Carmem Gomes e Sylvia Paes — Memória como patrimônio

 

O livro “Ururau Pançudo”, o ilustrador Alício Gomes e as historiadoras e escritoras Sylvia Paes e Carmem Eugênia Sampaio Gomes

 

 

Por Carmen Eugênia Sampaio Gomes e Sylvia Paes¹*

 

Em 2012 sentindo a dificuldade de colegas professores de história, em obter material apropriado para o trabalho da história local, resolveram escrever para os pequenos. Então nasceu a Coleção “Tô Chegando” e o primeiro livro “Ururau Pançudo” foi lançado na Bienal do Livro de Campos em 2014. Todos os livros da Coleção “Tô Chegando” tratam do patrimônio cultural local/regional com ênfase no patrimônio intangível, contudo não deixam de abordar o patrimônio ambiental e material, sobretudo o arquitetônico.

Podemos dizer que os livrinhos têm marcas identificadoras; toda coleção tem ilustrações de Alício Gomes; tem links com imagens dos personagens; as histórias sempre terminam a noite por entendermos que o amanhã nos traz sempre uma nova história; ao final da história mantemos um glossário que sempre traz a linguagem regional; também um exercício é proposto para fixação dos saberes adquiridos com a leitura.

Bem, parece que foi ontem, mas já se passaram 10 anos do lançamento do primeiro livro da coleção “Tô Chegando”, Ururau Pançudo. Então, as autoras resolveram comemorar de forma a envolver a comunidade escolar. Dessa forma, fomos em busca de oportunidade e ela chegou quando do lançamento do “Programa Mais Ciência na Escola”, promovido pela Secretaria Municipal de Educação, Ciência e Tecnologia (Seduct), que disponibilizou a área de Ciência Humana e de Interdisciplinaridade. Foi neste contexto que o projeto “Ururau Pançudo: a lenda continua…” foi agregado.

Neste momento, encontramo-nos em fase de escrita da lenda (continuação) por parte dos estudantes. Aguardamos o encaminhamento das três (3) melhores histórias de cada unidade escolar. As três (3) histórias escolhidas pela comunidade escolar serão analisadas por um grupo de especialistas da Seduct e das autoras do livro. Dessas (3) histórias, sairá apenas uma que vai disputar com as demais produções das outras escolas.

Propomos que os estudantes envolvidos no projeto pudessem valorizar o patrimônio cultural regional/local, descrevendo o espaço vivido e as características do território. A narrativa deve ser focada na realidade deles, oportunizando a observação e análise da comunidade. A questão de pertencimento e de identidade está em pauta.

A produção que ganhar o primeiro lugar terá sua história ilustrada pelo profissional Alício Gomes, responsável pela produção visual da coleção “Tô Chegando” e será a sua disponibilização em forma de e-book, além de outros prêmios.

 

Considerações finais

Enquanto componentes do Grupo Unsum, estamos há dez anos na caminhada objetivando promover a valorização da cultura e da tradição local. Entendemos que não se pode amar uma história e uma tradição se não as conhecemos. Refletir que num mundo globalizado e cheio de atrativos efêmeros e transitórios de valores, buscar na memória do coletivo próximo, dos grupos em que pertencemos, os elementos que nos unem e tecem identidades específicas dessa comunidade são de vital importância. Um povo sem memória é um povo sem alicerce e facilmente manipulado pelos interesses de grupos economicamente globalizantes, que visam apenas os interesses das grandes empresas. E assim, nós nos tornamos presas fáceis se não nos apegarmos aos nossos valores, tradições e cultura e nos fortalecermos enquanto grupos.

 

1 É a perda do poder de captação de expressão da palavra ou símbolos que podem ocorrer em casos de lesões em centros celebrais, mas que não acontecem por defeito ou perda auditiva ou do mecanismo fonador.

 

Referências

GUIDOLIN, Camila e ZANOTTO, Gisele. Patrimônio Imaterial. In: Mapeamento do Patrimônio Imaterial de Passo Fundo/RS. Passo Fundo: Projeto Passo Fundo, 2016.

HORTA, Maria de Lourdes Parreiras. Os lugares de memória. Memória patrimônio e Identidade. Ministério da Educação: Boletim 4, abril 2005.

LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campinas/São Paulo: Editora da UNICAMP, 1996.

MURRAY, Charles. As Festas Populares como objetos de memória. Memória patrimônio e Identidade. Ministério da Educação: Boletim 4, abril 2005.

RIOS, José Arthur. Objetos não são coisas. Rio de Janeiro: José Arthur Rios, 2013.

SANTOS, Isabela de Oliveira.  A Contação de Histórias da Educação Infantil. Monografia apresentada ao Centro de Ciências do Homem (CCH), da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como requisito para obtenção do título de Licenciatura em Pedagogia. Campos dos Goytacazes – RJ junho2018.

 

Folha Letras da edição de hoje da Folha da Manhã

 

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