Gustavo Alejandro Oviedo — Veep

 

 

 

Presidente Meyer:  Dá pra colocar a culpa num outro país por uma coisa que ele não fez?

Assessor:  Tem sido a pedra angular da nossa política externa desde a guerra hispano-americana.

 

Esse é um típico diálogo do seriado Veep, do canal HBO, estrelado por Julia Louis Dreyfus, que no último domingo ganhou o seu sexto Emmy consecutivo como melhor atriz de comédia. Dreyfus obteve um Emmy por cada temporada do programa, um fato inédito na história da televisão norte-americana.

Veep mostra os bastidores da alta política dos Estados Unidos, com humor, cinismo e uma alta dose de palavrões e obscenidades. Sua personagem principal é Selina Meyer (Dreyfus), uma ex-senadora que, após perder a eleição interna do seu partido, vira vice-presidente da nação – daí o título do seriado.

Selina Meyer é ambiciosa, inescrupulosa, egocêntrica e um pouco libertina. Isto é, tem todos os atributos de um grande estadista. No entanto, o caminho até o seu objetivo final, a presidência, está atravessado de obstáculos. Não bastasse se encontrar num dos cargos mais irrelevantes da democracia, a vice-presidência, Meyer convive com um grupo de assessores e subordinados que costumam atrapalhar os seus planos. A entourage da vice-presidente se compõe de um assistente pessoal (Gary) cujo servilismo e submissão nunca é apreciado pela chefa; um diretor de comunicações (Mike) que sempre se atrapalha na hora de explicar as declarações ‘fora de contexto’;  uma chefa de gabinete (Amy) que pouco tem de ser humano; e um jovem assessor (Dan) tão ousado e interesseiro quanto a sua superiora.

O leque da fauna política de Veep oferece outros interessantes e divertidíssimos estereótipos da política universal, como um deputado desbocado que não consegue elaborar uma frase sem dizer uma grosseria, mas que diante das câmeras se comporta como uma princesa. Ou o estrategista chato, obcecado pelas pesquisas, incapaz de tomar uma decisão que não esteja respaldada pelos ‘números’ – segundo este personagem “um decimal mal colocado pode matar um diabético”.

Contemporânea de House of Cards – apenas um ano mais velha – Veep conta praticamente a mesma história: a do político maquiavélico que faz o impensado para escalar até o topo do poder executivo. No entanto, enquanto House of Cards é muitas vezes solene e esquemática (tudo o que Frank Underwood planeja, dá certo) Veep é desenfadada, caótica e vertiginosa. Selina Meyer está constantemente ganhando e perdendo, e são seus respectivos surtos de euforia e de fúria, sempre adereçados com frases incorretíssimas, que fazem da personagem uma figura inédita na TV. Uma das minhas linhas favoritas é aquela em que Meyer, em plena campanha, deve se posicionar a favor ou contra do aborto: “se os homens engravidassem, os abortos seriam feitos no caixa eletrônico”.

O sucesso do seriado é indissociável do talento da sua protagonista, Julia Louis Dreyfus, uma atriz que conseguiu derrubar vários mitos televisivos. O primeiro deles diz respeito à ‘maldição Seinfeld’ que teriam sofrido os protagonistas daquela sitcom, e pela qual nenhum dos seus ex-integrantes conseguiram emplacar outro sucesso. Os seis Emmys ganhos põem fim ao assunto. Outra lenda abatida por Dreyfus é a da suposta inferioridade feminina para a comédia. E, finalmente, aquele mito que é mais cruel para as mulheres: a de que o passar dos anos é inimigo da beleza. A Selina Meyer é uma Milf muito mais bonita, e interessante, do que a fofinha Elaine Benes.

 

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