Felipe Fernandes — “Divertida Mente 2” é triunfo da Pixar

 

 

 

Felipe Fernandes, cineasta publicitário e crítico de cinema

Novo triunfo narrativo da Pixar

Por Felipe Fernandes

 

Lançado em 2015, “Divertida Mente” é uma das animações mais queridas da Pixar. O filme é criativo e engenhoso ao construir de forma lúdica, funcional e divertida, o universo das emoções e das lembranças dentro da cabeça da pequena Riley, enquanto ela passa por um turbulento momento de mudança em sua vida.

Passada quase uma década, chega aos cinemas a continuação, que mostra Riley chegando à puberdade. Além das mudanças naturais desse período, a sala de controle recebe novas emoções que agora dividem espaço com as emoções primárias enquanto Riley vive um novo momento de mudança.

Essa continuação traz toda uma nova equipe criativa, sendo a estréia do diretor Kelsey Mann (um veterano dentro da Pixar, que faz sua estreia na direção). O filme segue a cartilha das continuações de Hollywood, contando com uma história similar, expandindo aquele universo através de novos sentimentos e novos personagens dentro da mente da agora adolescente Riley. É tudo maior e de certa forma, mais complexo.

Essa expansão do universo da mente da Riley funciona para apresentar as mudanças naturais que toda criança passa nesse momento de amadurecimento e transição física e psicológica. As novas emoções dialogam com a adolescência. E, se você convive com um adolescente, você vai se identificar. Nesse sentido, o filme pode ajudar aos pais a compreenderem melhor seus filhos e aos próprios adolescentes a identificar algumas questões.

O filme repete a mesma estrutura do longa anterior. Os acontecimentos e a jornada são muito parecidos, mesmo com novos elementos e a expansão daquele universo, a estrutura de roteiro é a mesma, o que torna o longa meio previsível. Porém, mesmo tratando de sentimentos menos perceptíveis, o filme não se torna cansativo em suas explicações. Tudo é desenvolvido dentro da narrativa de forma orgânica.

A principal mudança se dá por meio das novas emoções, principalmente devido a antagonista Ansiedade, que disputa com Alegria a mesa de controle. E por suas ações termina gerando todo o evento catalisador. Apesar disso, Ansiedade não pode ser considerada uma vilã, já que ela age na intenção de ajudar Riley, mesmo que ela não o faça. Essa natureza controladora remete muito ao papel da Alegria no primeiro filme, o que torna interessante esse embate entre elas.

O excesso de novas emoções, faz com que o roteiro não dê conta de desenvolver ou ao mesmo criar uma função narrativa para as outras emoções, que acabam como coadjuvantes. E agregam mais pela ideia e associação com a chegada da adolescência do que propriamente como personagens funcionais dentro da história.

Um mérito da obra é o de criar novos espaços dentro da mente da Riley, como o Senso de Si, o depósito de memórias rejeitadas, o toró de ideias, o abismo do sarcasmo e o rio que funciona como fluxo de consciência. São espaços brilhantemente construídos visualmente e que trazem uma complexidade que reforça uma das maiores qualidades da Pixar: não duvidar da inteligência do seu público.

Outro característica muito interessante (que o primeiro também tem), é a forma como as emoções também amadurecem. Seja entre as relações ou em suas próprias descobertas, o longa trabalha a ideia de que todas as emoções são importantes, até mesmo a Ansiedade tem sua importância. A personagem, aliás, rouba o filme. A forma como ela é retratada consegue mostrar sua complexidade e a gravidade de suas consequências, sem abrir mão do aspecto lúdico, demonstrando o respeito e a maturidade da obra ao tratar de uma questão mais séria, sem perder o tom.

“Divertida Mente 2” é um novo triunfo narrativo da Pixar e o estúdio estava precisando desse sucesso. O filme não só respeita o original, como expande aquele universo mantendo a qualidade da obra, em um projeto que não tem o encantamento da novidade da forma como a mente é criada, mas é corajoso ao tratar de temas mais complexos de forma madura. É algo natural no crescimento da jovem Riley, que vive um momento de várias mudanças, com potencial para novos filmes.

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.

 

Confira abaixo o trailer do filme:

 

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