Detalhes do sequestro de Cristiano Tinoco por amigo e a solução do caso

 

 

Assunto do dia

Em toda a cidade, ontem não houve outro assunto. A prisão e o envolvimento confesso do empreiteiro José Maurício dos Santos Ferreira Júnior no sequestro do amigo e também empreiteiro Cristiano Tinoco, em 3 de dezembro. Zé Maurício, como é mais conhecido, foi preso por volta das 6h30 em sua casa, no luxuoso condomínio Sonho Dourado, atrás do Shopping Estrada. Ele foi apontado por outros dois participantes da ação criminosa como seu mentor. Um deles, o vigilante Junio dos Santos Costa, também foi preso ontem e confessou ter sido o elo de ligação entre Zé Maurício e os três autores do sequestro.

 

Todas as instruções

Quem também apontou Zé Maurício como mentor do sequestro foi outro vigilante, Marven Chagas Batista. Ele foi preso em 17 de janeiro, próximo à Feira de Santana, na Bahia. Na Delegacia de Homicídios de lá, deu a confissão mais detalhada sobre o caso. Ele conhecia Junio, que ajudou Zé Maurício a planejar o sequestro, desde que ambos trabalharam juntos como seguranças da boate Vip Night, em Guarus. Segundo Marven: “Zé Maurício ligou certa vez e disse: ‘Junio lhe passou todas as instruções? Quando você pode agir?’ (…) todas as instruções eram repassadas por Junio, que recebia as ordens de Zé Maurício”.

 

A preparação

Municiado pelas informações de Zé Maurício, Marven detalhou o preparo antes da ação: “durante quatro meses, ia à casa de Cristiano Tinoco, onde ficava esperando o mesmo sair e o seguia, para ver os locais que ia”.  Com o roteiro e hábitos de Cristiano mapeados, Marven contou: “um dia Junio ligou para o declarante, informando que estaria embarcado no dia do sequestro, mas que Zé Maurício já teria dado ‘sinal verde’ para cometerem o crime”. Só a partir daí entraram os outros dois bandidos que, junto com Marven, executaram a ação: Carlos José Gonçalves do Espírito Santo, o “Cacá”, e André Ângelo Monteiro, o “Cabeça”.

 

A ação

Como foi o único que participou da elaboração do plano e sua execução, o depoimento de Marven foi o mais completo. Foi ele quem abordou Cristiano no dia 3, que saía da secretaria municipal de Obras. Ele o chamou pelo nome, levantou a blusa, exibiu o revólver e assumiu a direção do seu carro, sendo seguido em outro veículo por Cacá e Cabeça. Pararam no Posto do Contorno e depois seguiram à residência de Cristiano. Como o empresário não tinha dinheiro em casa, ele lhe deu algumas joias e negociou com os três bandidos. Ligou para um amigo, que lhe levou R$ 192 mil. Antes de saírem, a esposa de Cristiano chegou e foi também rendida.

 

Contradição

Após ser preso ontem, Junio também admitiu sua participação no sequestro e apontou Zé Maurício como seu mentor: “por volta do mês de julho, do ano de 2018, foi procurado por José Maurício para planejarem e o declarante executar um roubo a um empresário chamado Cristiano Tinoco”. Zé Maurício confessou ter participado do crime. Ele disse que “incialmente receberia uma parte do proveito obtido com o crime, mas posteriormente avisou a Junio que não queria mais nada do que fosse obtido”. Junio, no entanto, o desmentiu: “Marven havia fugido com o dinheiro do resgate” e “José Maurício se revoltou com o desfecho”.

 

Detalhe do Rolex

Em parte, a versão de Junio foi confirmada pelo próprio Zé Maurício: “Junio contou que Marven, após o assalto, teria fugido com todo o dinheiro, dando ‘banho’ em todo mundo”. Foram de Marven as afirmações mais fortes sobre a autoria intelectual: “Zé Maurício não participou no dia do crime, mas foi o mentor do sequestro”. A atenção policial ao empresário surgiu por um detalhe. Uma pergunta dele sobre um relógio Rolex de Cristiano, no convívio de ambos como amigos, foi repetida durante o sequestro. As suspeitas sobre Zé Maurício foram confirmadas pela investigação. E reforçadas ontem pela confissão da sua participação.

 

Eficiência policial

Como os depoimentos confirmam a versão inicial do resgate de R$ 192 mil, caíram por terra as especulações feitas por um perfil nas redes sociais ligado ao ex-governador Anthony Garotinho (PRP). Nele foi dito que os bandidos teriam encontrado R$ 1,8 milhão na casa do empresário. A intenção era tentar explorar politicamente o caso, já que Cristiano é irmão do também empresário Cesinha Tinoco, chefe de gabinete do prefeito Rafael Diniz (PPS). Mais do que o envolvimento de um amigo no caso, só outra coisa ontem foi tão comentada: a eficiência da investigação da Polícia Civil de Campos, comandada pelo jovem delegado Pedro Emílio Braga.

 

Pulicado hoje (25) na Folha da Manhã

 

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