Se a última impressão é a que fica, o presidente Jair Bolsonaro (PL) levou a melhor no debate da Band na noite de hoje. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) começou dominando o primeiro bloco, mas ficou na defensiva no terceiro e último. Após ser tocado no ombro por Bolsonaro, o petista se perdeu na contagem do tempo. E, como já tinha feito no debate da Band no 1º turno, em 28 de agosto, não devolveu na mesma moeda os ataques pelos escândalos de corrupção da Petrobras nos governos do PT.
LULA COMEÇA MELHOR — No enfrentamento direto entre os candidatos, o petista começou acossando o capitão com o tema educação. No qual comparou suas robustas realizações na abertura de universidades e institutos federais com a pífia atuação do atual governo. Mas Lula levou a melhor, sobretudo, ao impor a desastrosa condução nacional da pandemia da Covid-19 como tema dominante.
— Pesam os mais de 400 mil brasileiros mortos (desnecessariamente) nas suas costas! — disse Lula mais de uma vez.
O momento mais contundente de Bolsonaro no primeiro bloco, um dos poucos em que conseguiu sair da defensiva, foi após o adversário ter dito que perdeu a sogra para a Covid:
— Fez discurso no caixão na mulher e está se comovendo pela sogra — disse, após mentir descaradamente, dizendo que visitou vítimas de Covid durante a pandemia.
SEGUNDO BLOCO — O bloco seguinte, integralmente dedicado às respostas dos dois candidatos às perguntas dos quatro jornalistas do pool de veículos que promoveram o debate com a Band, foi emblematicamente aberto pela jornalista Vera Magalhães, da TV Cultura. Após ser agredida verbalmente por Bolsonaro no debate da Band no 1º turno, ela não citou o presidente para perguntar sobre as suas ameaças recentes de tentar controlar o Judiciário com o aumento de cadeiras do Supremo Tribunal Federal (STF), como foi feito na Hungria e Venezuela.
Primeiro a responder por ordem definida em sorteio, Lula não perdeu a oportunidade de provocar o adversário:
— Você vai ver, Vera, que eu vou chegar perto da câmera em que você está e não vai ter agressão nenhuma a você!
Ciente de que foi o grande derrotado do debate anterior da Band por seus ataques gratuitos à jornalista no debate anterior da Band, Bolsonaro começou respondendo:
— Prezada jornalista Vera, satisfação revê-la! — mas também aproveitou para dizer que seu adversário só estava ali porque teve sua condenação anulada pelo ministro Edson Fachin, nomeado por Dilma Rousseff (PT) em 2015 após pedir voto a ela em 2010.
TERCEIRO BLOCO — No terceiro e último bloco, após responderem à pergunta de um jornalista sobre educação, os dois candidatos voltaram a se enfrentar. E coube a Bolsonaro dali ao fim ditar o tema:
— Lula, responda sobre o Petrolão!
Como já tinham falado sobre o Orçamento Secreto no bloco anterior, em pergunta do jornalista Josias de Souza, do UOL, Lula ainda poderia ter contra-atacado com as denúncias de corrupção nas rachadinhas, a compra de imóveis em dinheiro vivo dos Bolsonaro. Mas caiu na armadilha retórica mais velha do mundo de quem sente acusação, passando apenas a se defender. E gastou com isso boa parte do tempo que deveria controlar.
BOLSONARO TOCA LULA — Bolsonaro sentiu que colocou a adversário nas cordas e fez questão de provocá-lo ainda mais. Rindo e falando em tom debochado, tocou pela primeira vez com a mão direita no ombro esquerdo de Lula. Que afastou com a sua a mão a do capitão e devolveu o deboche:
— Me disseram que você era o maior puxa saco meu no Congresso! — provocou antes de falar sobre o tempo do oponente e ser advertido pela moderação.
BOLA ROLADA E FURADA — Nem a bola rolada de graça pelo capitão, quando disse que o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa teria lhe dado atestado de honestidade no Mensalão, foi aproveitada. O fato de que Joaquim Barbosa declarou chamou Bolsonaro de “ser humano abjeto” e declarou voto em Lula, foi solenemente ignorado por ele. Que preferiu sair do Petrolão para falar sobre a Amazônia.
Quando Bolsonaro voltou ao ataque, falando das perseguições religiosas promovidas por Daniel Ortega, ditador da Nicarágua e aliado de Lula, este foi novamente polo passivo. E gastou o que ainda restava do seu tempo para, acuado e sem fôlego, apenas tentar se defender.
TARDE DEMAIS? — Devido à má administração do tempo por seu adversário, Bolsonaro teve sete minutos para fazer uma live em rede nacional de TV, com recorde de audiência no YouTube. Bateu tanto em Lula, que este ainda ganhou o direito de resposta de um minuto, quando finalmente falou da compra de 51 imóveis em dinheiro vivo pela família presidencial.
Nas considerações finais, após mais ataques de Bolsonaro calcados na pauta religiosa e comportamental, Lula falou da liberdade religiosa que de fato promoveu em seu governo. Assim como das aspirações ditatoriais do seu adversário, dos 33 milhões de brasileiros que passam fome, e do churrasco e da cerveja no final de semana que os pobres passaram a ter acesso em seu governo.
NOVO PADRE KELMON — Após o debate, Bolsonaro fez questão de aparecer diante das câmeras ao lado do senador eleito Sergio Moro (União/PR). O ícone da Lava Jato, ex-juiz federal, ex-ministro da Justiça e ex-desafeto do capitão não pareceu constrangido com seu papel de novo Padre Kelmon.