Wladimir entre os Bacellar, Castro e Garotinho a governador

 

Por Aluysio Abreu Barbosa e Aldir Sales

 

 

Wladimir Garotinho, André Ceciliano, Anthony Garotinho, Rodrigo Bacellar e Cláudio Castro com Marquinho Bacellar e os demais vereadores de oposição na missa da Coagro (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

A coluna Ponto Final, de opinião da Folha da Manhã, adiantou em sua edição de quarta (18): “Com Clarissa e Waguinho, prefeito de Belford Roxo, Garotinho foi ontem (17) à sede do União de Brasília, conversar com o presidente nacional, deputado federal Luciano Bivar. Daria duas opções em outubro ao seu novo partido: ou vem a governador, ou a nada”. O Ponto Final de quarta também antecipou o anúncio de Garotinho: “O ex-governador deve anunciar hoje (quarta) seu destino”. E, na mesma quarta, ele anunciou o que a Folha havia adiantado. Literalmente, repetiu: “Não serei candidato a nada se não for candidato a governador”.

Não por acaso, a nota em que a Folha adiantou os passos e palavras do político da Lapa, já indagava desde o seu título: “Garotinho: governador ou nada?”. Embora venha cometendo sucessivos erros de avaliação desde a eleição a governador de 2014, que disputou sem conseguir ir nem ao segundo turno, quando Luiz Fernando Pezão (MDB) derrotou Marcelo Crivella (Republicanos), o conhecimento político de Garotinho não deve ser desprezado.

Fábio Ribeiro

Garotinho avisou — Na eleição a presidente da Câmara Municipal de Campos, por exemplo, o ex-governador insistiu para que o pleito só fosse realizado com a contabilidade de 15 vereadores pró-governo. Presidente da Casa, Fábio Ribeiro (PSD) podia tentar sua reeleição até dezembro, mas resolveu marcá-la em 15 de fevereiro contando ter apenas 13 edis, maioria mínima. E, embora não se admita isso publicamente no governo, ninguém dentro ou fora dele supõe que Fábio tenha decidido algo de tamanha importância sem a anuência do prefeito Wladimir Garotinho (sem partido).

Maicon Cruz

O resultado, todos já sabem. Conhecido desde suas origens atafonenses, suas duas candidaturas a vereador derrotadas em São João da Barra e sua elevação à burocracia do ensino público quando trabalhou com o ex-secretário estadual de Educação Pedro Fernandes, antes deste acabar preso, o edil Maicon Cruz (PSC) assinou um termo de compromisso com a reeleição de Fábio, orou com ele por sua reeleição, mas votou em Marquinho Bacellar (SD). E definiu a vitória deste, pelos mesmo 13 a 12 que esperava ter o governo. Que depois anulou a eleição para ganhar tempo, se a Justiça não abreviar a questão, até dezembro.

Igor Pereira

Histórico do remanejamento — Garotinho estava certo. Fábio e Wladimir, errados. No que já não é mais segredo, o prefeito se isolou após a derrota na Câmara. Ele sabe bem a conta que seu governo pagará pelo erro no biênio 2023/2024. A oposição já acena com a fatura: a diminuição do percentual de remanejamento do Orçamento, dos atuais 30%, para apenas 5%. Manobra que o vereador Igor Pereira (SD), aliado de Rodrigo Bacellar (hoje, PL) desde a eleição deste a deputado estadual em 2018, tentou no final de 2019. Ali, no comando do G-8, Igor liderou um movimento no Legislativo goitacá para tentar limitar o remanejamento do então prefeito Rafael Diniz (Cidadania), de 30% para 10%.

Fred Machado

A manobra só foi derrotada porque, então deputado federal, Wladimir já antevia em 2019 a possibilidade de concorrer e vencer a prefeito de Campos em 2020. Ele se aliou pontualmente a Rafael contra Igor, o G-5 e os Bacellar. O acordo para chegar aos 20% de remanejamento foi costurado pelo então presidente da Câmara, vereador Fred Machado (Cidadania). Nas idas e voltas da política, Fred e boa parte do grupo de Rafael hoje estão com os Bacellar. Fred, diga-se de passagem, assim como Raphel Thuin (PTB) e Bruno Vianna (PSD), foram três edis que o governo perdeu de graça, na votação do Código Tributário em maio de 2021, em outro erro absolutamente desnecessário.

 

Marquinho Bacellar ao microfone da Folha FM 98,3 na terça (Foto: Genilson Pessanha/Folha da Manhã)

 

“Esteira rolante” aos Bacellar — O fato é que se a eleição da Mesa Diretora da Câmara fosse hoje, como o próprio Marquinho revelou em sua entrevista ao Folha no Ar da última terça, os vereadores Dandinho Rio Preto (PSD), Marcione de Farmácia (União) e Silvinho Martins (MDB) já estão com um pé no grupo dos Garotinho e outro no dos Bacellar. Se Cláudio Castro (PL) se reeleger governador, após assumir a liderança do deputado federal Marcelo Freixo (PSD) na pesquisa Genial/Quaest de 12 a 15 de maio, e se Rodrigo Bacellar se reeleger deputado estadual, aposta considerada pule de 10, o muro que hoje separa os vereadores do grupo dos Garotinho do grupo dos Bacellar, nas palavras do próprio Marquinho à Folha FM, se transformará numa “esteira rolante”.

