Artigo do domingo — Hans Muylaert: após o fim da festa, a arrumação incomoda

 

 

Hans Mulaert, psicólogo, diretor municipal de Turismo e coordenador regional do PV

E depois da festa…

Por Hans Muylaert

 

Campista que se preze gosta de festa, receber os amigos para uma boa conversa e se possível que dure pelo menos oito horas de muita alegria e fartura. Não pode faltar nada, que venham todos os amigos e os amigos dos amigos; são todos convidados.

Campos, já foi conhecida pelas festas muito comemoradas com bolos de fubá, “isso sim era festa, todos os amigos partilhavam e saboreavam até os farelos”, e eram tantas e tantas que nem se preocupavam com desperdícios. Festas embaladas por músicos astronômicos que faziam todos pedirem bis.

Saber quem seria o próximo festeiro sempre foi uma questão importantíssima a ser respondida, até porque iria definir as atrações. E não poderia ser uma festinha de quatro horas, tinha que durar oito horas. Nem que para isso o festeiro do momento já comprometesse as horas de festa dos próximos eventos. Nessa época já aprimoraram as guloseimas, até o tradicional bolo de fubá foi substituído. Entrou em cena o bolo amélia.

E o que há de ruim na festa? Consegui achar uma resposta, o depois da festa!

O pior momento da festa são as horas que gastamos para arrumar toda bagunça que fica de horas e horas de eventos que não se preocuparam com a sustentabilidade, derramava cerveja, deixava a carne esfriar e virava lixo. Ninguém queria fazer vaquinha para continuar a festa, nem ao menos ajudar a desentupir o vaso sanitário que estragou, as paredes que ficaram sujas, o telhado que por brincadeira da natureza o vento levou. Ninguém quis segurar.

Até que o arrumador, já com pouco mais de três horas de faxina, ainda não acabou o seu serviço – há de se reconhecer que trabalho pesado e desgastante esse cara encarou. Já querem fazer outra festa só porque a garagem já está arrumada. E ele avisa: outra realidade, tem muito trabalho ainda, muitas horas serão gastas para terminar de catar todos esses descartáveis, recuperar o jardim, recuperar a moral da nossa casa para que ela fique de pé.

Os próximos eventos devem ter a participação de todos. A piscina tem que estar com sua água transparente, para que possamos observar a todos com segurança. Os copos têm que ser sustentáveis porque não tem mais como repor. A comida primeiro para as crianças, sem desperdício, e cuidar da segurança dos nossos idosos.

O responsável pela arrumação não tem mais dúvidas que muitas horas de festa exigem muito mais horas de faxina. E que para organizar toda a bagunça teve de aplicar produtos pesados de limpeza, teve de fazer reformas e até destruir falsos pilares para ganhar circulação de ar novo.

A arrumação incomoda a todos pela mudança que ela provoca, experimente arrumar seu armário e esteja disposto a abrir mão de roupas que você sempre gostou, daquele sapato confortável e verá o quanto é difícil; mas necessário para a verdadeira arrumação.

 

Publicado hoje (02) na Folha da Manhã

 

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