Bola de Ouro de Messi entre o que há de objetivo e lúdico

 

 

 

Bola de Ouro de Messi

O argentino Lionel Messi ganhou na segunda-feira (30) sua oitava Bola de Ouro. Com exceção de 2020, por conta da pandemia da Covid, o prêmio é entregue anualmente pela revista France Football, desde 1956. De lá a 1994, apenas europeus concorriam. Numa revisão de 2015, foram atribuídas sete Bolas de Ouro a Pelé (1958, 1959, 1960, 1961, 1963, 1964 e 1970), uma a Garrincha (1962) e uma a Romário (1994). Como outras três a argentinos: uma a Mario Kempes (1978) e duas a Diego Maradona (1986 e 1990). Cujo aniversário de vida foi lembrado por Messi na segunda, ao se isolar como maior vencedor da Bola de Ouro na história do futebol.

 

O passado e os brasileiros

Além de 2023, Messi já havia levado a Bola de Ouro em 2009, 2010, 2011, 2012, 2015, 2019 e 2021. Atrás dele, o português Cristiano Ronaldo tem cinco Bolas de Ouro: 2008, 2013, 2014, 2016 e 2017. Quando o prêmio ainda era restrito à Europa, três jogadores o conquistaram três vezes: os holandeses Johan Cruyff (1971, 1973 e 1974) e Marco Van Basten (1988, 1989 e 1992), e o francês Michel Platini (1983, 1984 e 1985). De 1995 para cá, quando a disputa se internacionalizou, o brasileiro Ronaldo Fenômeno ganhou duas Bolas de Ouro: 1997 e 2002. Além dele, o Brasil levou com Rivaldo, em 1999; Ronaldinho Gaúcho, em 2005; e Kaká, em 2007.

 

Escrita de 21 anos do Brasil

Mais conceituado do que o prêmio de Melhor Jogador do Mundo da Fifa, que passou a ser entregue anualmente só a partir de 1991, a Bola de Ouro da France Football chegou a se fundir com ele entre 2010 e 2015. Os dois voltariam a ser entregues separadamente a partir de 2016. O último brasileiro a merecê-los foi Kaká, levando ambos em 2007. Em outras palavras, há 16 anos nenhum jogador do dito “melhor futebol do mundo” é eleito o melhor do mundo. Como, coletivamente, o Brasil não ganha de uma seleção europeia em jogo eliminatório de Copa do Mundo há 21 anos. Desde a final de 2002, quando foi pentacampeão nos 2 a 0 sobre a Alemanha.

 

Sexto lugar na Bola de Ouro, o brasileiro Vinícius Júnior recebeu o Prêmio Sócrates por sua luta contra o racismo

Racismo e 6º lugar na bola

Por que o Brasil se impôs à Europa, há mais de duas décadas, para conquistar pela última vez o Mundial? Porque foi a última em que teve ao seu dispor quatro jogadores eleitos como melhor do mundo: Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho e Kaká. Não há coincidência na importância do brilho individual à conquista coletiva. Na oitava Bola de Ouro entregue a Messi na segunda, o brasileiro mais bem colocado ficou em 6º lugar: o atacante Vini Jr, do Real Madrid. Ele levou o Prêmio Sócrates (batizado em homenagem a um dos craques do inesquecível Brasil de 1982), por sua luta contra o racismo. Que é mais importante que o futebol, mas não bota bola na rede.

 

Segundo lugar na Bola de Ouro, o norueguês Erling Haaland levou o Prêmio Gerd Müller como maior artilheiro do futebol mundial

Haaland e Bellingham, jovens à vista

Em bola na rede, ninguém brilhou mais na temporada 2022/2023 do que o atacante norueguês Erling Haaland. Entre sua seleção e o clube inglês Manchester City, pelo qual foi campeão e artilheiro da Premier League e da Champions, fez 56 gols em 57 jogos. Que lhe valeram o Prêmio Gerd Müller. Com 23 anos, é o nome do futuro. Assim como o meia Jude Bellingham, 20 anos, vencedor do Prêmio Kopa de melhor jogador sub-21. Pelo que fez como revelação da Inglaterra na Copa do Mundo de 2022 e no clube alemão Borussia Dortmund. Nem contou seu fulgurante início de temporada 2023/2024 no Real Madrid, onde ostenta 13 gols em 13 jogos.

