Fabio Bottrel – O Espinho da Rosa

“Como afirmou Lévi-Strauss, o encontro dos sexos é o terreno em que a natureza e cultura se deparam um com o outro pela primeira vez.”
Ao ler esse pensamento no livro Amor Líquido – Sobre a fragilidade das relações humanas, de ZygmuntBauman, unindo às palavras do autor no vídeo acima, foi inevitável a reflexão: eu sou de uma geração incapaz de amar.
Essa impotência amorosa talvez engane logo após algum certame, mas não dura nessa “sociedade do espetáculo”, título do livro de Guy Debord pensando essa inversão de mundo, onde o verdadeiro é um momento do falso. Nesse grande teatro os personagens são julgados pelos figurinos aquém dos textos, pelo cenário além dos mesmos, nunca pelo que és, mas pelo que conseguem carregar no corpo e no viés de seus destinos. Somos frutos de uma relação frágil, superficial, construímos nossas vidas à distância através de rede social, crescemos achando que um “delete” é a solução do nosso desgosto, tão simples e fácil como amanhã terá outro a preencher o posto de uma ponte pro vazio.
“E assim é numa cultura consumista como a nossa, que favorece o produto pronto para uso imediato, o prazer passageiro, a satisfação instantânea, resultados que não exijam esforços prolongados, receitas testadas, garantias de seguro total e devolução do dinheiro. A promessa de aprender a arte de amar é a oferta (falsa, enganosa, mas que se deseja ardentemente que seja verdadeira) de construir a “experiência amorosa” à semelhança de outras mercadorias, que fascinam e seduzem exibindo todas essas características e prometem desejo sem ansiedade, esforço sem suor e resultados sem esforço.” (Bauman)
Com a delicadeza desses laços humanos que aparentam solidez, constroem-se relacionamentos com o pensamento utópico baseado numa cultura que reprime a tristeza a ponto de negá-la a sua existência, criando uma imagem falsa da vida, vangloriando uma linha do tempo só de sucessos como se não houvesse uma contrapartida nem mesmo como parâmetro. Esquece-se que a felicidade são momentos e a maturidade é capacidade de aproveitar as oportunidades que a vida lhe proporciona ser feliz, apenas o idiota ou alienado é feliz o tempo inteiro. Mas o cinismo virtual não faz mal a ninguém, não é o mesmo do relacionamento, que fere a confiança e desrespeita o outro.
Nesse padrão há exceção, gosto de acreditar, talvez só os tolos amem ou talvez no amor seja onde os fracos de fato não tenham vez, pois apesar de tudo quem ainda acredita no amor foi feito para durar e não apenas passar pela vida, como os frios que não choram, não amam e não vivem.
O amor é belo tal como uma rosa, enquanto sente o doce perfume os espinhos sujam de sangue as mãos de quem a colhe.

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