Por Aluysio Abreu Barbosa e Paula Vigneron
Arnaldo Vianna assumiu o governo de Campos em 1998, quando Anthony Garotinho deixou a Prefeitura para se eleger governador. Depois, além de se reeleger por conta própria ao cargo, ainda no primeiro turno de 2000, foi talvez o único que chegou a superar o antigo líder em popularidade, quando passou a ser considerado inimigo do garotismo. Após várias pendências jurídicas que lhe causaram problemas nos pleitos de 2006, 08, 12 e 14, ele não apoiou o filho, Caio Vianna (PDT), na eleição a prefeito vencida ano passado por Rafael Diniz (PPS), por quem agora pede tempo. Ao falar do “quadro tenebroso” deixado pelo antigo governo municipal, Arnaldo diz que as questões da Lava Jato — na qual o casal Garotinho foi delatado (aqui e aqui) por executivos da Odebrecht — e da “venda do futuro” se encaixam.
Folha da Manhã — Como você analisa os 100 primeiros dias do governo de Rafael Diniz?
Arnaldo Vianna — Parabenizo Rafael pela vitória. Uma vitória incontestável que ele teve, no primeiro turno. Agora, é o que eu digo sempre, para quem foi prefeito duas vezes, vereador e deputado (federal): a eleição acabou. Agora, começa outra etapa. E há que se tomar muito cuidado, tanto quem vence a eleição e assume, como os críticos. Temos que dar tempo ao tempo. É uma fase em que ele enfrenta uma situação difícil, porque não houve transição efetiva. E ainda bem que não houve. Quero dizer para Rafael, quando ele ler isso: foi bom não ter havido, Rafael! Porque, na minha época, na transição, em 98, com o mesmo grupo…
Folha — Garotinho saiu para governador, se elegeu, e você, vice-prefeito, assumiu Campos.
Arnaldo — Passou para mim. Me deu documentos dizendo que nós tínhamos, em caixa, uma quantia que animaria qualquer um que estivesse iniciando o mandato. Mas só que ele se esqueceu de dizer que aquela quantia que ele dizia ter deixado em caixa não era crédito. Era dívida, que levei o meu primeiro ano de governo só para pagar. E hoje a gente vê com preocupação o que pode vir a acontecer com Rafael. Ele tem que se cercar de pessoas boas, focar no principal. Olha, eu tenho acompanhado muito, tanto na mídia social, mas, sobretudo, o que tem acontecido, o que vocês têm colocado na Folha, e vendo com o que a população está preocupada, eu diria para Rafael: inicie pensando em três coisas básicas. A primeira é a Saúde. Estou militando na Saúde ativamente e estou vendo a Saúde de Campos em uma situação muito grave, difícil para a população. Hoje, nós temos que ver qual é a realidade da Saúde. Quem tem plano de saúde se vira com ele. Quem não tem plano de saúde, e tem dinheiro, vai para a medicina privada. Agora, quem depende do SUS, é triste. Eu digo isso porque estou atendendo o SUS, além de atender no meu consultório e no social. E vejo essa situação. Então, eu digo: Rafael, cuide dessa parte.
Folha — Você falou que tem três pontos. E os outros dois?
Arnaldo — Outro ponto é a Educação. Eu sempre pregava uma coisa: eu não vou promover a Saúde se eu não promover a educação. Através da Educação, a gente pode mudar muitas coisas, inclusive na questão da Saúde. Não muda na questão da doença, mas muda na questão da Saúde. Tem que usar a rede pública municipal de ensino como agente promotor da Saúde. Isso é fácil de fazer. Eu lembro que, quando prefeito, nós fazíamos esse trabalho com os professores, da saúde preventiva, de evitar doenças.
Folha — E o terceiro ponto?