 

Mbappé repetiu dilema de CR7

Embora também ainda jovem, aos 24 anos, o atacante francês Kylian Mbappé não é mais só uma promessa. Desde o gol que marcou na decisão da Copa do Mundo de 2018, para selar a vitória de 4 a 2 da França sobre a Croácia. E, com 19 anos, ser o jogador mais jovem, depois do Pelé de 17 anos em 1958, a marcar numa final de Mundial. Quatro anos depois, já para a Bola de Ouro em que acabaria no 3º lugar, Mbappé saiu da Copa do Mundo de 2022 como artilheiro, com oito gols. Incluídos os três que marcou na final contra a Argentina. Seu único problema, como foi o de Cristiano Ronaldo em toda a carreira, é que tinha Messi do outro lado.

 

O bolo da cereja

Se a França tivesse vencido no Qatar, não importariam quantos gols Haaland pudesse ter feito, a Bola de Ouro seria de Mbappé. Mas, como se sabe, Messi marcou sete gols no Mundial, dois deles na final. Para, com toda a justiça, dar à Argentina seu terceiro Mundial, 36 anos após o anterior, de Maradona. Era o único título que faltava a um jogador que, aos 35, já tinha erguido pelo Barcelona 10 Campeonatos Espanhóis, oito Supercopas da Espanha, sete Copas do Rei, quatro Champions e três Copas do Mundo de Clube. Como venceu dois Campeonatos Franceses pelo PSG e uma Leagues Cup dos EUA pelo Inter Miami, ao qual se mudou em junho deste ano.

 

Maradona e Michelangelo

Embora já tivesse dado à Argentina a medalha de ouro olímpica de 2008 e a Copa América de 2021, só a Copa do Mundo poderia nivelar Messi a Maradona. E, pela maior longevidade no melhor futebol de clubes do seu tempo, superá-lo. Isso é o que há de objetivo na última Bola de Ouro. No subjetivo, fica não um dos sete gols de Messi no Mundial, mas o altruísmo das suas três assistências. Na semifinal contra a Croácia, ele disparou do meio de campo à ponta direita, driblou seis vezes o zagueiro Gvardiol — melhor da Copa, 15 cm mais alto e 15 anos mais novo — e passou para o atacante Álvarez fechar os 3 a 0. Se o futebol pudesse ser resumido num único lance, seria como a pintura pelo que Michelangelo legou no teto da Sistina.

 

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.

 

“Assassinos da Lua das Flores” — Cobiça, morte e reparação

 

Lily Gladstone, Leonardo DiCaprio e Robert De Niro estrelam “Assassinos da Lua das Flores”, novo filme de Martin Scorsese, em cartaz em Campos

 

Felipe Fernandes, filmmaker publicitário e crítico de cinema

Cobiça, morte e reparação

Por Felipe Fernandes

 

A trágica história da Nação Osage tem diversas similaridades com histórias de extermínio de outros povos originários em países colonizados ao longo da história. Porém, é uma história com um acontecimento singular que mudou tudo. Um povo que se tornou nômade para fugir da ganância do homem branco e ao acaso acabou em terras repletas de petróleo, situação que os transformou em um dos povos mais ricos do planeta.

Naturalmente, todo esse dinheiro atraiu todo o tipo de gente gananciosa que se aproximou daquelas terras exalando boa vontade, se aproximaram dos indígenas e buscando sua própria fatia daquela riqueza, situação que gerou uma série de mortes dos indígenas. É dentro desse contexto que o diretor e roteirista Martin Scorsese narra seu novo longa, em uma história poderosa, que funciona como cinema e como resgate histórico de uma trágica e pouco lembrada parte da história estadunidense.

Baseado no livro homônimo de David Grann, o longa se afasta da proposta do livro, que é focar na investigação do caso e na formação do FBI. Scorsese e o experiente Eric Roth constroem uma narrativa em torno da violência vivida pelos indígenas, agregando a investigação em sua segunda metade, mas sempre focando em seus personagens e nos horrores vividos naquele período.

A história se passa no início da década de 1920, após a Primeira Guerra Mundial e Scorsese usa o artifício de registros da época como fotos e como o próprio cinema. Que funciona para introduzir a nova realidade dos Osage, enquanto traz essa sensação de resgate histórico e posteriormente de denúncia, dois dos elementos mais importantes do longa.