Espremido entre o poder crescente dos Bacellar, na Câmara de Campos e talvez até numa possível futura presidência de Rodrigo na Alerj, Wladimir também enfrenta o “fogo amigo” dentro da própria família. Descontente com o que considera falta de apoio do filho prefeito à filha deputada, bem como com uma discussão áspera por telefone entre Wladimir e Garotinho, a ex-prefeita Rosinha (União) postou em seu Facebook na terça (10) da semana passada: “Wladimir, você só chegou onde está com o carimbo Garotinho. Não pelos seus belos olhos verdes”.

 

(Reprodução do Facebook)

 

Dois dias depois, os bombeiros saíram de Campos ao Rio. Os edis Fábio, Álvaro Oliveira (PSD) e Juninho Virgílio (União) e os ex-vereadores Thiago Virgílio (União) e Thiago Ferrugem (União) se encontraram com Clarissa. Novamente nas redes sociais, Rosinha postou a foto. O que não tornou público foi o acordo firmado para a pacificação familiar: o grupo se comprometeu em lutar para dar 20 mil votos a Clarissa em Campos, a deputada estadual, e outros 20 mil à reeleição de Bruno Dauaire (União) à Alerj, nome de Wladimir. Como advertiria o craque Mané Garrincha ao técnico Vicente Feola na Copa de 1958: “só faltou combinar com os russos”.

 

Thiago Ferrugem, Juninho Virgílio, Clarissa Garotinho, Fábio Ribeiro, Álvaro Oliveira e Thiago Virgílio no Rio da última quinta (Foto: Facebook de Rosinha Garotinho)

 

Frederico Paes

Fator vice — Fora da família, mas ainda dentro do grupo, Wladimir pode ter mais motivos para preocupação. Há quem comente que o médico Paulo Hirano, que seria o vice de Rosinha como prefeita em 2008, tenha sido posto agora pelo casal no governo do filho como anteparo aos ambiciosos planos de mudança que o vice-prefeito Frederico Paes tinha para a Saúde Pública de Campos, baseado em sua experiência como gestor hospitalar.

O fato é que, antes de aceitar compor chapa com Wladimir, que bancou seu vice contra processos de Rodrigo na Justiça Eleitoral, Frederico chegou a ser sondado como possível candidato a prefeito de Campos pelo grupo dos Bacellar para 2020. Após uma troca forte de palavras com Marquinho em 2021, Frederico tem buscado criar pontes com Rodrigo. Que chegou a ser convidado pelo vice-prefeito, também presidente da Coagro, para a missa de abertura de safra da usina Sapucaia arrendada ao Grupo MPE. Rodrigo não foi. Mas Cláudio Castro esteve lá. Como oito vereadores da oposição, incluindo Marquinho. Entre os edis governistas, mas com um pé lá e um cá, foram apenas Marcione e Silvinho.

Castro garante Wladimir — Wladimir também foi ao evento na Coagro. E os presentes mais atentos notaram em certo momento as faces tensas de Wladimir e Castro, em diálogo mais reservado que mantiveram. Uma mosca que os sobrevoasse poderia ter ouvido Wladimir se queixar da influência de Rodrigo na Câmara e a confissão do receio em acabar cassado por um Legislativo dominado pela oposição. Assim como teria ouvido a palavra firme do governador ao prefeito: “Eu garanto você!”

Por isso Garotinho se lançou pré-candidato a governador. Tem conhecimento empírico de sobra para saber ter pouca ou nenhuma chance de voltar ao Palácio Guanabara. Como sabe, e Castro também, que pode tirar votos deste, sobretudo no Norte e Noroeste Fluminense, Região Serrana e na populosa Baixada Fluminense. Não por acaso, como o Ponto Final de quarta revelou, o ex-governador levou um prefeito da Baixada, Waguinho (União), de Belford Roxo, junto com a filha e deputada federal Clarissa Garotinho (União), para o encontro de terça em Brasília com o presidente nacional do União, o deputado federal Luciano Bivar. De quem teve sinal verde para se colocar como “bode na sala” de Castro.

Wladimir precisa de Castro para manter o Restaurante Popular, concluir a reforma do HGG e retomar as obras do Parque Saraiva (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

Enquanto as convenções não vêm — Apoiador declarado da reeleição de Castro, de quem precisa em iniciativas fundamentais ao município, como a manutenção do Restaurante Popular, a conclusão da reforma do Hospital Geral de Guarus (HGG) e a retomada das obras no Parque Saraiva, Wladimir foi perguntado na noite de quinta (19) pela reportagem da Folha sobre o lançamento da pré-candidatura do pai a governador. Foi em evento no Palácio da Cultura, para marcar os 21 anos do Arquivo Público Municipal de Campos e sua reforma em parceria com a Uenf e a Alerj. Cujo presidente, André Ceciliano (PT), também esteve presente. O prefeito respondeu:

— Prefiro não comentar, até porque as convenções partidárias ainda acontecerão. Sou grato ao governador Cláudio Castro, nunca neguei isso. Mas quanto à questão de candidatura, vou esperar as convenções partidárias.

Assim como as palavras do pai na sua pré-candidatura a governador, as de Wladimir sobre ela também foram adiantadas no Ponto Final de quarta:

— Se (Garotinho) for a governador, teria pouca chance. Mas poderia dificultar a vida de Cláudio Castro. Se for a nada, Clarissa poderia vir a deputada federal, com Juninho Virgílio a estadual. Entre os edis governistas, Thiago Rangel (Podemos) e Marcos Elias (PSC) também são pré-candidatos à Alerj. O ex-governador deve anunciar hoje (na quarta, como fez) seu destino. Que, até as convenções, é sujeito a mudanças.

 

Página 2 da edição de hoje da Folha da Manhã

 

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