Arnaldo — Saúde, Educação e o terceiro ponto é o funcionalismo público. Depois dessa experiência que eu passei, como prefeito, se você não tiver o funcionalismo público trabalhando em consonância com quem está no comando, não anda. A máquina para, emperra. Os processos, que têm que passar em cada secretaria, não andam. Não dependem do prefeito, do vice-prefeito, dos secretários e dos vereadores, mas daqueles funcionários anônimos que estão ali, que têm que preparar o projeto, fazer com que aquilo ande. E esses funcionários nem sempre são valorizados. Acho que está no momento do Rafael avaliar o plano de cargo, carreira e salário do servidor. Para valorizar essa massa importante que toca a Prefeitura.
Folha — Você falou, há pouco, que Rafael tinha que se cercar de pessoas boas. A equipe de governo dele tem sofrido alguns questionamentos, sobretudo por falta de experiência. Qual é a sua opinião?
Arnaldo — Olha, essa questão de falta de experiência, você vence com a garra, com a vontade, com a determinação. E com uma coisa muito importante: com o conhecimento. Se as pessoas não têm experiência em determinado setor, mas detêm conhecimento da matéria, elas vão desenvolver bem. A experiência vai vir. Mas ele também tem, na sua equipe, pessoas experientes.
Folha — Especificamente em relação à Saúde, você é médico, um neurocirurgião muito conceituado em Campos, e foi um elogiado secretário de Saúde quando acumulou a pasta com a vice-prefeitura, no segundo governo de Garotinho. Como você vê a indicação de Fabiana Catalani à pasta?
Arnaldo — Eu conheço bastante a Fabiana. Ela conhece muito essa questão. Sobretudo, ela conhece muito a questão de captação de recursos. Talvez seja o ponto em que Catalani seja mais forte, na captação de recursos para a área da Saúde. E me preocupa saber que, talvez, ela não fique.
Folha — Essa informação é nova.
Arnaldo — Me preocupa saber isso. Eu já escutei isso. Não escutei nem em Campos, foi fora. Ela também trabalhava fora de Campos. Há uma expectativa até muito grande de que ela possa voltar e assumir a Santa Casa de São João da Barra.
Folha — Mas isso, por enquanto, é só especulação?
Arnaldo — É especulação. Especulação que não escutei nem dela, nem aqui em Campos. Escutei fora de Campos. Em São João da Barra.
Folha — Qual a sua opinião sobre a operação Chequinho, que já levou a condenações de envolvidos em primeira e segunda instâncias na Justiça Eleitoral?
Arnaldo — Esse é um ponto que está dominando o momento político. A gente sabia disso. A gente sabia que muita coisa errada estava acontecendo naquela campanha. Hoje, a gente fica vendo quantos já foram presos, condenados, citados, investigados. Mas, se não chegar ao principal, não resolve.
Folha — Mas o principal (Garotinho) chegou a ser preso também.
Arnaldo — Foi preso, mas precisa ser devidamente esclarecido porque, senão, só as piabas vão pagar e os tubarões continuam armando.
Folha — Vê similaridade entre as denúncias de troca de Cheque Cidadão por voto, na Chequinho, além da contratação ilegal de RPAs, que teriam sido comandadas por Garotinho em 2016, com as buscas na sua secretaria municipal de Administração, em 2004, onde foram apreendidos documentos que comprovaram ilícito eleitoral na contratação de servidores, que depois custariam o mandato de prefeito de Carlos Alberto Campista?
Arnaldo — Total. Além de ver a similaridade… hoje, eu volto atrás…
Folha — Mas, então, houve ilícito eleitoral no seu governo? Se há similaridade…
Arnaldo — Há similaridade nos fatos. Eu quero voltar atrás, quando eu disputei uma eleição contra Rosinha.
Folha — Em 2008 ou 2012?