Dentro desse contexto, Scorsese costura de forma muito efetiva a situação em um aspecto geral, mostrando os diversos assassinatos e posteriormente os ligando a dramas pessoais. É um filme que trabalha suas consequências e como cada morte afeta diferentes personagens de diferentes maneiras. E, conforme vamos conhecendo alguns deles, tudo vai ficando ainda mais assustador.

Essa relação direta mostra nos detalhes todo esse processo em que esses homens se utilizavam da lei e da impunidade para tomar de forma sórdida e violenta o que era de direito dos Osage. O filme traz algumas cenas bem violentas, mas que trabalhadas de forma pontual e nos momentos certos, causa um impacto forte, nunca soando gratuito, exaltando a natureza violenta daquela situação.

O filme tem um ritmo contínuo que funciona e sua longa duração permite que uma história repleta de personagens e acontecimentos seja abordada de forma eficiente e bem construída. Os personagens e suas relações, a escala de violência que culmina na investigação e suas consequências, é tudo muito bem construído e desenvolvido.

O filme traz um homem branco como protagonista, uma escolha aparentemente problemática, que se prova um estudo de personagem muito interessante, trazendo o olhar do explorador, um protagonista ambicioso e pouco inteligente, que apresenta diferentes camadas, que voltou da guerra para algo ainda pior. O filme busca humanizar o personagem, mesmo que nunca busque justificar suas ações e nem uma redenção.

Em um elenco com grandes atuações, o destaque fica para Lily Gladstone, que interpreta uma personagem difícil. Dentro da fragilidade da situação, seja física, emocional ou social, a atriz demonstra uma altivez que mostram a força da personagem e funciona como representante da força e da tragédia pela qual passa seu povo.

Interessante como o filme trabalha elementos da crença Osage, cenas geralmente ligadas a finitude da vida. O filme também aborda muito da cultura, seja através dos figurinos, do design de produção, do elenco ou até mesmo do uso da língua nativa, demonstrando um respeito importante, que engrandece o filme e sua proposta.

“Assassinos da lua das flores” é um filme importante por resgatar uma história trágica, apontando com detalhes toda a crueldade de tudo o que sofreu a Nação Osage. É um filme maduro, ao trazer um olhar diferente e entender seu lugar dentro daquela equação, conseguindo denunciar sem ser panfletário e profundamente respeitoso com o povo que busca representar.

Um épico trágico, em todos os sentidos, fruto do cinema inigualável de um dos diretores mais apaixonados pela sétima arte. E por tudo que cada um de seus filmes representa.

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.

 

Com DiCaprio e De Niro, novo filme de Scorsese em Campos

 

Lily Gladstone, Leonardo DiCaprio e Robert De Niro estrelam “Assassinos da Lua das Flores”, novo filme de Martin Scorsese, em cartaz em Campos

 

“Martin Scorsese é o maior cineasta vivo do mundo”. Também candidato ao posto, foi o que Francis Ford Coppola afirmou com convicção após assistir às 3h26 de projeção de “Assassinos da Lua das Flores”. O novo filme coescrito e dirigido por seu colega de geração é estrelado por Robert De Niro e Leonardo DiCaprio. Antes, os dois protagonizaram nada menos que 16 outros trabalhos de Scorsese. Mas, pela primeira vez, se juntaram sob a sua direção.

“Assassinos da Lua das Flores” chegou às telas de Campos na última quinta (26), no Cineflix, no Shopping Avenida 28. Em sessões às 15h20, 16h e 20h. Embora com uma semana de atraso da estreia nacional, se fosse para aguardar que um novo filme de Scorsese fosse exibido pelo Cine Araújo, no Boulevard Shopping, ou pelo Cine Uniplex, no Guarus Plaza Shopping, talvez demorasse menos esperar seu lançamento em alguma plataforma de streaming.

Com roteiro de Eric Roth e do próprio Scorsese, a partir do livro homônimo de David Grann, é baseado em fatos reais dos anos 1920, em Oklahoma, estado do Meio Oeste dos EUA. Onde se dá o choque sorrateiro entre o homem branco e o povo índio Osage. Que, com a descoberta de petróleo em suas terras, passa de peão a rainha no tabuleiro do “sonho americano” — desvelado na realidade mais amoral da cobiça.

