Hamilton Garcia: “Não se governa mais Campos com o ‘meu grupo político’”

 

Cientista político e professor da Uenf, Hamilton Garcia analisou os candidatos e a eleição a prefeito de Campos neste domingo (Foto: Folha da Manhã)

 

“Eu andei acompanhando várias entrevistas que vocês fizeram na Folha da Manhã, e o que a gente vê são candidatos (a prefeito de Campos) falando do ‘meu grupo político’. Então eles passam diretamente do seu grupo político para a municipalidade, sem mediação. Isso aconteceu com o próprio Rafael (Diniz, Cidadania), que governou com o grupo político dele. Não é negociar com a Câmara, é negociar com as lideranças políticas da cidade. Isso Rafael não foi capaz de fazer e acho que ele nem se apercebeu disso. E os candidatos alternativos a ele tampouco percebem que a dimensão política da cidade exige uma coalizão de forças. Rafael conseguiu tirar Campos das páginas policias para colocar nas páginas políticas, mas isso ele não conseguiu fazer. Olhando para as lideranças locais, elas ainda estão no tempo do ‘meu grupo político resolve’. Não se governa Campos com o ‘meu grupo político’, é preciso dar um passo além”. Foi o que disse o cientista político Hamilton Garcia, professor da Uenf, em entrevista na manhã de hoje no Folha no Ar, da Folha 98,8 FM.

— Por que que eles (Wladimir Garotinho, PSD, e Caio Vianna, PDT) estão lá em primeiro lugar (nas pesquisas eleitorais)? Por causa das oligarquias familiares. Mas se elas são importantes para ocupar o espaço político que foi deixado com o fracasso do governo Rafael, não são suficientes para se instituir um governo. Sobretudo nos dois primeiros anos do próximo governo, você vai ter que distribuir sacrifícios. Para que as pessoas aceitem, se coloca a questão do pacto: sacrifício para quê? Sacrifício para o “meu grupo”? Não faz sentido. Ou sacrifício que você faz é para todos, ou o que você vai ter são greves, sabotagens, uma Câmara baseada em ‘Chequinho’. E não funciona mais, até porque o ‘Chequinho’ murchou. Ou então vai afundar um pouco mais na crise (financeira) e nas consequências da crise. Porque a gente acha que a situação está muito ruim, mas não há ruim que não possa piorar. A questão é se as pessoas vão correr para um falso porto seguro do passado, que as oligarquias representam. É aquela ideia de que ‘o passado era bom’. Mas, votando nas oligarquias, o passado não volta, não voltam as condições econômicas; voltam só as oligarquias — advertiu o cientista político.

Ao final do Folha no Ar, o professor Hamilton respondeu a um pinga-fogo, com um resumo do seu pensamento sobre cada um dos 11 candidatos a prefeito de Campos para as urnas de 15 de novembro:

 

Wladimir Garotinho — “É o desafio da mudança geracional. Nem sempre a gente tem bons sinais disso. Sérgio Cabral também foi uma mudança geracional importante na política do Estado do Rio do Rio de Janeiro, e deu no que deu”.

Caio Vianna — “Da mesma maneira. Só que tenho a impressão que Caio Vianna também tem o problema da inexperiência política. Wladimir teve a experiência parlamentar (como deputado federal), está mais apetrechado que o Caio Vianna, que me parece muito arrogante”.

Dr. Bruno Calil — “Eu conheço pouco o candidato, mas acho que ele não se preparou adequadamente para essa eleição”.

Rafael Diniz — “Um prefeito que enfrentou a crise, não foi bem sucedido, mas pelo menos ele sabe o tamanho do pepino que ele tem que administrar. E me parece que tem que avançar muito em termos da compreensão do quadro político regional e sair da bolha; porque ainda não furou a bolha onde ele está”.

Professora Natália — “Parece uma candidata conceitual, que mostra essa ideia da possibilidade de um governo mais popular, mais aberto à sociedade, mais dialogal. É uma promessa interessante, mas que ainda não galgou o lugar de uma alternativa política”.

Odisséia — “Uma liderança experimentada no sindicalismo, na Câmara de Vereadores, uma pessoa com a capacidade de interlocução ampla. Mas ainda muito presa à pauta sindicalista e também pouco projetada numa candidatura política ampla da cidade”.

Tadeu Tô Contigo — “Um grande comunicador, que ainda se vale dessa possibilidade da comunicação. Pode vir a surfar ondas como comunicador, com as suas promessas. Mas acho que está distante de entender o que está acontecendo com a cidade”.

Roberto Henriques — “Talvez seja o único candidato com uma consciência muito clara, essa visão; eu não vejo nos outros. Pode ser um cacoete de linguagem, mas eu desconfio que não, que é uma consciência profunda da política. Que, no entanto, vai ter que ser refeita nas condições atuais”.

Cláudio Rangel da Boa Viagem — “Ele me surpreendeu nas entrevistas com vocês (no Folha no Ar). Porque apesar do pouco preparo escolar, de expressão, de mídia, ele surpreendeu pelas boas ideias, pelo entendimento que ele tem da realidade. É um candidato que tem muito pouca chance, pela sua forma, mas é bastante compromissado com a cidade”.

Jonathan Paes — “Esse é o candidato que eu menos observei nesse cenário. É muito impetuoso, mas talvez não tenha condições de assumir responsabilidades maiores”.

Dra. Carla Waleska — “Eu comentaria sobre o antigo candidato (a prefeito do PSDB, que desistiu). Beethoven parecia ter se preparado muito para disputar essa eleição, parecia ser o candidato com chances de, se eleito, fazer alguma coisa. Ela, eu não tenho grandes informações, não saberia dizer. Entrou no final do segundo tempo e não fez aquecimento”.

 

Confira abaixo os dois blocos da entrevista com o cientista político Hamilton Garcia, professor da Uenf. O primeiro dedicado ao resultado às eleições presidenciais dos EUA. O segundo, que compôs a matéria acima, sobre as eleições municipais de Campos:

 

 

 

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