O ano eu não sei precisar. Foi lá pelos idos de mil novecentos e cinquenta. Na segunda metade daquela década. Talvez 1956. No Externato Eucarístico do saudoso Padre Antônio Ribeiro do Rosário. Hilda Terezinha Queirós era a nossa docente. Formávamos uma turma de discentes da terceira série primária: Cláudio César Soares, Dirceu Castro, João Ranulpho, Maria Lúcia Ribeiro Gomes Mosso, Plínio Valle Machado, Rosane Sampaio, Roseli Martins e Sueli Maria de Souza Ferreira são nomes dos colegas de quem me lembro. E eu entre eles. Com alguns, que sobrevivem em Campos, Niterói ou Rio de Janeiro, ainda mantenho contato.
Nesse grupo tinha, também, o Antônio Carlos de Souza Pereira, nascido em 22 de junho de 1948, em Campos. Seu nome artístico é Tonico Pereira, que, como grande ator, ganhou projeção nacional. Foi ainda no período escolar que ele estreou no palco do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora – educandário que na época só aceitava meninas. Fez a Paixão de Cristo – um texto teatral que, na montagem campista, ganhou direção de uma espécie de santa que o Vaticano não beatificou: a irmã Zilda de Castro, nome que hoje é lembrado como creche, no Caju; como escola municipal, em Conselheiro Josino; e como rua, no Parque Corrientes. Foi Tonico que ganhou o papel de Jesus.
Ele próprio contou essa história na obra “Tonico Pereira — Um ator improvável — Uma autobiografia não autorizada”, uma coletânea de textos que Eliana Bueno-Ribeiro reuniu em livro. “Precisavam de um menino para a voz de Cristo e foram procurá-lo no Externato Eucarístico, que era misto. Fomos para a final um colega chamado Humberto e eu. E ganhei. Assim, meu primeiro texto em teatro foi: Pedro, tú és pedra e sobre esta pedra edificarei minha igreja. Tudo o que ligardes na terra, será ligado no céu. E tudo que desligardes na terra será desligado no céu. Depois fiz também A Aparição de Fátima e outras encenações religiosas de colégio”.
Esse Tonico ator ficou bastante conhecido. No currículo são vários espetáculos teatrais, diversas novelas e seriados e muitos filmes. Mas tem o Tonico torcedor. Torcedor do Goytacaz. É esse que eu quero exaltar neste artigo. Porque, nesse contexto, não penso que haja alguém como ele. Distante de Campos desde os 17 anos de idade, Tonico nunca esqueceu o seu time do coração, onde jogou como juvenil. Quando eu o interroguei sobre o seu time no Rio, cidade onde está radicado há tanto tempo, ele respondeu curto e grosso: Goytacaz. Como disse o poeta, Tonico é Goytacaz em Oropa, França e Bahia.
Eu o admiro por essa firmeza de paixão. Eu, por exemplo, que também torço sobretudo pelo sucesso do alvianil, tenho um segundo time. Sou Vasco. Mas Tonico é Goytacaz e coloca essa paixão à vista de todos. Mesmo nos piores momentos, no inferno astral da agremiação, ele sempre colocou o alvianil na vitrine. Por isso é adorado pela torcida e tem até arquibancada com o seu nome no estádio que leva o nome de seu tio, Ari de Oliveira e Souza. Não seria agora, quando o clube consegue um êxito duplo — o título da Série B do Campeonato Estadual e o consequente direito à disputa da seletiva de acesso à séria A — que, como se diz na gíria, ele iria afinar.
Nesse instante em que o país o aplaude por mais um sucesso, de seu personagem novelesco — o Abel de A Força do Querer —, ele comparece aos principais programas da TV Globo com a camisa azul do Goytacaz. Dias atrás vestiu-se de torcedor tanto no Encontro com Fátima Bernardes quanto no Redação SporTV, do André Risek. No velho Sem Censura, da TV Brasil, de 19 de setembro, o assunto foi a novela em sua fase final. Mas a roupa, a camisa, foi o manto azul do clube centenário, pioneiro do futebol campista. Ao abraçar com tanto ardor uma de nossas instituições de mais mística, penso que Tonico merece este artigo. Mas, mais que isso, merece respeito e o carinho de todos os cidadãos campistas.