Homem público de Campos viraliza, Rita Lee vive e ensina

 

Rita Lee (Foto: Divulgação)

 

 

Viralizou na rede (I)

Antes da internet, se conhecia o jornalismo responsável, em noticiário e opinião, por sua capacidade de distinguir entre o interesse público e o interesse do público. Assim, um problema de ordem pessoal era geralmente ignorado. Podia ser do interesse do público, mas não era de interesse público. Com as redes sociais, essa distinção acabou. Prova disso, ontem, um fato de ordem pessoal, envolvendo um pretenso homem público de Campos, viralizou imediatamente nas redes sociais goitacá. E chegou até à cidade do Rio de Janeiro, onde o atual padrinho carioca do político campista ficou sabendo. E não gostou.

 

Viralizou na rede (II)

Todas homens e mulheres têm seus problemas pessoais. Como direito à privacidade sobre eles. Desde que, mesmo na desavença, o limite do respeito seja preservado. E que não se deixe esses problemas se desenrolarem fisicamente também na rua. Tanto pior quando isso acontece com pessoas públicas. Cuja vida pessoal sempre foi e será do interesse do público. Mas pode ser também do interesse público. Quando se pede voto, no discurso bem ensaiado, para governar ou legislar pela sociedade. E a prática, filmada e viralizada nas redes sociais, sugere falta de empatia até com o lar de quem deveria ser o mais próximo a qualquer pai.

 

Viralizou na rede (III)

A Folha da Manhã seguirá seus 45 anos na peneira entre o interesse público e o interesse do público. Mas o estrago, independente das distinções do jornalismo profissional, já foi feito no imediatismo sem qualquer filtro das redes sociais. E, certo como o político que só aparece para pedir voto em eleição, nesta surgirão as imagens produzidas na segunda. Numa cidade que tem 25 vereadores e nenhuma mulher, é preciso muito mais do que pedir votos para Lula no segundo turno presidencial de 2022, para se dizer progressista, ter empatia com os pobres, as mulheres e as crianças. É preciso antes dar exemplo, pelo menos, junto aos seus.

 

Rita Lee (I)

Se a segunda-feira serviu à revolta das mulheres de Campos com as imagens viralizadas nas redes, a terça enlutou todos os gêneros do Brasil pela perda de uma grande mulher. Divulgada só ontem, consumada na noite anterior, a morte da cantora e compositora Rita Lee, aos 75 anos, gerou tanto tristeza por sua perda quanto gratidão por sua vida e obra. Que desde a estreia com a banda Os Mutantes, em 1966, passando depois pela Tutti Frutti, antes de abrir carreira solo em 1978, embalou seis gerações com seus sucessos. Desse “tal de rock and roll” às baladas românticas, impossível ser brasileiro e não saber de cor versos das suas músicas.

 

Rita Lee (II)

Ao contrário de homens públicos que pregam uma mudança e fazem outra, Rita Lee mudou o mundo com sua música e atitude. Transgressora sem levantar bandeiras, seu feminismo era o de se permitir viver e cantar o amor e a sexualidade com uma naturalidade que, antes dela, só era permitida aos homens. Nunca se engajou politicamente como um Chico Buarque ou um Caetano Veloso, que a traduziu como a sua São Paulo. Ainda assim, foi a compositora com mais músicas censuradas pela nossa última ditadura militar (1964/1985). Por essa mulher e seu legado, esta coluna abre uma exceção em 45 anos, para ser encerrada em versos:

 

rita

 

no primeiro show

dos rolling stones

vi primeva a rita

no maracanã

 

com a miss brasil

negra qual ovelha

sacou da calça

sua bunda branca

 

sanduíche de gente

dá água na boca

lança perfume

em gregory peck

 

pagu mais macho

que muito homem

louca embalada

por sharon stone

 

é bicho esquisito

todo mês sangra

nem só de cama

ao avessar a mesa

 

rainha mutante

piropa lee jones

dolores do rock

bolero feliz

 

campos, 09/05/23

 

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