Arnaldo — Em 2008. Eu lembro que foi uma eleição muito difícil. Difícil para mim, no plano pessoal, pois eu vinha de um problema de saúde muito sério e disputei aquela eleição. Eu lembro que, logo assim que acabou a votação, eu fui para o hospital para ser operado. Foi um problema de vesícula e pancreatite. Fui para lá para ser operado. Graças a Deus, correu tudo bem. Mas aquilo, durante a campanha, me prejudicou muito. Mas o que mais me prejudicou, eu fui saber agora. Eu, com poucos recursos, porque eu não tinha apoio da Odebrecht. Fui saber, pelas delações dos executivos da Odebrecht (Benedicto Barbosa da Silva Júnior e Leandro Andrade Azevedo, que denunciaram o casal Garotinho na Lava Jato) que…
Folha — A Odebrecht deu dinheiro, na campanha de 2008, para Rosinha.
Arnaldo — Eu fui prejudicado por todo esse esquema.
Folha — E você acha que esse dinheiro da Odebrecht foi fundamental na sua derrota?
Arnaldo — Com certeza. Além do problema de saúde que eu passava na época, eu estava com recursos minguados, disputando. Hoje, eu vejo como era o poder financeiro daquela campanha. Isso realmente é preocupante. É uma coisa que eu digo sempre: nós tínhamos que voltar à política de tempos atrás, em que você não tinha tanta rede social, não tinha internet, não tinha nada disso. Era no convencimento. Você convencia as pessoas de que você seria um bom candidato pela sua história e pelo que você poderia fazer.
Folha — Qual sua opinião sobre a antecipação de royalties, mais conhecida como “venda do futuro”? No contrato celebrado pelo casal Garotinho com a Caixa Econômica Federal, no apagar das luzes do governo Dilma Rousseff (PT), foi excedido o comprometimento de 10% dos royalties, limite definido pela lei municipal que autorizou a transação. Na sua opinião, o governo Rafael tem que discutir ou pagar?
Arnaldo — Bom, quando a gente deve, a gente não discute. A gente paga e, depois, vai para a discussão. Acho que o governo Rafael deve lutar para tentar reverter, para ver que manobra usaram para aprovar isso. Não é fácil reverter. Porque vão chegar e dizer que tem uma lei da Câmara Municipal que autoriza. Qual Câmara? Quem comandava a Câmara? Não falo só dos vereadores. Quem tinha o poder de influência sobre a Câmara para que isso acontecesse? Eu já fui vereador, já fui deputado. Então, sei como funciona o processo legislativo, sobretudo na hora dessas aprovações. Acho que ele deve lutar, sim. Mas, além de lutar, eu acho que ele tem, com sua equipe, que preparar um plano de recuperação econômica e recuperação do crédito para Campos. Nós temos, em Campos, excelentes cabeças que podem ajudar. A economia de Campos está triste. A gente vê lojas fechadas. E isso nos preocupa porque o poder local, é uma coisa em que eu bato há muito tempo, não é a Prefeitura e a Câmara só. É Prefeitura, Câmara, OAB, CDL, Acic, associações de classe, de bairro. Nós temos que juntar tudo isso. E, quando falo isso, é porque temos uma experiência, no passado, do Fundecam. Era o Fundo de Desenvolvimento de Campos, criado no meu governo, em que retirávamos uma parte do dinheiro dos royalties e aplicávamos ali, para garantir o futuro, para quando os royalties acabarem. E vão acabar um dia.
Folha — A “venda do futuro” integra uma dívida de R$ 2,4 bilhões legada pelo governo Rosinha. Hoje, a Prefeitura de Campos opera com um déficit de R$ 40 milhões/mês entre receita e despesa. O que acha do quadro deixado?
Arnaldo — O quadro é tenebroso. É terrível. A dívida deixada é terrível. Olha só a questão da Lava Jato e a questão da “venda do futuro”. As coisas se encaixam. São muito próximas. Eu lembro, quando saiu essa “venda do futuro”, naquela época, eu falava: “não permitam isso porque vai ser a quebradeira de Campos”. E realmente é a quebradeira de Campos. É difícil sair disso. Mas se todos se unirem em favor de Campos. Não em favor do partido “A”, do partido “B”, ou da corrente política “tal”. Não! Em favor de Campos. A questão, hoje, é salvar Campos, e não o governo de Rafael, que ainda está começando. Temos que dar tempo a ele para mostrar a que veio.
