Joseli Mathias — Os brasileiros sairão perdendo

 

(Igo Estrela/Estadão Conteúdo)

 

 

Por Joseli Mathias(*)

 

Nesses últimos 17 anos, a data da eleição sempre foi, para mim, um dia de grande empolgação, tanto pelo dever cívico, quanto pelo meu papel como jornalista. Mesmo após meses de trabalho duro durante uma campanha eleitoral e sabendo que o dia D não tem hora para acabar, eu chegava à redação animada, com intensa carga de adrenalina correndo na veia. Ontem, entretanto, o dia foi cinza, e não só pelo tempo chuvoso, que parecia emoldurar nosso futuro. Antes de seguir para o jornal, fui à urna deixar meu voto, mas com a sensação de batalha perdida. Já sabia que não faria diferença em um cenário tão polarizado, mas não aceitava me render ao “voto útil”.

Apesar de fazer o que amo, o dia foi sombrio e senti que grande parte dos meus colegas de trabalho compartilhava essa impressão. E, ao final, foi ainda mais desconcertante, não só por enxergar um beco sem saída para o meu país, mas por ver nas redes sociais a reação à confirmação de um segundo turno.

Os ataques ao povo nordestino me enojaram, como me enoja e revolta a batalha desonrosa que usa a troca de insultos e de ameaças para tentar eleger seu candidato, cada um em defesa de seus interesses particulares e nunca pelo bem coletivo.

A campanha de 2018 me revelou muita coisa, além da triste constatação da cultura de ódio tão próxima. Como a deprimente prática de militantes dos dois extremos imputarem a si uma superioridade que não têm, mas ao fazer campanha se concentrarem em desconstruir o outro candidato ao invés de focar em valorizar as propostas do seu. É irônico e o que mais se vê nas ruas e no ambiente virtual.

Tão irônico quanto o fato de os eleitores mais extremistas de Bolsonaro serem, na realidade, crias rebeldes do PT. Porque a campanha do capitão não teria tomado tamanha proporção se não fosse a ingerência do PT e a institucionalização da corrupção pelo partido fundado sobre ideais democráticos e que, caso vença o segundo turno, não deixará o Brasil em situação mais confortável que a proposta pelo adversário. Em qualquer um dos dois cenários, nós, brasileiros, sairemos perdendo. E, mesmo quem hoje não enxerga, logo perceberá que falhamos, mais uma vez.

Não tenho hábito de postar sobre política na minha rede social, mas é um desabafo de uma pessoa que não sabe o que nos espera ali na frente, como mulher, jornalista, esposa e mãe de cidadãos pretos e nordestinos e amiga de cidadãos gays e lésbicas, mas também como uma cidadã que não quer mais ver o Brasil afundado em corrupção.

 

(*) Jornalista, editora do Folha 1

 

Publicado hoje (09) na Folha da Manhã

 

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