Lula, Bolsonaro, defesa da democracia e pesquisas da semana

 

Lula, Bolsonaro, a defesa da democracia e como ela joga nas pesquisas

 

(Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

A semana foi marcada pelos atos em defesa da democracia no Brasil, diante das ameaças reincidentes de golpe do presidente Jair Bolsonaro (PL)? Sim, foi. Lembraram as belas olas (“ondas”) humanas que se desenvolvem desde a Copa do Mundo do México de 1986, quando se presta mais atenção ao que se passa nas arquibancadas. A quem presta mais atenção ao que se passa dentro do campo, e à alteração do placar, marcaram mais três pesquisas presidenciais da mesma semana. Uma foi nacional, duas circunscritas aos dois maiores colégios eleitorais do país.

Divulgada na segunda (8) e feita da sexta (5) ao domingo (7) anteriores, a primeira pesquisa foi a nacional do instituto FSB, contratada pelo banco de investimentos BTG Pactual. Que, comparada com a pesquisa BTG/FSB anterior, divulgada em 25 de julho, revelou que o capitão tirou quase metade da vantagem do petista. Na consulta estimulada ao 1º turno de 2 de outubro, daqui a exatos 50 dias, Lula tinha 44% de intenções de voto e caiu a 41%. Bolsonaro tinha 31% e subiu a 35%. A diferença entre os dois era de 13 pontos. E, em apenas 14 dias, caiu quase metade para 7 pontos.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

A tirada de diferença de Bolsonaro para Lula foi fora da margem de erro de 2 pontos para mais ou menos, tanto na BTG/FSB de 25 de julho, quanto na de 8 de agosto. E não se deu só sobre a projeção para as urnas do 1º turno. Em 25 de julho, na projeção ao 2º turno de 30 de outubro, Lula venceria Bolsonaro por 54% a 36% das intenções de voto. Já em 8 de agosto, Lula continuaria vencendo a disputa final, mas por 51% a 39%. A diferença no 2º turno cada vez mais provável entre o petista e o capitão era de 18 pontos. E, em apenas 14 dias, caiu um terço para 12 pontos.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Fundamental à definição do 2º turno, a rejeição também veio com diferença bem menor entre Bolsonaro e Lula. Na BTG/FSB de 25 de julho, o capitão apareceu com 58% de brasileiros que não votariam nele de jeito nenhum, contra 42% do petista. Pelo mesmo instituto, em 8 de agosto Bolsonaro reduziu a rejeição em 6 pontos, aos atuais 52%; enquanto Lula subiu a sua em 3 pontos, aos 45% de hoje. A diferença no índice negativo entre os dois era de 16 pontos. E, em apenas 14 dias, caiu na exata metade para 8 pontos. Com a rejeição de ambos próxima aos 50%, qualquer resultado no 2º turno passa a ser aritmeticamente possível.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

O contraste entre as BTG/FSB de 25 de julho e 8 de agosto mostrou de onde saíram as intenções de voto perdidas por Lula e achadas por Bolsonaro. Houve estabilidade entre os eleitores com renda familiar até 1 salário mínimo, de 1 até 2 mínimos e de mais de 5 mínimos. A alteração não se deu no voto dos pobres e ricos, mas da classe média. Entre os que ganham de 2 até 5 mínimos, Bolsonaro passou dos 36% de intenções de voto a 42%; enquanto Lula caiu de 39% aos 30% de hoje. O motivo? O preço dos combustíveis, que 44% dos brasileiros já achavam um pouco menores em 25 de julho. Mas, em apenas 14 dias, chegaram a 50%.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

A segunda pesquisa da semana foi a Genial/Quaest no estado de São Paulo, maior colégio eleitoral do país, com seus 34,6 milhões de brasileiros aptos a votar. Feita entre a sexta e a segunda anteriores, foi divulgada na mesma quinta (11) e sobre o mesmo estado em que se deu o lançamento da “Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito” na Faculdade de Direito da USP. E o retrato da democracia entre os paulistas foi o empate técnico, na margem de erro de 2,4 pontos. Na consulta estimulada ao 1º turno: 37% a Lula, contra 35% a Bolsonaro. Entre julho e agosto, o petista manteve o que já tinha, enquanto o capitão cresceu 3 pontos.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

A pesquisa paulista foi finalizada na véspera da terça (9) em que começou a ser pago o Auxílio Brasil anabolizado de R$ 600,00 a 20,2 milhões de brasileiros pobres. É custeado com os 41,2 bilhões da PEC Kamikaze, rasgando a legislação eleitoral que proibia incremento de programa social em ano eleitoral. Aprovada no Congresso com o apoio do PT e da oposição, é uma Chequinho em escala nacional. Que, a título de matar a fome do pobre, mas só até 31 de dezembro, se destina a comprar o voto do eleitor com o qual Lula tem sua maior vantagem sobre Bolsonaro.

Ainda sem esse dinheiro chegar, a Genial/Quaest paulista de agosto trouxe dados reveladores quando comparada à de julho. Entre o eleitorado do estado que recebe o Auxílio Brasil, Lula ainda lidera isolado. Mas caiu 3 pontos: de 54% a 51% de intenções de voto. No mesmo período, Bolsonaro cresceu significativos 9 pontos: de 20% a 29% no voto dos pobres, eleitor mais majoritariamente lulista, em SP.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

A terceira pesquisa da semana foi a Genial/Quaest no estado de Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país, com seus 16,2 milhões de eleitores. Divulgada na sexta (12), foi feita do sábado (6) à terça (9) anteriores. Ou seja, mesmo que só no último dos seus quatro dias de campo, foi a primeira a pegar o primeiro dia de pagamento do novo Auxílio Brasil. Na consulta estimulada ao 1º turno, Lula ainda lidera fora da margem de erro de 2 pontos. Mas caiu 4 pontos de julho a agosto: de 46% a 42% de intenções de voto. Enquanto Bolsonaro cresceu 5 pontos, de 28% a 33%. A diferença entre os dois, que era de 18 pontos entre os mineiros, caiu na exata metade para 9 pontos.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

O motivo? Entre as Genial/Quaest de julho e agosto, só entre o eleitorado de MG que recebe o Auxílio Brasil, Lula caiu 7 pontos, de 60% a 53% de intenções de voto. No mesmo período, Bolsonaro cresceu os mesmos significativos 9 pontos que ganhou entre os paulistas. E passou de 16% a 25% entre os mineiros que receberam o benefício federal, anabolizado de R$ 400,00 a R$ 600,00 com o apoio do PT e da oposição.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Getúlio Vargas

Mais do que os novos eleitores majoritariamente lulistas que o capitão arregimentou só entre os mineiros, seu avanço total de quase dois dígitos no estado que melhor dá a média nacional é emblemático. O último presidente eleito do Brasil, perdendo em Minas Gerais, foi um tal de Getúlio Vargas. Como foi em 1950, quando bateu o brigadeiro Eduardo Gomes ainda em pleito de turno único, faz um tempinho.

A defesa da democracia é necessária. Mas não quando os contentes consigo mesmos, com suas olas da arquibancada, ignoram o placar alterado pelo jogo dentro do campo.

 

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