Folha — Você foi amigo do pai dele (o ex-deputado Sérgio Diniz)?
Arnaldo — Muito. Fui colega, amigo do avô dele (o ex-prefeito Zezé Barbosa). Uma pessoa fantástica. Uma pessoa que a gente sempre se lembra de coisas boas que ele fez. Eu me lembro de quantas vezes fui à casa dele para conversar, para ele me orientar, mesmo que o grupo ao qual eu pertencia não pudesse ouvir falar no nome de Zezé Barbosa. O grupo do senhor Anthony William não podia falar do Zezé.
Folha — Você não fala Garotinho? Você fala Anthony William?
Arnaldo — Ele já cresceu. Ele já está idoso para ser chamado de Garotinho. É Anthony William. Tem que assumir o que a gente é. Ele não assume nem o nome dele. Vai assumir mais o quê?
Folha — O garotismo e o arnaldismo, como o próprio lulopetismo, são movimentos marcados pela política social para uns, assistencialista para outros, da população mais carente. O que acha de quem afirma que precisam do pobre para sobreviver politicamente? É mais difícil de mantê-los em período de recessão econômica, como vivem o Brasil, o Estado do Rio e Campos?
Arnaldo — A gente fala, nesta questão, dividindo por classes econômicas. Mas vamos dividir, também, pela classe cultural. Porque, hoje, mesmo aqueles que pertencem a uma classe econômica de nível mais baixo, eles estão adquirindo conhecimento. E, daqui a pouco, não vão acreditar na política do R$ 1, na política do pão e circo. Não vão acreditar mais na política do “dá lá, toma cá”. Eu sempre falei uma coisa: eu posso, hoje, dar uma bolsa de estudos para os filhos; posso dar o Cheque Cidadão. Posso dar tudo isso. Mas, se eu tiver uma política que gere trabalho e renda, eu não vou precisar mais dar isso. E o cidadão vai ser mais feliz. Ele vai ver que não está ganhando benesse de governo nenhum, seja federal, estadual ou municipal. Eu estou ganhando o produto do meu trabalho. Mas, para isso, vamos voltar lá atrás. E, para isso, eu digo ao Rafael: use a história da sua família. Invista na Educação, sobretudo na educação profissionalizante, para que a gente possa preparar uma massa, em Campos, de pessoas que governem a cidade junto com os eleitos. Aí, volto há um tempo, em que escutei, quando o presidente Kennedy, dos EUA, disse: “Não pergunte o que seu país pode fazer por você, mas o que você pode fazer pelo seu país”. É hora, também, de a gente perguntar: além do que Rafael pode fazer por nós, o que nós podemos fazer por Campos?
Folha — O arnaldismo morreu em Campos? E o garotismo?
Arnaldo — Eu nunca vi essa questão do arnaldismo. Até porque eu sempre tratei as pessoas que trabalhavam comigo com muita responsabilidade, com muito respeito. O garotismo, na verdade, o mentor do garotismo tinha uma inveja do (ex-governador) Brizola muito grande. Brizola foi um cara fantástico, independente de posições políticas. Era um cara de um pensamento político adiante. E existia, na época, o brizolismo. E, quando houve a ruptura dele com Brizola, ele quis pegar até o jeito de falar do Brizola. Ele imitava em tudo Brizola. Mas ele se esqueceu das coisas boas que Brizola fez por ele e das coisas ruins que ele fez por Brizola. Mas ele tinha essa fixação por Brizola e criou o garotismo. Mas o garotismo era assim: ou faz o que eu quero ou está fora; ou me segue ou não presta. Todos aqueles que, um dia, não concordaram com ele viraram seus adversários. Adversários quando se fala na boa política. Pior é quando se tornam inimigos, malvados, perversos. Eu tenho adversários políticos, é lógico, mas evito ter inimigos. Por exemplo, Anthony William se declara meu inimigo. Mas a família dele não é minha inimiga. Muito pelo contrário. Eu tenho ligações com pessoas da família dele. De amizade, profissionais e de respeito, o que ele não tem com a minha. Ele não sabe separar política da vida pessoal. Eu acho que este é o grande ponto do garotismo: eles não separam a política da vida pessoal, em todos os aspectos.
