Em duas pesquisas divulgadas hoje, feitas já após o criminoso episódio do bolsonarista Roberto Jefferson (PTB) no domingo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) demonstrou tendência moderada de crescimento da sua vantagem sobre o presidente Jair Bolsonaro (PL), a apenas quatro dias da urna de 30 de outubro. Na pesquisa Quaest, o petista oscilou 1 ponto para cima na consulta estimulada, passando de 47% a 48% das intenções de voto nos últimos sete dias, nos quais Bolsonaro ficou estagnado em 42%. Na pesquisa PoderData, o crescimento de Lula também foi de 1 ponto, passando de 52% a 53% das intenções de voto válido no mesmo período de sete dias, no qual Bolsonaro também perdeu 1 ponto, de 48% a 47%. Nas duas pesquisas, com metodologias diferentes, a diferença é igual: 6 pontos.
COM ABSTENÇÃO, VANTAGEM DE LULA CAI — Apesar da discreta subida na reta final, o filtro “likey voter” (“provável eleitor”) introduzido pela Quaest neste 2º turno, prova como a abstenção pode prejudicar o petista neste domingo, como têm alertado todos os analistas. Com a certeza do ato de votar contando sobre a intenção de voto, Lula oscilou para baixo, de 52,8% a 52,1% dos votos válidos; enquanto o capitão oscilou para cima, de 47,2% a 47,9%. A diferença de 6 pontos entre os dois cai a 4,2 pontos — apenas 0,2 acima do empate técnico no limite da margem de erro de 2 pontos para mais ou menos.
REJEIÇÃO — Considerada decisória em qualquer eleição de 2º turno do mundo, a rejeição não segue apenas liderada por Bolsonaro. Nos últimos sete dias, ele cresceu fora da margem de erro na medição do índice negativo pela Quaest. Em 19 de outubro, o capitão tinha 46% dos brasileiros que não votariam nele de maneira nenhuma, número que hoje é de 49%. Por sua vez, Lula se manteve com 43% de rejeição nos últimos sete dias.
IMPACTO DA FALA DE GUEDES SOBRE SALÁRIO MÍNIMO — Além do episódio com o bolsonarista Roberto Jefferson no domingo, quando disparou 50 tiros de fuzil e lançou três granadas sobre quatro policiais federais que foram prendê-lo, por descumprir as normas da prisão domiciliar, outros fatores podem ter influenciado no aumento de 3 pontos da rejeição ao capitão. “O repique de rejeição eleitoral de Bolsonaro cresce acima da margem, após a fala de Paulo Guedes sobre salário mínimo — quando o ministro da Economia disse na quinta (20), pretender desindexar o reajuste do salário mínimo e das aposentadorias pela inflação —, que foi um dos maiores motivos da ‘ressaca‘ de Bolsonaro nas redes sociais”, lembrou o cientista político Renato Dolci, mestre em Economia pela Sorbonne.
IMPACTO DOS TIROS E GRANADAS DE JEFFERSON — Mesmo que não tenha medido a rejeição em sua pesquisa, o PoderData considerou o violento episódio do aliado Jefferson como negativo a Bolsonaro na opinião pública. “Ainda vejo um cenário de estabilidade. As variações foram dentro da margem de erro. Pode ser um efeito direto do episódio envolvendo Roberto Jefferson, muito explorado pela oposição ao presidente e com grande exposição na internet e na mídia tradicional, sobretudo na 2ª feira, bem no meio da realização da pesquisa. Não se pode dizer isso de maneira definitiva, mas foi o único fato com potencial para ter impacto nos resultados”, analisou o cientista político Rodolfo Costa Pinto, coordenador do PoderData.
ABSTENÇÃO, VOTO BRANCO E NULO — “A apenas quatro dias da urna, Quaest e PoderData utilizam metodologias, amostragens e margens de erro diferentes. Enquanto a Quaest trabalha com entrevistas presenciais domiciliares, amostragem de 2 mil eleitores e margem de erro de 2 pontos para mais ou menos, a PoderData utiliza entrevistas telefônicas, amostragem de 5 mil eleitores e margem de erro de 1,5 ponto. E por diferentes ângulos, Quaest e PoderData apontam estabilidade do cenário eleitoral, com aumento da vantagem de Lula, dentro da margem, nos votos totais, mas redução da vantagem entre os eleitores que provavelmente comparecerão às urnas, já considerando o padrão histórico da abstenção. Na medição da Quaest, o voto está cristalizado e consolidado para 92% dos eleitores, o que significa possibilidade de 8% dos eleitores habilitados ainda mudarem o voto até domingo, caso compareçam às urnas. Importante destacar que, por concentrar maior diferença de intenção de voto entre o eleitorado com menor renda e menor escolarização, o efeito do não comparecimento às urnas de domingo tende a prejudicar mais Lula e beneficiar mais Bolsonaro. Considerando o padrão histórico, cerca de 22% dos eleitores deverão faltar no domingo, enquanto a soma dos brancos e nulos deverá girar em torno dos 8%, mantidas as taxas observadas nas eleições anteriores”, projetou o geógrafo William Passos, com especialização doutoral em Estatística pelo IBGE.