Ícaro Barbosa — Meu filho por olhos outros

 

Ícaro e uma de suas paixões, Atafona, em 21 de junho de 2020 (Foto: Ícaro Barbosa)

 

Enquanto escrevo, na manhã de sexta à edição deste sábado da Folha, me preparo para ir mais tarde à missa de 7º dia do meu filho, o jornalista Ícaro Paes Pasco Abreu Barbosa, morto no último sábado (13), com apenas 23 anos. Mesmo antes destes serem à luz contados, desde que estava no escuro terno da barriga da sua mãe, a jornalista Dora Paula Paes, ele é a paixão da minha vida. Meu menino, meu doce príncipe, com seus questionamentos existenciais de Hamlet. E a quem, nas palavras deste, sempre amarei “do coração do meu coração”.

Não sei que vida me resta, sem poder ver, ouvir e tocar Ícaro. Cujo cheiro busco nas suas camisas e roupas de camas usadas que recolhi com suas demais coisas, sofregamente, em seu apartamento. Talvez ninguém tenha definido melhor esse vazio absoluto do que outro órfão do filho, o poeta Fagundes Varela: “Eras a glória, — a inspiração, — a pátria,/ O porvir de teu pai!”

Muito além de meu filho e de Dora, Ícaro foi homem por ele mesmo. Um homem lindo para além da visão da mãe, do pai e da família. Visão que pude, entre orgulho e dor, reforçar nos vários depoimentos dados sobre ele. Inclusive de pessoas que eu não conhecia. Mas que, em sua vida breve e intensa, meu filho marcou.

Abaixo, na gratidão mais sincera de um filho e um pai por todos, alguns deles:

 

“Ícaro era brilhante. Tive a oportunidade de dizer isso a ele inúmeras vezes. Mesmo partindo aos 23 anos, deixou grande legado. Ao saber da partida dele, chorei como criança. Foi só então que descobri o quanto de fato eu o adorava. Poucos jornalistas tinham acesso a mim quanto ele. Um pedido dele era uma ordem, não pelo posicionamento, mas pelo carinho e cordialidade com que sempre me tratou. Sentirei muita saudade desse grande jovem e de seu brilhantismo.”

(Madeleine Dykeman, delegada de Polícia Civil)

 

“Conheci o Ícaro pessoalmente em abril de 2022, quando ele foi junto comigo fazer uma matéria sobre pessoas vivendo na extrema pobreza. Pude vê-lo sensível ao sofrimento alheio, pude vê-lo com um olhar além da matéria jornalística, com um olhar de amor ao próximo. Só peço a Deus na pessoa do Espírito Santo que conforte os corações sentidos neste momento.”

(Célio Marins, pastor pentecostal)

 

“É com profunda dor e tristeza que o PT de Campos se solidaria com a partida de Ícaro Abreu Barbosa no último dia 13 de maio. Jovem jornalista com futuro promissor em nossa cidade. Irreparável perda.”

(Odisseia Carvalho, professora e presidenta do PT de Campos)

 

“Lembro do Ícaro em momentos diferentes de vida, nas três passagens que tive pela Folha. Sempre sorridente, alegre, curioso e comunicativo com todos. Aparecia vez em quando com desenhos sempre bem traçados que gostava de fazer. Recordo-me que ele me entrevistou quando da morte do meu pai, em 2019. Achei que estava numa espécie de rito de passagem da vida, pois o vira tão pequeno e, de repente, estava ele a me colher informações para redigir sua matéria. Entrei para Folha às vésperas de ser pai do meu primeiro filho. Este jornal sempre me lembrará paternidade. Sempre me trará lembranças de família. A família Folha. E sou grato por isso, a Aluysio, ao seu pai, ao Ícaro, a todos.”

(Thiago Freitas, jornalista)

 

“Quando Ícaro tinha, acho, que 3 ou 4 anos, mandei confeccionar para ele uma marca de gado estilizada, que entreguei quando estava com a sua mãe, Dora. Um ‘i’ entre o par de asas de ferro. Ali desejava a ele não só que pudesse vir a ser um produtor rural, mas também que suas asas fossem seguras, fortes o suficiente para não derreterem. Que ingenuidade a minha, as asas de ferro também haviam sido forjadas no fogo. Não tive a oportunidade de lhe dar o primeiro livro sobre jornalismo como fiz com o seu pai, Aluysio. Quando dei por mim já estava sendo entrevistada por ele. Ícaro tinha pressa e voou com as asas que ele construiu. Pouse, menino pássaro, pouse nos ombros do grande Pai, que está te esperando com muito amor.”