Folha — Aquele que seria seu herdeiro político, e filho único, Caio Vianna (PDT) não teve seu apoio em 2016. Quando você apoiou a candidatura a prefeito de Geraldo Pudim (PMDB), chegou a dizer publicamente: “Caio precisa estudar, amadurecer. Eu lutei muito para me formar. Já meu filho ouviu algumas pessoas e trancou a faculdade para entrar em uma aventura. Quando ele voltar aos estudos e concluir a faculdade, darei a ele meu apoio político”. Mudou ou mantém a opinião?
Arnaldo — Mantenho. Mantenho porque fui criado dessa forma. Quando eu tinha 11 anos, meu pai faleceu, e eu fui criado pela minha mãe, professora da rede estadual. Com muita dificuldade, ela criou os cinco filhos. Mas ela sempre usava uma coisa com a gente: estude. Nós tínhamos uma história política na família. Meu pai fazia parte do antigo PTB, que deu origem, depois, ao PDT, na época do Getúlio (Vargas, ex-presidente). Ele era amigo do Brizola. Eu me lembro. Tem uma foto, na casa da minha mãe, do meu pai, minha mãe, Brizola de cabelo pretinho e bigodão, e eu no colo dele. É uma história que vem de lá. Aí, eu digo para o meu filho: “estude, se forme, porque política não é profissão”.
Folha — Ele ouve você?
Arnaldo — Ele ouve os dois lados. E, quando eu digo os dois lados, muitos vão pensar que são a mãe (a ex-vereadora Ilsan Vianna) e o pai. Não. Os dois lados são o quê? Eu, que falo com o coração e a responsabilidade de pai, e outros que se acercam. E que se acercaram de mim também, quando eu estava no poder, mas não conseguiram muitas vantagens comigo. E passaram a olhar para Caio com uma perspectiva de ele ser mais novo, com menos experiência do que eu tinha, para eles poderem levar vantagem. E isso me preocupava.
Folha — No início da última campanha a prefeito, Caio chegou a liderar a série histórica das pesquisas Pro4/Folha, mas entrou em derrocada tão logo você não deu a ele seu apoio. Considera que sua posição definiu os rumos da candidatura dele?
Arnaldo — O que definiu a derrota dele, naquele momento, não foi meu apoio a outro candidato. Não foi a idade do Caio. Eu acho que se deveu muito mais a duas coisas: às pessoas ainda não terem tido noção do que Caio tinha feito e do que poderia fazer. Tinha, ao lado dele, uma pessoa, e aí não vai crítica pessoal, mas que trabalhou no meu governo também…
Folha — Quem?
Arnaldo — A mãe dele. Que foi prejudicial para ele. Ela é uma pessoa que, administrativamente, tem um potencial muito grande. Não vou negar isso. Mas, politicamente, é o inverso. Talvez pelo seu jeito de ser, de conversar com as pessoas. Então, não agrega. Mas gosta da política. E, naquele momento, além disso, eu tinha saído do PDT. Fui para o PEN, em uma passagem rápida. Esse grupo mesmo manipulou para tirar o PEN do Arnaldo. Eles fizeram uma tramoia para me tirar o PEN. Foi terrível isso. Até que me surge, o filho do Paulo Moraes, o deputado Lazaroni, e acabamos indo para o PMDB.
