Morre Mario Vargas Llosa, escritor e tradutor da América Latina

 

Mario Vargas Llosa

 

Morreu hoje (13), aos 89 anos, em Lima, no Peru, um dos maiores escritores produzidos naquele país e na América Latina: Mario Vargas Llosa. Nobel de Literatura em 2010, foi um dos principais expoentes do chamado boom latino-americano, movimento que ganhou nos anos 1960 e 1970 o mercado editorial do mundo. Onde esteve ao lado de outros gigantes literários, como o argentino Julio Cortázar, o colombiano Gabriel García Márquez e o mexicano Carlos Fuentes.

Na política, Llosa se tornou também conhecido, e combatido por colegas de literatura, quando trocou a defesa do socialismo e da Revolução Cubana de 1959, bandeiras da sua juventude, pelo liberalismo econômico em sua fase madura. Nela, disputou a eleição a presidente do Peru em 1990 por uma coligação de direita. E chegou a vencer o primeiro turno, mas acabou derrotado no segundo por Alberto Fujimori — uma espécie de protótipo nipo-peruano do atual presidente argentino, Javier Milei.

Llosa desceu a espinha dorsal do continente nos Andes para se espraiar como tradutor do que significa ser latino-americano. Profundamente marcado pela leitura de “Os Sertões”, em que Euclides da Cunha narra a Guerra de Canudos (1896/1897), no sertão da Bahia, da qual foi testemunha, o peruano fez a sua própria expedição a Canudos. E dela emergiu com um livro não menos importante do que aquele que fundamentou em 1902, com Euclides, o próprio conceito de brasilidade.

Publicado em 1981, “A Guerra do Fim do Mundo” mistura a ficção do anarquista e frenólogo escocês Galileu Gall com personagens reais como o líder messiânico Antônio Conselheiro, seu comandante guerrilheiro Pajeú e o coronel Moreira César, cruel representante dos militares que transformaram o Brasil de Império em República. E que se consolidaria no governo Prudente de Moraes, nosso primeiro presidente civil, ao custo do massacre de 25 mil brasileiros reunidos pelos Evangelhos e a produção coletiva da terra seca do sertão, às margens do rio Vaza-Barris.

Tomar “Os Sertões” como ponto de partida é o caminho não de quem desce os Andes, mas escala a cordilheira literal e literária. Ainda assim, “A Guerra do Fim do Mundo” não padece de vertigem. Na visão e vivência de um peruano sobre uma pedra fundamental do Brasil, se lhe equipara — como versejaria o poeta paraibano Augusto dos Anjos.

Se fosse apenas por isso, Maria Vargas Llosa já teria sido um dos maiores escritores da América Latina.

 

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