Igor Franco — Lava Jato F. C.

 

(Foto: WallPaper Safari)

 

 

Há alguns dias, acompanhamos o histórico voto do Ministro Herman Benjamin, do TSE, no processo de cassação da chapa Dilma-Temer. Perdidas no meio da leitura que durou dez horas havia frases primorosas pela condenação de uma eleição às custas de todas ilegalidades possíveis. Quanto desperdício de energia: o relator poderia tê-las dito, apenas. O belo deve ser simples. Também o feio deve sê-lo: 95% dos trabalhos acadêmicos da área de humanas, por exemplo, com toda sua inutilidade em linguagem ininteligível, poderiam ser descartados. Firmo o compromisso ser sempre direto. Em qual dos adjetivos o texto se enquadrará, deixarei a cargo do leitor.

Busquei alguma outra pauta para o primeiro texto, mas a tentativa foi vã. Em qualquer ponto do tempo, nos últimos três anos tornou-se impossível não falar da Lava Jato e seus desdobramentos. A cada semana nos defrontamos com mais detalhes escabrosos de velhos e novos enredos. Alguém se lembra do temor de Marcelo Odebrecht implodir a república? Isso é notícia velha. A tremenda incompetência política e econômica de Dilma a fez cair antes de ser alvejada pelos relatos de corrupção. Quis o destino que o inverso acontecesse com seu sucessor. Do alto de sua maestria para domar nossos parlamentares e da sensibilidade para entender a urgência das reformas fiscais, Temer foi abatido pela escandalosa gravação de Joesley Batista.

O mesmo Joesley foi capa da Época desta semana com uma contundente entrevista em que afunda ainda mais o punhal cravado no peito do presidente. O relato é cristalino: Temer é corrupto e comandava o esquema de propinas do PMDB. A internet rapidamente foi tomada por grandes manifestações de delírio de parte da esquerda, que enxerga nisso uma espécie de absolvição do grande comandante do Petrolão, e de protestos de parte da direita, que cobra a Joesley a mesma contundência em relação ao chefe da seita petista.

Substituindo Moro por Janot, esses últimos, ao fazerem isso, embarcam nas mais fantasiosas narrativas de conspirações armadas para favorecer Lula às custas de Temer. Tolinhos: um Estado operado para satisfazer seus próprios operadores, que arrecada R$ 2 trilhões em impostos, tem espaço suficiente para muitos ladrões de grande porte. Lula, aliás, foi acusado pelo dono da JBS de institucionalizar a corrupção como a conhecemos hoje o que, convenhamos, não é nenhuma novidade para qualquer pessoa não adepta à seita petista. Ao trilhar caminho pela mesma estrada que exauriu o que restava de dignidade ao discurso petista, a direita da teoria conspiratória contribui para diminuir os ganhos recentes de credibilidade no renascimento do seu discurso.

Temer tende a sangrar por um longo período. Mantendo sua sustentação no Congresso através da base parlamentar oriunda da viciada eleição de 2014, o presidente permanece no poder, ainda que refém do mais descarado fisiologismo que nos remete ao pré-impeachment dilmista. Fora de Brasília, Temer confia nos últimos iludidos em sua capacidade de aprovar as necessárias reformas fiscais. As outrora poderosas manifestações de rua eram movidas por um sentimento — sepultado em 17 de maio último — de que uma mudança de poder não era apenas eticamente necessária, mas minimamente eficaz em moralizar as instituições políticas. Obviamente, não estou considerando as fracassadas e sucessivas edições da Marcha da Mortadela.

As contas com nossos erros passados somente poderão ser quitadas em 2018. Para mim, não há qualquer outra escolha digna que não seja rejeitar projetos populistas e, principalmente, apoiar candidatos que sejam apoiadores inabaláveis da Lava Jato. A sobrevivência inexplicável dos procuradores e juízes — leia-se Moro — até aqui só pode ser entendido como um sinal de boa vontade divina ao povo brasileiro. De Lula, passando por Dilma a Temer, que seja preso cada um que se mostrar maculado pelos pecados da corrupção. Estou com a Lava Jato até pelo impeachment do Papa Francisco, se preciso (e isso não seria má ideia!).

Entre a desonra e a instabilidade, não podemos escolher a desonra, pois a instabilidade não se resolverá no curto prazo. A saída de Temer do poder é imperativa, ainda que precisemos enxotar um Rodrigo Maia da vida daqui a seis meses.

 

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