Os EUA e o mundo entre Kamala Harris e Donald Trump

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

Trump ou Kamala?

“Calça de veludo ou nádegas de fora”. O dito popular se aplica ao que está em jogo na eleição a presidente dos EUA de 5 de novembro, daqui a exatos 104 dias. Se o ex-presidente republicano Donald Trump voltar à Casa Branca, pode dar um impulso à extrema-direita mundial maior do que quando se elegeu em 2016. Por outro lado, se ele for derrotado por uma mulher negra e filha de imigrantes, como é a atual vice-presidente democrata, Kamala Harris, será um duro golpe à extrema-direita nos EUA e no mundo. Quem vencer, fará de fichinha a virada da esquerda no 2º turno das eleições legislativas da França, em 7 de julho.

 

Domínio da narrativa

Desde domingo (21), quando o presidente Joe Biden anunciou a renúncia à candidatura à reeleição, e indicou Kamala como sua sucessora, os democratas passaram, como gostam de dizer os bolsonaristas/trumpistas, a dominar a narrativa. Biden saiu a contragosto, mas desde o seu desastroso desempenho no debate contra Trump, em 21 de junho, suas dificuldades cognitivas, aos 81 anos, se tornaram inegáveis. Oposto a essa imagem de fraqueza, Trump sobreviveria a um atentado a tiros, em 13 de julho, quando discursava na Pensilvânia. Do qual saiu com a orelha sangrando, o punho canhoto em riste e repetindo “fight” (“luta”).

 

Delírio da esquerda, ameaça da direita

Sugerir que os tiros contra Trump ou a facada em Bolsonaro em 2018 foram fake, como fez parte da esquerda, só prova que esta pode ser tão “gado” em seus delírios quanto gosta de classificar os eleitores dos dois ex-presidentes. Isso posto, não se deve perder de vista o que Trump não esconde: se eleito mais uma vez à Casa Branca, tentará controlar politicamente os militares do seu país, que se recusaram a embarcar em qualquer aventura inconstitucional em 2020. Como o Judiciário dos EUA que o condenou criminalmente após deixar a presidência. Se passasse da ameaça à ação, poderia ferir de morte a própria democracia representativa liberal.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Em empate técnico, Kamala passa Trump

Das intenções assumidas aos fatos, o atentado não serviu para Trump decolar nas pesquisas. A primeira após o tiroteio na Pensilvânia, feita pela Reuters/Ipsos entre 14 e 16 de julho, deu (confira aqui) o ex-presidente na frente, com 43% das intenções de voto, mas empatado tecnicamente com os 41% de Biden, dentro da margem de erro de 3 pontos. Na nova pesquisa Reuters/Ipsos já sem Biden e com sua vice como provável candidata, divulgada ontem (23), a situação se inverteu. Em outro empate técnico na mesma margem de erro, Kamala apareceu (confira aqui) numericamente à frente, com 44% das intenções de voto e 42% de Trump.

 

Como funciona nos EUA?

Mesmo através das pesquisas, a projeção do pleito é muito mais difícil no sistema do colégio eleitoral dos EUA. À exceção dos estados do Maine e Nebraska, o candidato que vence no voto popular nos demais 48 estados leva todos os delegados de cada. Um exemplo? Mais populoso e mais rico estado do EUA, a Califórnia tem 22.114.456 eleitores aptos a votar. Quem lá vencer a presidente, mesmo que seja só por um voto popular, leva todos os 55 delegados do estado. E quem somar 270 ou mais dos 538 delegados do país, é eleito presidente. Por isso Trump venceu em 2016, mesmo com 2,8 milhões de votos populares a menos que Hillary Clinton.

 

Promotora x criminoso

Antes da pesquisa de ontem, em sua primeira fala como provável candidata, Kamala deu na segunda o tom que adotará contra o sempre contundente Trump: na mesma moeda! “Eu era a procuradora-geral da Califórnia e antes fui promotora, então, tive que lidar com todo tipo de criminoso nessa época. Predadores que abusavam de mulheres, fraudadores que roubavam consumidores, aqueles que quebravam as regras para ganhar no jogo. Então, prestem atenção quando digo que conheço o tipo de pessoa que é Donald Trump”, advertiu a democrata. E antecipou o papel que pretende desempenhar com o republicano: promotora x criminoso.

 

A disputa real

Kamala deve ter os votos de estados progressistas como Califórnia e Nova York (29 delegados). Como Trump, os votos de estados conservadores como Texas (38) e Flórida (29). O desafio será pregar além dos já convertidos. Sobretudo nos chamados “swing states” — “estados pendulares” da Pensilvânia (20), Carolina do Norte (15), Michigan (16), Wisconsin (10), Arizona (11), New Hampshire (4), Virginia (13), Minnesota (10), Colorado (9), Nevada (6), Ohio (18), Geórgia (16) e Iowa (6 delegados). Por isso, Trump tem como vice em sua chapa o senador de Ohio J. D. Vance. E, ainda sem vice, Kamala fez ontem seu primeiro comício em Wisconsin.

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.

 

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