DiCaprio interpreta Ernest Burkhart, que vem dos campos de batalha da França na I Guerra Mundial (1914/1918). Longe da figura romantizada do “herói de guerra”, serviu como cozinheiro de infantaria. Por conta de um ferimento no abdômen, não pode fazer serviço braçal. O que combina com sua contradição diante do tal “sonho americano”: é tão assumidamente preguiçoso, quanto assume mais de uma vez: “adoro dinheiro”.

A beleza física de DiCaprio é mirada como arma pelo tio, o rancheiro de gado William Hale. Gosta de ser chamado de “King” (“Rei”) e acolhe o sobrinho na cidade que gira em torno do dinheiro do petróleo dos Osage. Na pele de De Niro, se revela um vilão capaz de causar inveja ao gângster Jimmy Conway, que o ator dos atores interpretou em “Os Bons Companheiros” (1990), ou ao psicopata Max Cady, que viveu em “Cabo do Medo” (1991), ambos sob direção de Scorsese.

Escalados ao lado dos dois ícones da interpretação de Hollywood, outros atores não fazem feio. Jesse Plemons está muito bem, como de hábito, na pele do agente federal Thomas Bruce White. Para investigar os assassinatos dos Osage, ele é enviado pessoalmente a Oklahoma pelo primeiro e longevo diretor de um FBI ainda engatinhando, J. Edgar Hoover. Que DiCaprio já encarnou na cinebiografia “J. Edgar” (2011), dirigida por Clint Eastwood.

Oscar de melhor ator deste ano, por sua atuação em “A Baleia” (2022), de Darren Aronofsky, Brendan Fraser também está bem como o advogado de De Niro. Necessário quando os assassinatos dos Osage para se apossar de sua terra rica em petróleo geram um inesperado julgamento. Por que inesperado? Como o roteirista e diretor escancara numa fala do filme: “é mais fácil um homem (branco) ser preso por matar um cachorro do que por matar um índio”.

Quem também está no novo filme de Scorsese é John Lithgow, veterano com mesmo tempo de janela de De Niro, como o promotor Leaward. No entanto, a maior surpresa positiva de “Assassinos da Lua das Flores” fica por conta da soberba atuação da atriz nativa americana Lily Gladstone. Na pele real da também nativa Mollie Burkhart, que cai na arapuca dos olhos azuis de DiCaprio, armada por De Niro, pelo negro do petróleo e o verde do dólar.

 

Martin Scorsese, Lily Gladstone e Leonardo DiCaprio no set de produção de “Assassinos da Lua das Flores”

 

Scorsese é fruto de uma brilhante geração de cineastas estadunidenses, que tomou de assalto e virou de ponta à cabeça o então decadente esquema dos grandes estúdios de Hollywood, entre os anos 1960 e 1980. Que, além dele e Coppola, foi integrada por criadores como Brian De Palma, George Lucas, Peter Bogdanovich, Terrence Malick e Steven Spielberg. Contemporâneos do movimento hippie, ficariam mais conhecidos como “os cabeludos”.

De Spielberg e sua reverência ao “sonho americano”, Scorsese talvez seja a melhor antítese, na realidade exumada em pesadelo. Onde o purgatório é destino mais certo que o céu ou o inferno. E este pode ser terreno na sua impossibilidade da razão. Como quando médicos brancos, comprados por um rancheiro branco com o dinheiro do latrocínio dos Osage, abrem o crânio do cadáver de uma índia diante da sua irmã.

Apesar de toda a crueza levada à tela a partir de fatos reais, mais que o primeiro western de Scorsese, ou outro de seus filmes policiais, “Assassinos da Lua das Flores” é uma história de amor. “Percebi que a trama de Mollie e Ernest era antes de tudo uma história de amor, e que esse era o coração da obra”, vaticinou seu roteirista e diretor. Em parceria com a fotografia de Rodrigo Prieto, a música dos anos 1920 garimpada por Robbie Robertson — falecido este ano — e seu casamento artístico de mais de 40 anos com a editora Thelma Schoonmaker.

No universo de Scorsese, o amor nunca é idealizado ou predestinado. Como na dramaturgia de Nelson Rodrigues, é um sentimento complexo, sujeito a traições e deslealdades, muitas vezes refém do desejo e, outras tantas, mesquinho, com as vindas e idas do livre arbítrio. Princípio cristão que, para o ex-seminarista católico convertido em diretor de cinema, sempre redunda em ascensão, queda e busca de redenção.

