Quer dizer que todos sabem que Rosinha e Garotinho quebraram a prefeitura de Campos? Deveriam mesmo saber, pois a própria Rosinha assumiu ter quebrado a cidade, num ataque de sincericídio num vídeo pelas redes sociais, ao lado do sorriso amarelo de Garotinho.

      E quem for assumir essa massa falida, por um casal de irresponsáveis com o dinheiro público de Campos, não tem direito de protestar e responsabilizar pela força da lei os culpados? Pô-los em cana se a Justiça entender ser o caso?

      Se foi isso que você quis dizer, ó, grande Cesar Peixoto, na boa: canja de galinha e senso de ridículo nunca fizeram mal a ninguém.

  5. Renato Machado(nascido nos anos 80)

    Excelente texto. Muita inteligência na análise, e na escolha das palavras da composição.
    No entanto, a verdade é que me deixa entristecido demais, o fato de que prefeito eleito não esteja demonstrando o mesmo talento que teve pra fazer campanha, nas escolhas de uns que estão à sua vota. Aparenta ter um bom grupo original. Ora pois, não tem por onde imaginar por qual influência está trazendo figurinhas já “carimbadas” de outros governos e até investir naqueles que já vem acostumado aos escândalos, tipo esta cheia de “experiência” futura secretária e este (trecho excluído pela moderação) do ex dono da CBF. Está botando a lata pra tomar lambada do inimigo declarado… E colocando o povo em risco de se decepcionar com novos tropeços administrativos..

  6. Thiago

    Marcão ganharia e seria o mais votado independentemente do partido. Mas qualquer um faria o que ele fez depois que o PT foi dizimado. Tanto é assim que escolheu um partido que tem em seus quadros bons políticos, muitos deles dissidentes do PT.
    Quanto ao prefeito eleito Rafael Diniz, a grande diferença entre a sua eleição e a dos demais citados na matéria é que aqui o povo realmente acredita que ele possa realizar uma gestão diferente e eficiente, sem compromissos ou acordos espúrios com quem quer que seja ( e isso já está sendo comprovado na montagem da sua equipe), o mesmo não pode ser dito em relação à Doria, Crivella e Kalil.
    Aqui a mudança será de verdade e não será apenas a troca de seis por meia dúzia, impulsionada por setores da sociedade que manipulam o povo de acordo com os seus interesses.
    Podem apostar!

    1. Aluysio

      Caro Thiago,

      Como diria Jack, vamos por partes:

      1) Se vc sabe como seria a votação de Marcão ou qualquer outro candidato, independente do partido, tenho uma modesta sugestão: pare de opinar sobre política, no que não leva mt jeito, e use essa sua “bola de cristal” para apostar na próxima Mega Sena acumulada.

      2) Ninguém disse que a escolha de Marcão pelo Rede foi ruim. Poupe sua defesa obsessiva, mas sem mt critério, para o caso (real) de ataque.

      3) Quer dizer que vc sabe não só o que “o povo daqui pensa”, como ainda pretende saber o pensamento do “povo” das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte? Isso sem contar Fortaleza, Porto Alegre e Porto Velho, cujas eleições também foram citadas no artigo? Reforço no conselho: aposte na próxima Mega Sena.

      4) Por quais “interesses” se impuslionam “setores da sociedade que manipulam o povo”? Seria sonegação de ISS?

      5) A maioria dos campistas, ao eleger Rafael nas suas Sete Zonas Eleitorais, apostou por conta própria que “a mudança será de verdade e não será apenas a troca de seis por meia dúzia”. Como seu endosso não pareceu ser necessário a ninguém, vc pode estender sua aposta individual: na Mega Sena.

      Abç e grato pela chance do debate!

      Aluysio

  7. Adriana Viana

    Parabéns pelo texto Aluysio. No inicio do ano arrecadei fundos pra cirugia de uma senhora de Goytacazes em Sorocaba pq Campos excelência em saúde como diziam na campanha nao faz esse tratamento. No desespero recorri a vereadores q conhecia e bateram a porta na minha cara. Nao conhecia Rafael Diniz nem Marcão Gomes resolvi procura Los por telefone e pra minha surpresa sem me conhecer fizeram depósito na conta da senhorinha e depois disso sempre nos atendiam com muito carinho. Em nenhum momento nos pediram votos se quer falaram q seriam candidatos.foram os unicos veteafores a estender a mao. Agradeço a DEUS pela vida dos dois. Contando essa história no Facebook nas ruas no trabalho muitos me confessaram terem votado neles por saber da do ato generoso.Virei eleitora e fã. A cirurgia foi no BOSS-Sorocaba

  8. Thiago

    Obrigado vc Aluysio por expor a sua opinião e permitir que eu exponha a minha. Não tenho bola de cristal. Só não vou seguir o seu conselho e apostar na mega sena porque dinheiro demais atrapalha muito a vida da gente e não é essencial para sermos felizes. Ah, e não estou adivinhando não, a vida é cheia desses exemplos, não é mesmo?
    Abç

    1. Aluysio

      Caro Thiago,

      Quer dizer que vc só não vai apostar na Mega Sena “porque dinheiro demais atrapalha muito a vida da gente e não é essencial para sermos felizes”? O estoicismo, pelo menos qd sua difícil prática condiz com o discurso fácil, sempre foi uma corrente de pensamento que respeitei. Agora, se “a vida é cheia desses exemplos” das ilações políticas que vc fez em seu comentário anterior, estranho que não tenha sido capaz de citar nenhum. No artigo, cuja leitura mais atenta, aconselho, expus sim algumas opiniões, mas nenhuma delas descalça dos fatos.

      Abç e grato pela chance do debate!

      Aluysio

  9. Andreia

    Renato machado , com certeza neste caso em que é fato a prefeitura vai ser entregue quebrada ,pelo governo anterior ! Não devemos apostar em pessoas sem capacidade de assumir pastas importantes como ” Fazenda ” e outras secretarias , para dar solução aos problemas financeiros do município ! Administração publica é feita com equipe tem que escolher certo , sem poder errar ! Abre o olho Prefeito ainda tem tempo ! Abç

  10. Thiago

    (Trecho excluído a pedido)
    Não estou discordando do seu belo artigo, apenas fazendo uma análise sob outro viés. O que quis dizer é que a eleição dos outros prefeitos, na verdade, não representou nada de novo, e sim a volta de uma política conservadora que a maioria dos eleitores entendeu ser mais confiável nesse momento de crise e de falência de uma ideologia política que traiu os seus outrora eleitores. Seduziu-nos quando surgiu, mais ainda quando deu certo por um tempo, mas sucumbiu pela incompetência e antagonismo de seus líderes.
    Para ser mais claro, quero dizer que Rafael Diniz não representa a esquerda, nem a direita que estamos acostumados, mas um novo jeito de fazer política e que certamente eu, você é a maioria dos campistas torce para que dê certo.
    Abç e obrigado pelo belo exemplo de democracia que você demonstrou ter.

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