Abril da barbárie em Campos dos Goytacazes

 

“O grito” de Edvard Munch e Campos dos Goytacazes (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

Barbárie no abril goitacá

Infelizmente, os casos de violência têm se tornado rotina em Campos. E ganham contornos cada vez mais bárbaros. Na segunda (24), uma bebê de 28 dias foi levada para o Hospital Ferreira Machado (HFM), com diversas fraturas, inclusive no crânio. Foi arremessada pela própria mãe contra a parede da casa onde moram, na Tapera. A autora, de 25 anos, foi presa no final da tarde do mesmo dia por agentes da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam), onde o caso foi registrado. Segunda a avó da bebê, a mãe estava alcoolizada. E, após uma discussão com o padrasto, pegou a criança do colo da avó e a arremessou.

 

Terror de Blumenau a Campos

A violência contra menores e entre eles aterrorizaram o município neste mês de abril. Tudo começou com o massacre numa creche de Blumenau, em Santa Catarina, no dia 5. No qual três meninos e uma menina, entre 4 e 7 anos, foram barbaramente assassinados a golpes de machadinha por um sociopata. No dia 12, fruto da disseminação do ódio a partir das redes sociais, o episódio teve seu primeiro reflexo em Campos. Quando seis menores foram apreendidos e encaminhados à 134ª DP, por agentes da Guarda Civil Municipal (GCM). Eles entraram na Escola Municipal Amaro Prata Tavares, no Centro, com uma réplica de arma.

 

Facão, machado e coquetel molotov

No dia 13, a coisa foi um pouco pior. Um estudante de 13 anos foi apreendido no final da manhã daquela quinta-feira com um facão, um machado e um coquetel molotov, em Guarus. O adolescente e os pais estiveram na 146ª DP de Guarus, acompanhados por um advogado. De acordo com pessoas ligadas à família, o estudante teria se arrependido da atitude e não chegou a promover a ação. Que chegou a planejar para realizar em uma escola. Por orientação da secretaria estadual de Segurança, com medo ao aumento de casos análogos em território fluminense, a Polícia Civil não se pronunciou sobre o caso.

 

Frequência escolar ferida

Com a propagação dos casos e de notícias na internet, com ameaças de ataques a unidades escolares do município no dia 20, o movimento naquele dia foi relativamente tranquilo. Muito também por conta da mobilização da Polícia Militar e da GCM nas escolas de Campos. Mas o medo causou danos. Uma as escolas que recebeu atendimento das Forças de Segurança Pública, o Ciep 144 Carmem Carneiro, no Parque Eldorado em Guarus, recebeu naquele dia menos da metade do seu fluxo médio de 450 alunos, do ensino infantil ao 9º ano, no período da manhã. A mesma queda na frequência se reproduziu em quase todas as escolas da cidade.

 

Apreensões e prisões

Na segunda (24) um desses disseminadores de terror foi identificado e apreendido. Era um adolescente de 14 anos do município vizinho de Cambuci, de onde difundida ameaças na internet às escolas da sua cidade e municípios vizinhos. Policiais do 36º BPM, de Santo Antônio de Pádua, apreenderam com o menor um notebook, um celular, um tablet e um cartão de memória. Após a onda de ameaças de ataques, uma força-tarefa do governo do Estado do Rio identificou e derrubou 123 perfis de redes sociais que propagavam ameaças, realizou 27 buscas e apreensões, apreendeu 21 menores e prendeu quatro maiores.

 

Contra o ódio, a lei

A violência, infelizmente, é inerente ao ser humano. Manifesta-se numa mãe que fez o que nenhum outro animal seria capaz de fazer: atirar a própria cria recém-nascida contra a parede. Ou num psicopata que entra uma creche e mata quatro crianças a golpes de machadinha. Os dois casos reacenderam no debate popular a adoção da pena capital, que a Constituição do Brasil só prevê em casos de guerra. Curioso é que aqueles que pregam matar para provar que matar é errado são os mesmos que abraçaram a cultura de ódio no país. E agora são contrários à guerra contra esse mesmo ódio, que urge ser travada na regulação das redes sociais pela lei.

 

Da estupidez à arte (I)

Em meio à estupidez que marcou Campos neste mês de abril, nem tudo está perdido. Um dos caminhos para uma sociedade perdida se achar é através da arte. Professor do IFF, o campista Adriano Moura foi um dos 20 autores fluminenses premiados no concurso de contos “Um olhar sobre o amanhã”, promovido pela secretaria estadual de Cultura. O tema foi inspirado na obra do escritor francês Marcel Proust, “Em busca do tempo perdido” e no conceito de escrevivência da escritora brasileira Conceição Evaristo. Além da premiação em dinheiro, o conto “Cheiro de passado”, de Adriano, será publicado numa antologia impressa com os textos vencedores.

 

Da estupidez à arte (II)

Outra prova da pujança cultural do município, o Sarau Cultural será promovido às 19h desta sexta (28), no Museu Histórico de Campos, com entrada franca. Promovido pelo poeta Artur Gomes, com a participação do músico e ator sanjoanense Saullo de Oliveira, terá como objetivo de estar reverenciar no Museu a memória de artistas que marcaram sua passagem em vida pela cidade de forma singular, no teatro, na música, e na poesia, tais como: Kapi, Félix Carneiro, Maria Helena Gomes, Lucia Miners e Yve Carvalho. “É uma honra poder homenagear dois mestres da arte campista, que são o Antônio Roberto Kapi e o Yve Carvalho”, reforçou Saullo.

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.

 

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