(Jane Nunes, jornalista)

 

“Nossa amizade foi tão breve quanto marcante. Nosso último encontro foi dentro do Trianon. Conversamos sobre o espetáculo, sobre Marcelo Pirica, e fechamos nosso papo falando da minha arte. Quando ele me surpreendeu por saber tanto do que eu faço e por ter me dito que gostava. Fiquei lisonjeado, feliz. É difícil não conter as lágrimas da tristeza por sua partida. Ficou sua mensagem aqui em nosso coração. Vou sempre ligar o céu a você, meu saudoso Ícaro.”

(Ricardo Salgado, artista plástico)

 

“Estou estupefata! Que menino bom! Educado! Atencioso! Diferenciado, considerando a geração a que ele pertence. Tive oportunidade de conversar algumas vezes com ele, quando me procurou para falar sobre a história de vida do meu pai, via mensagens WhatsApp. Mas foi suficiente para saber que ele era especial. Descanse em Paz, Ícaro!”

(Sônia Renata Ribeiro, bancária e assistente social)

 

“Ícaro foi um jovem brilhante e amado por todos que o conheceram, e assim será eternamente lembrado. Que o brilho de Ícaro invada os lugares escuros e frios em que podem estar o coração dos que o amaram.”

(Maycon Morais, jornalista)

 

“Estou orando pelo espírito de Ícaro, com quem tive o prazer de conversar algumas vezes. Que menino especial. Fala mansa, humilde, um olhar genuíno como dos anjos, leve, energia boa! Com certeza está em um lugar de luz, amparado pelos espíritos benfeitores.”

(Fátima Castro, presidente da Associação Irmãos da Solidariedade)

 

“Assim como o Ícaro da mitologia, ele simbolizou a busca pela liberdade e coragem de voar alto. Que as lembranças dos momentos compartilhados tragam algum conforto neste momento difícil. Desejo força e coragem para enfrentar a tristeza e seguir em frente. Que a memória de Ícaro permaneça viva no coração de todos.”

(Matheus Pereira Gonçalves Ankim, servidor estadual)

 

“Sei que Ícaro era um menino bom, trabalhador, inteligente, dedicado. Acompanhei alguns textos dele e momentos que você registrou, Aluysio. Uma viagem linda de vocês. Tenho certeza de que você cumpriu sua missão com ele e terá maravilhosos momentos de recordação. Em oração constante por todos que o amam.”

(Débora Batista, jornalista)

 

“Conheci Ícaro na sala de aula, quando devia ter uns 10 anos de idade. Ele sempre externava a grande admiração e o amor que nutria por você, como pai, Aluysio, e pelo avô Aluysio.”

Ricardo Antônio Machado Alves (professor)

 

“A última vez que eu vi Ícaro Barbosa foi no show de Dodó Cunha, no cover de Cazuza. A gente nunca sabe quando vai ser a última vez.  Rezemos pela alma desse grande jornalista, tão jovem e tão experiente ao mesmo tempo.”

(Érica Viana, servidora municipal de SJB)

 

“Ícaro, mesmo com pouca idade, deixou seu legado de carisma e competência. Lembro muito dele novo, no Auxiliadora, quando levava meu filho. E depois o acompanhava em seu crescimento profissional como jornalista.”

(Gustavo Crespo Potência, criador de conteúdo digital)

 

“Estava no interior de São Paulo, no fim de semana, quando recebi a notícia da partida precoce de Ícaro. Acompanhava Adriano, meu filho mais novo, em seu primeiro voo. Ele quer seguir o caminho escolhido por Nelinho, meu filho mais velho, no curso de piloto privado. Da pista, acompanhei tenso a decolagem e preferi me retirar até que ele retornasse dessa primeira experiência. Adriano voltou extasiado com a sensação de estar sobre as nuvens e da perspectiva de ‘ver o sol mais de perto’. Desde então estou procurando palavras para me dirigir a você, Aluysio. Mas só as encontrei no seu texto ‘O voo do Ícaro de um Dédalo órfão do filho único’, a melhor tradução de amor que já li em um momento como esse.”