Prestes a completar 81 anos em novembro, Scorsese não dá sinal de queda. Coppola parece ainda ter razão sobre ele. Entre seus tantos “filhos” assumidos, Quentin Tarantino ainda tem asfalto a lamber.

 

Assista ao trailer do filme:

 

 

Capa da Folha Dois de hoje

 

Carla Machado pode ou não vir a prefeita de Campos?

 

Carla Machado, Rodrigo Bacellar, Wladimir Garotinho, Robson Maciel Júnior, Priscila Marins, Victor Queiroz, João Paulo Granja, José Paes Neto e Gabriel Rangel (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

Carla pode ou não vir a prefeita de Campos?

Prefeita de São João da Barra quatro vezes, incluindo sua reeleição em 2020, para renunciar e se eleger deputada estadual em 2022, Carla Machado (PP) pode ou não ser candidata a prefeita de Campos em 2024? Como a coluna adiantou (confira aqui) na última terça, essa possibilidade vem sendo articulada pelo presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), o deputado campista Rodrigo Bacellar (União). Ele demanda um ou mais nomes com densidade eleitoral para enfrentar o favoritismo do prefeito Wladimir Garotinho (PP) em todas as pesquisas (confira aqui). Que, a 11 meses da urna, apontam à possibilidade de reeleição em turno único.

 

Robson Maciel Júnior

Na disputa de espaço às eleições de Campos em 2024, a possibilidade de Carla concorrer a prefeita foi endossada (confira aqui) pelo procurador-geral da Alerj, o advogado campista Robson Maciel Júnior. No entender dele, como a ex-prefeita de SJB renunciou ao mandato antes do término, para se candidatar e se eleger a deputada, o caso dela seria diferente do que é lembrado no Supremo Tribunal Federal (STF) como impedimento à candidatura seguida a prefeita de Campos em 2024. “Tudo dependerá da interpretação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Mas, como os casos são diferentes, a revisão legal permite a possibilidade”, ensejou o procurador.

 

Maioria acha que não

No bordão do ex-árbitro de futebol Arnaldo Cezar Coelho: “a regra é clara”. Mas, como nos campos políticos, não existe o VAR, a definição da Justiça Eleitoral será sempre subjetiva, por depender de interpretação. O que valerá será o juízo do ministro do TSE que julgar o caso de Carla, se ele lá chegar. Antes disso, a coluna buscou a opinião de outros juristas campistas com experiência em direito eleitoral, como Robson. Entre eles não houve consenso, o que mostra como a questão pode ser complexa, mesmo aos especialistas. Mas a maioria opinou pela impossibilidade de a ex-prefeita reeleita de SJB se candidatar em 2024 a prefeita de Campos.

 

Priscila Marins

“Com respeito às opiniões diferentes, não vejo viabilidade para a deputada disputar a eleição a prefeita de Campos. Estaríamos diante da tese de prefeito itinerante. Que foi fixada no Recurso Extraordinário (RE) 637485, que estabelece a interpretação do artigo 14, § 5º, da Constituição. Neste caso, uma candidata que foi eleita prefeita e reeleita em um município, e posteriormente renunciou ao cargo, concorrendo e sendo eleita como deputada estadual, estaria sujeita à restrição de não poder se candidatar a uma terceira eleição subsequente para o cargo de prefeita, mesmo que seja em um município diferente”, frisou a advogada Priscila Marins.

 

Victor Queiroz

“A Constituição, nos parágrafos 5º e 6º do artigo 14, estabelece a possibilidade de eleição a prefeito, de modo consecutivo, apenas duas vezes. Pela criatividade dos políticos brasileiros, surgiu a figura do ‘prefeito itinerante’. Que, tendo sido reeleito, muda o domicílio eleitoral para concorrer a prefeito em outro município. Desde 2008, o TSE entende a inadmissibilidade do ‘prefeito itinerante’, mesmo com a desincompatibilização do mandato. Esse entendimento foi confirmado pelo STF no julgamento do RE 637.485, em 2012. As normas e a interpretação que têm sido dadas pelo TSE e pelo STF são essas”, salientou Victor Queiroz, promotor de Justiça.

