O sol atingia indiscriminadamente as bancas do mercado. Frutas, legumes e verduras, espalhados por balcões, pareciam frescos. “Foi tudo colhido ontem e hoje, dona moça. Pode ficar despreocupada”, informou o feirante ao perceber os olhares de Paula. A mulher sorriu em agradecimento e selecionou o que precisaria.
Sábado era dia de cozinhar para Jorge. O marido gostava de saladas criativas, segundo suas próprias palavras. E ela se sentia disposta para satisfazer os desejos do homem. Moravam juntos há 15 anos. Optaram pela não assinatura de papéis e festas para iniciar a nova fase. As comemorações foram a dois, com viagens, jantares e presentes. Viviam em um apartamento próximo ao rio que cortava a cidade. Ali, eram felizes.
Ambos atuavam no ramo da hotelaria, mas estavam de férias. Este era o primeiro dia de descanso. Paula se dedicava a fazer as vontades do homem. Cuidava dos detalhes para que os dias corressem conforme os planos dele. Sentia ser essa a sua missão de esposa. E gostava de assumir o papel com dedicação e carinho. A mãe costumava lhe dizer que, sim, ela poderia trabalhar fora de casa, mas sua verdadeira função era ser mulher.
Após selecionar os produtos que queria comprar, foi ao caixa e pagou a mercadoria. O final da manhã correra exatamente como planejado. No caminho para casa, sorria e cumprimentava os vizinhos. Todos a olhavam com expressões respeitosas e comovidas. A mulher não entendia o porquê. Abriu o portão e foi recebida por Nina, a cadela adotada há 10 anos. Mesmo cansada, sempre ia para a escada acompanhar os donos.
Acariciou a cabeça de Nina e entrou. O cheiro de limpeza indicava que Flávia havia chegado. Ela trabalhava na casa do casal desde os primeiros meses. Era uma grande amiga com quem Paula dividia segredos e histórias. Cuidadosa, passava a maior parte do dia com o casal.
“Oi, Paula.”
“Oi, Flávia. Como estão as coisas?”
“Tudo ótimo. E você? Precisa de ajuda por aí?”
“Não. Está tudo certo. Vamos cozinhar juntas?”
“Claro. Quero companhia para conversar. Vou fazer a salada que Jorge gosta. O que acha? Ele vai ficar feliz”, disse, sorrindo, enquanto se dirigia à cozinha. Flávia seguiu-a, observando seus passos. Às vezes, pensava em qual poderia ser a melhor saída.
No cômodo, a mulher já organizava o material que usaria. Por não terem feito festas e tradicionais chás para a montagem da casa, o casal comprou tudo. Poucos amigos colaboraram. Apesar do tempo, quase todos os objetos estavam bem conservados. Os dois eram caprichosos e se orgulhavam disso.
“Quando estivermos velhinhos e nada mais nos servir, vamos guardar todas as lembranças. Cada uma delas é parte de nossa história”, disse Jorge, em uma noite de jantar. E sorriu. O marido tinha um jeito peculiar de sorrir. Malandro e terno. Ela ainda se encantava com esse traço.
“O que acha de fazer aquele molho adocicado, Flávia? Ele adora!”
“Ele adora, eu sei. Adora tudo que vem de você. Mas e você, Paula?”
A mulher retornou aos afazeres, cortando os ingredientes. Acendeu o fogo e levou as panelas. Sentia-se plena. Cada detalhe exigia atenção máxima para não desandar. Embora Jorge não cobrasse, ela tentava ser impecável no que fazia para o marido. Esticou a mão e alcançou o rádio, que ecoava canções brasileiras. Suas preferidas.
As duas dividiam as tarefas. O almoço estava quase pronto quando Paula foi arrumar a mesa. Três pratos, três garfos e facas e três copos. Ajeitou papéis, canetas e contas espalhadas pelo vidro. Colocou a toalha e distribuiu os objetos. Sorria. A foto dos dois estava a poucos metros dela. Andou, segurou o retrato. A emoção que ainda sentia por ter o marido era incomum. Parecia uma adolescente apaixonada. Olhou-se no espelho, que estava posicionado próximo à mesa. Nem as rugas faziam diferença na expressão de menina que conservava ao se lembrar de Jorge.
A amiga trouxe a salada e o molho. Paula ajudou-a, reorganizando o espaço.
“Ficou ótimo. Bonito e atraente. O que achou, Jorge?”
Flávia olhou para a mulher, que sorria.
“Que bom que gostou, querido. Sente-se ao meu lado. Não. Você está ótimo. Verifique no espelho. Ficarei aqui, em direção a ele.”
E se posicionou na cadeira ao lado da de Jorge. Os três comeram enquanto Paula comentava sobre o dia. Acordara mais cedo do que o previsto para ir à feira. Flávia ouvia as palavras, mas não erguia a cabeça. Sua voz também não era ouvida.
“Então, nosso almoço está aprovado, meu amor? Isso me deixa satisfeita. E que seja apenas um feliz começo das nossas esperadas férias.”
Inclinou-se para beijar o marido. O espelho refletiu a imagem de Paula.
Texto e foto. Muito bons.
Pungente… Paula, é só o que eu, leitor cativo, tenho a dizer. Ah! Tem mais, amei e ponto.
(Excluído pela moderação)
Cara “Bianca” (IP: 172.68.25.55),
Sim, de fato, a Paula sabe escrever. Sua prosa tem identidade própria, não se reduz ao pastiche de outro escritor, homem ou mulher. Bem diferente dos recalques do mundo praguejados em “verso” numa manjada e monocórdia PPA (Poética de Puta Arrependida).
Grato pela chance das observações!
Aluysio
Cara “Bianca”, ou “Iara Teixeira” (https://opinioes.folha1.com.br/2017/12/15/moro-agradece-mas-evita-responder-criticas-de-lula/#comment-29530),
Além da PPA da definição de quase seis meses atrás, recentemente alguns comentários feitos sob o mesmo IP 172.68.25.55 revelaram as variações de outra manifestação “literária”: a POC (Prosa do Obsessor Carnado).
Busque tratamento, se ainda houver cura. Mas em um caso e no outro tb: “Vá cantar em outra freguesia!”
Grato pela chance dos risos presentes e passados!
Aluysio
Cara Flávia, obsessora das madrugadas viradas e comentarista das 7h17, 7h19 e 7h25 de 20/01/19,
Bloqueada há seis anos da vida real, do Face, do celular, do SMS, do WhatsApp, do e-mail e agora tb do blog, nem na África te aguentaram, assombração?
Grato pela chance de renovar os risos!
Aluysio