Luiz Costa (jornalista)

 

“Ícaro me fez sentir pequena. Passou por mim aos 15, ou 16, por aí. Sobrevoou rapidamente minhas aulas sem encontrar razões para se demorar. E estava certo. Ele intuía muito mais do que o que eu tinha para dizer, o que eu era capaz de dizer. Entendi isso assim que o Ícaro jornalista se mostrou. Quase escrevi para ele, há um tempo atrás. Queria elogiar seu texto, dizer que, quando tive oportunidade, perdi. Eu perdi. Olhei, e não vi. Não imagino onde você encontrará algum alento, Aluysio. Mas torço muito para que nunca duvide da sua grandeza na vida desse filho.”

(Ana Beatriz Cardoso, professora)

 

“No último sábado um grande amigo perdeu um filho. Um rapaz de 23 anos que brilhava. Esse amigo, sua mãe, avós, tios e tias vivenciaram o antinatural. O contrassenso. O impensável. O devastador. É uma dor que é difícil pensar nela ou tentar entendê-la; buscar explicações. Hoje eu pude dar um abraço no meu menino que chegava da escola. Havia jogado futsal, e estava contente por ter marcado gol. Me contava entusiasmado seu dia, e aquilo me causou uma dor profunda, apesar do contraste da alegria de ainda poder beijá-lo e dizer que o amo, mais que qualquer coisa. Mas por me colocar, mesmo de forma impossível, na posição daquele amigo, não pude resistir ao choro que meu filho não entendia. Ícaro, na mitologia grega, tinha asas. Voou com elas para outro lugar, mas veremos sua luz por aqui sempre, pois diferente de uma estrela, ele não deixará de existir.”

(Edmundo Siqueira, servidor federal e jornalista)

 

“Aluysio, o seu voo de Ícaro será sempre o do maior amor do mundo! Lendo agora o que você escreveu sobre o seu único filho não consigo te dizer nada, nem posso, nem imagino. Só sei que onde você estiver Ícaro estará sempre com você.”

(Elis Regina Nuffer, jornalista)

 

“Você e Ícaro, Aluysio, protagonizaram uma história muito bacana. Inspiradora para muitos. Nos inevitáveis acertos e erros da vida. Mas de modo intenso, sempre.”

(Victor Queiroz, promotor de Justiça)

 

“Meu amigo,

Desse lado do hemisfério,

Há dor que bate forte

Mesmo tudo aqui primavera

Ambienta uma espera de morte

 

Sei que aí no outro lado

Ela já veio, mais do que sobressalto

Sem esperar o tempo da batida de falta

Coração na mão que nem mesmo a apatia suporta

 

Mas tenho certeza

A dignidade e beleza dos seus gestos

Permanecem incólumes

Seu amor e presença sempre manifestos

Enormes

 

Que ele voe

Que você veja

Voo de condor de cura

Sobre fosso da tristeza”

(Manuela Cordeiro, antropóloga, poeta, professora da Universidade Federal de Roraima em residência na San Diego State University, Califórnia, EUA)

 

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Este post tem 2 comentários

  1. Edilson. 17/05/2023

    Que Deus abençoe e te proteja Aluísio a dor da perca é grande demais. mais com certeza Ícaro já estava com um lugar reservado no céu..junto do nosso bom.Deus Deus abençoe a todos os seus familiares trazendo paz aos corações!

  2. Marcelo Wagner

    Conheci o Ícaro no bar Bicho André. Estivemos algumas dezenas de vezes juntos por lá. Não éramos amigos, nem próximos, mas nós cumprimentávamos cordialmente sempre que nos encontrávamos tanto lá mesmo quanto na rua. Tinha alguns amigos e admiradores por lá, que sentiram muito a perda repentina. Alguns muito próximos, como o próprio André, dono do bar da Lacerda sobrinho, que embalou muitas noites de rock na planície. Esse posso dizer que sentiu a perda como se fosse um familiar. Sei pois sou amigo do André, e sinto sua emoção ao falar sobre o fato, até hoje, até porque conversaram dias antes. Minha melhor memória sobre o Ícaro é de um dia , já na madrugada, em que nós dois já meio ” calibrados” colocamos e cantamos juntos uma playlist de Raul Seixas, o que me deixou admirado com seu conhecimento sobre o maluco beleza, por sua pouca idade em comparação a mim ( tenho quase o dobro ). Fica aqui minha solidariedade à família, e uma sujestão de procura ao bicho André para um papo. Tenho certeza que terá memórias lindas para contar .

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