De Garotinho prefeito em 1988 ao Código Tributário de Wladimir

 

 

Anthony Garotinho, Arnaldo Vianna, Rosinha Garotinho, Marcos Bacellar, Rafael Diniz, Wladimir Garotinho, Rodrigo Bacellar e Caio Vianna em 33 anos da história de Campos (Montagem: Joseli Mathias)

 

De 1988 ao Código (I)

Quem tem mais de 45 anos e se lembra da primeira eleição de Anthony Garotinho (hoje, sem partido) a prefeito de Campos, em 1988, recorda do sopro de renovação que ela trouxe a uma cidade conservadora. Encheu as velas de um governo criativo, composto em sua maioria de jovens com menos de 30 anos, no clima de esperança na redemocratização de um país saído de uma ditadura militar (1964/1985) e com uma nova Constituição. Bafejado pela sorte do começo da entrada dos recursos dos royalties no orçamento da cidade. Que sedimentaria a transição política na troca do eixo econômico da cidade, da cana para o petróleo.

 

De 1988 ao Código (II)

Os royalties a Campos cresceram gradativamente na década de 1990, em exata proporção às ambições do novo grupo político, cada vez mais individuais e menos de grupo. Após a tentativa frustrada de chegar a governador do Estado do Rio em 1994, Garotinho se elegeu prefeito de Campos novamente em 1996. E deixou seu vice, Arnaldo Vianna (PDT), governando a cidade, para se eleger ao Palácio Guanabara em 1998. Já o médico conceituado se manteve no Cesec no pleito de 2000. Em 16 de fevereiro daquele ano, seria o primeiro a receber, além dos royalties, as ainda mais polpudas Participações Especiais (PEs) da produção de petróleo.

 

De 1988 ao Código (III)

Após quase chegar ao segundo turno presidencial de 2002, quando errou ao queimar suas pontes políticas com o vencedor Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Garotinho conseguiu eleger sua esposa, Rosinha Garotinho (hoje, Pros), governadora no primeiro turno. Ao final da gestão estadual dela, já rachado com Arnaldo em Campos, brigaria também com os aliados estaduais Sérgio Cabral (MDB), Eduardo Cunha (MDB) e o hoje falecido Jorge Picciani (MDB), que dominaram a política fluminense até a Lava Jato. E, sem outra saída, trouxe a mulher para se assenhorar novamente da planície goitacá, em 2008, quando bateu Arnaldo.

 

De 1988 ao Código (IV)

Entre Arnaldo e Rosinha, no auge dos recursos do petróleo, a cidade foi governada por outro médico, Alexandre Mocaiber (hoje, fora da política). Era presidente da Câmara Municipal, quando o prefeito Carlos Alberto Campista (outro, hoje, fora da política) foi cassado pela Justiça. Eleito no pleito suplementar de 2006, Mocaiber foi um prefeito fraco, com pouco controle sobre o próprio secretariado e emparedado por um presidente da Câmara Municipal forte, o ex-vereador Marcos Bacellar (hoje, SD). Força que opôs com coragem aos Garotinho, mas foi insuficiente para impedir a volta destes ao poder, onde ficaram de 2009 a 2016.

 

De 1988 ao Código (V)

Com a queda vertiginosa do preço do barril de petróleo, no final de 2014, no segundo governo Rosinha, veio a época das vacas magras. Refletida na política daquele mesmo ano, quando Garotinho começou a campanha a governador favorito nas pesquisas, mas não conseguiu nem chegar ao segundo turno. Jovem vereador de oposição de brilho, Rafael Diniz (Cidadania) trazia a mística de ser neto do ex-prefeito Zezé Barbosa, liderança de Campos superada pelo Garotinho de 1988. Seria eleito no primeiro turno em 2016, com uma votação consagradora. Mas, sem recursos, seu governo naufragou também pelos próprios erros.

 

De 1988 ao Código (VI)

Além de neto de Zezé, Rafael trazia uma novidade. Foi o primeiro expoente promissor de uma geração de políticos que não foi sufocada, como as anteriores, pela gravidade política de Garotinho, pesada nas arrobas das vacas gordas do petróleo. Foram recursos que Campos nunca teve, desde a fundação da Capitania de São Thomé, em 1536. E dificilmente voltará a ter nos próximos 485 anos. Como Rafael, Wladimir Garotinho (PSD) teve um elogiável desempenho legislativo, como deputado federal. Que deixou para se eleger prefeito em 2020 com o objetivo político e pessoal de exceder a condição de filho de Garotinho.

 

De 1988 ao Código (VII)

Wladimir venceu o pleito de novembro ao bater, além do Rafael desidratado pelo insucesso administrativo, dois outros expoentes da mesma geração de políticos promissores: Rodrigo Bacellar (SD) — que teve o médico Bruno Calil (SD) de preposto — e Caio Vianna (PDT). Não por coincidência, dois herdeiros de adversários políticos de Garotinho: Marcos Bacellar e Arnaldo Vianna. Após conquistar a secretaria estadual de Governo, que a imprensa carioca deu como perdida, Rodrigo definiu a dúvida do vereador Maicon Cruz (PSC) aos 46 do segundo tempo. E, por um voto, colocou na gaveta da Câmara o Código Tributário de Wladimir.

 

De 1988 ao Código (VIII)

Além de Rodrigo, quem provou força na derrota parcial do Código foi o comércio. É o maior empregador do município, junto da Prefeitura. Político promissor ainda mais jovem que Wladimir, Rafael, Rodrigo e Caio, o vereador Bruno Vianna (PSL) votou com o governo em 12 dos seus 13 projetos. Mas, como os edis Raphael Thuin (PTB) e Fred Machado (Cidadania), ficou com o comércio contra o Código. Em 15 de maio, Garotinho disse à base do filho: “O governo tem dentes. E pode morder”. Ontem, na Folha FM, o filho do falecido deputado Gil Vianna completou: “O governo tem dente, o Legislativo e a população também têm”.

 

Publicado hoje na Folha da Manhã

 

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Este post tem um comentário

  1. José Renato Rangel Duarte

    Que retrospectiva maravilhoso a compreensão do momento, olha o passado, quero um futuro melhor para Campos

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