 

João Paulo Granja

“No artigo 14, § 5º, da Constituição, só é possível a qualquer cidadão disputar dois mandatos consecutivos no Poder Executivo. Esse dispositivo teve abrangência ampliada pelo STF e TSE, ao considerarem que os mandatos em municípios vizinhos contam. Por este entendimento, a ex-prefeita Carla Machado estaria impedida de disputar a Prefeitura de Campos, pois foi eleita como prefeita de SJB nas duas últimas eleições, mesmo tendo renunciado para disputar as eleições de 2022, quando se elegeu deputada estadual. O TSE já analisou hipóteses similares e manteve o mesmo entendimento em todas”, ressaltou o advogado João Paulo Granja.

 

José Paes Neto

“A Constituição não trata especificamente da impossibilidade de um terceiro mandato consecutivo de prefeito em município vizinho. A vedação ao chamado ‘prefeito itinerante’ se deu por construção jurisprudencial do TSE e do STF, que fixou tese pela proibição da segunda reeleição, mesmo em município diverso. Contudo, o segundo mandato de prefeita Carla Machado foi interrompido com a sua renúncia para disputar o cargo de deputada estadual, ao qual foi eleita. É razoável a interpretação de que no caso em questão não restaria caracterizado o terceiro mandato consecutivo”, ponderou, como Robson, o advogado José Paes Neto.

 

Gabriel Rangel

“Na interpretação do artigo 14, §5º da Constituição, pelo STF, no Recurso Extraordinário 637.485, e pelo TSE, no Recurso Especial Eleitoral 32.507, a deputada Carla Machado está inelegível ao próximo pleito de prefeito de Campos. Em 2012, ao julgar o leading case ‘prefeito Itinerante’, o STF manteve o entendimento do TSE, ratificado em 2023, no Recurso Ordinário 060083352. Que estendeu o efeito a quem exerceu dois mandatos consecutivos de prefeito, mesmo em município diverso. Ademais, o STF fixou que ‘as decisões do TSE que, no curso do pleito eleitoral ou logo após o seu encerramento, impliquem mudança de jurisprudência não têm aplicabilidade imediata’”, reforçou Gabriel Rangel, procurador de Campos.

 

Publicado hoje, na Folha da Manhã.

 

Da guerra à ética na política goitacá no Folha no Ar desta 6ª

 

(Arte: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Bispo diocesano de Campos, o uruguaio Dom Roberto Ferrería Paz é o convidado para fechar a semana do Folha no Ar desta sexta (27), ao vivo, a partir das 7h da manhã, na Folha FM 98,3. Ele analisará, sob a ética do cristianismo, a nova guerra entre muçulmanos e judeus na Terra Santa das três grandes religiões monoteístas.

Dom Roberto também analisará o Brasil de Lula, o Uruguai do conservador Luis Alberto Lacalle Pou e o segundo turno presidencial da Argentina, que se consumará no dia 19, entre o peronista Sergio Massa e o anarcocapitalista Javier Milei. Por fim, ele falará da falta de decoro da política goitacá (confira aqui, aqui, aqui, aqui e aqui) e do Encontro Diocesano (confira aqui) que promoverá no dia 25, entre os prefeitáveis de Campos às eleições de 6 de outubro de 2024, daqui a pouco mais de 11 meses.

Quem quiser participar do Folha no Ar desta sexta poderá fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, na página da Folha FM 98,3 no Facebook.

 

Rio refém da milícia e Segurança no Folha no Ar desta 5ª

 

(Arte: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Policial federal e especialista em Segurança Pública, Roberto Uchôa é o convidado do Folha no Ar desta quinta (26), ao vivo, a partir das 7h da manhã. Ele analisará as causas e consequências dos ataques da milícia à Zona Oeste da cidade do Rio na segunda (23), quando incendiaram (confira aqui) um trem e 35 ônibus, após a morte de um criminoso.

Uchôa também falará da proposta de Federalização da Segurança Pública no país. E do papel que cabe à União, aos estados e municípios no setor. Quem quiser participar do Folha no Ar desta quinta poderá fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, na página da Folha FM 98,3 no Facebook.

 

Wladimir pede cargos dos indicados pela oposição

 

Wladimir pediu cargos indicados pelos vereadores de oposição nas secretarias de Turismo e Qualificação e Emprego, que eram comandadas por Hans Muylaert e Robinho Pedala (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

“Diga a verdade, nada melhor do que ela. Estávamos dentro de uma pacificação que foi desfeita e anunciada da tribuna pelo presidente da Câmara (Marquinho Bacellar, SD). Tive a hombridade e humildade de chamar todos vocês para comunicar o que eu faria, mesmo podendo fazer só pelo DO. Agradeci pelos serviços prestados e lamentei como o fato se deu. Não tenho do que reclamar pessoalmente de ninguém”. Foi o que disse o prefeito Wladimir Garotinho (PP), na tarde de ontem (24), aos indicados pelos vereadores de oposição nas secretarias de Turismo e Qualificação e Emprego, para comunicar o desligamento dos cargos.

A secretaria do Turismo tinha à frente psicólogo Hans Muylaert. Apesar de chegar ao governo incialmente pela Emahb, como indicação do vereador Nildo Cardoso, ele assumiu o Turismo como indicação de Marquinho e seu irmão, o deputado estadual Rodrigo Bacellar (União), presidente da Alerj. Também deixarão os cargos na pasta a subsecretária Isabela Barreto, o chefe de gabinete Fabiano Gomes e o advogado Daniel Matos. Eles eram indicados, respectivamente, pelos edis Dandinho Rio Preto (PSD), Igor Franco (SD) e Raphael Thuin (PTB).

A secretaria de Trabalho e Renda era comandada por Robson da Silva Barboza, o Robinho Pedala. Indicação do vereador Helinho Nahim (Agir), ele já teria pedido exoneração do cargo há uma semana.

De saída do Turismo, Hans lembrou o que conseguiu fazer como secretário enquanto durou a pacificação entre Garotinhos e Bacellar:

— Foi um grande reconhecimento retornar no momento de criação da secretaria de Turismo. Em apenas seis meses, pudemos desenvolver projetos significativo para o desenvolvimento econômico e social. Realizamos a captação de recursos para implantação de equipamentos turísticos importante para nossa região turística Costa Doce. Facilitamos o processo de organização de eventos a partir do decreto do Nada a Opor Único, recuperação da via de acesso a APA do Itaoca, construção da nova sede do turismo no Cais da Lapa, parte do projeto de revitalização do centro histórico. Retomamos as tratativas com a Marinha para utilização do espaço em Farol de São Thomé. E, junto ao Sesc, retomamos a parceria e melhor implantação e produção dos eventos no verão. Iniciamos o ordenamento de Lagoa de Cima, visando não só o verão, mas uma política de uso continuo e definitivo. Conduzimos de maneira técnica e política as ações na secretaria. Fizemos bastante, com a condição que nos foi dada. Sabemos que há muito ainda a fazer, mas estávamos no caminho certo.

 

Carla a prefeita de Campos em 2024? “Depende do TSE”

 

Deputada Carla Machado e o procurador-geral da Alerj, o jurista campista Robson Maciel Júnior, em cerimônia no Legislativo fluminense (Foto: Alerj)

 

Após renunciar ao segundo mandato consecutivo de prefeita de São João da Barra, para se eleger deputada estadual pelo PT em 2020, Carla Machado pode ou não ser candidata a prefeita de Campos em 2024? Hoje, a coluna Ponto Final, da Folha da Manhã, aventou (confira aqui) que uma tese jurídica favorável à possibilidade teria sido elaborada pelo procurador-geral da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), o campista Robson Maciel Júnior. Ele descartou qualquer envolvimento no caso. No entanto, opinou que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) poderia, no caso de Carla, revisar o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF), que veda a candidatura seguida a prefeito antes reeleito em município limítrofe.

No entender de Robson, como Carla renunciou ao mandato de prefeita de SJB antes do término, para se candidatar e se eleger deputada estadual, o caso dela difere do que é lembrado no STF como impedimento à candidatura a prefeita de Campos no próximo ano. E abriria espaço para sua revisão legal no TSE. O procurador-geral da Alerj ressalvou que é apenas sua opinião técnica. E não tem nenhuma ligação com a eventual articulação do presidente da Assembleia, o deputado campista Rodrigo Bacellar (União), de uma opção de oposição à tentativa natural de reeleição do prefeito Wladimir Garotinho (PP).

— Tudo dependerá da interpretação do TSE. Mas, como os casos são diferentes, a revisão legal permite a possibilidade. Mas, que fique claro: não assinei nenhuma petição, não assumi nenhuma representação em processo nesse caso. Sou procurador-geral da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. E, em função do meu cargo, respondo diariamente a denominações políticas de todo o estado do Rio. Mas sempre tecnicamente, não politicamente — ressalvou o procurador campista do Legislativo fluminense.