Folha — Depois que definiu seu apoio a Pudim, você não conseguiu transferir a ele a sua popularidade. Você acha que isso se deveu a quê?
Arnaldo — Estou até querendo, um dia, sentar com Pudim e mais alguns membros do grupo dele para conversar sobre isso. Acho que é um exercício muito bom para o futuro. O que houve? Eu não conseguia transferir para ele a minha popularidade. Não conseguia fazer com que seus votos aumentassem. Mas lembro que, na campanha, muitas vezes, eu ainda com gás para continuar as caminhadas, o grupo de militantes dispersava. Era aquele contato muito superficial e muito rápido com o eleitor. E faltava garra, determinação. Faltava enfrentar o que eu enfrentei em várias campanhas: comprar, no Camelódromo, uma capinha de chuva e, mesmo no dia de chuva, fazer caminhada. Faltava gastar sola de sapato, convencimento. E não aquelas, desculpe o termo que vou usar, reuniões de baba-ovo, em que meia dúzia vai lá bater palma, para aparecer. Faltava aquele que ficava lá atrás. Faltava esse cara, que é o que ganha a eleição. O cara que vai para a rua e ganha.
Folha — Na reta final da campanha municipal de 2016, depois que Rafael passou a liderar as pesquisas, começou a circular com força nos bastidores que Caio teria feito uma aliança por baixo dos panos com Garotinho. Hoje, entre os próprios garotistas, é dito abertamente que, em caso de nova eleição, Caio seria o candidato o candidato do grupo. Como político e pai, qual a sua visão?
Arnaldo — Terrível. O que existe, na verdade, é que Caio mora no prédio em que mora Chicão. Eu lembro que foi publicada uma foto dos dois conversando. Isso não tem nada demais. Mas, depois que começa a surgir tudo isso e eu vejo até uma discussão em que o grupo estava querendo observar minha posição, o que eu ia fazer na política, se resolvia as minhas pendências. Se eu fosse candidato a deputado federal, eles lançariam Caio a deputado federal; se eu fosse candidato a deputado estadual, eles lançariam Caio a deputado estadual.
Folha — Eles quem? Garotinho?
Arnaldo — O grupo de Anthony William. Na pescaria, a gente usava muito isso. Você joga o engodo para pegar o peixe.
Folha — O peixe é você?
Arnaldo — É. Eles fazem isso como uma maneira de provocação para ver se eu entro em rota de colisão com meu filho. Eles apostam no seguinte: Arnaldo teve esse problema com Caio. E eles não vão entender isso nunca porque não tem valor para eles eu dizer que queria que meu filho estudasse, que queria o melhor para o meu filho. Eles nunca vão acreditar nisso. É o que eu penso até hoje. Disse naquela época e reafirmo: no dia em que Caio terminar os estudos dele, e se ele optar pela vida pública, pela política, eu serei o primeiro a apoiá-lo. Ele estava na faculdade, no Rio. Gostava do que estava fazendo. Não era na minha área. Era na área tecnológica. Mas ia muito bem ali. Eu dou meu exemplo: fui vereador, deputado, vice-prefeito e prefeito duas vezes. Hoje, sou médico. E se eu não tivesse uma profissão? Seria o que hoje? Ia estar atrás dos políticos eleitos, pedindo cargo?
Folha — Em passado recente, quando Garotinho sugeriu que você teria contas no exterior em nome de Caio, sua posição foi veemente na defesa do seu filho: “Garotinho desperta meus instintos mais primitivos”. Como convive agora com essa possibilidade de aliança de Caio com seu maior inimigo político, que várias vezes o chamou publicamente de ladrão?
Arnaldo — Eu prefiro acreditar que isso não vai prosperar. É o coração do pai falando. Mas se prosperar, eu vou lamentar muito. Torcer e rezar para o futuro do meu filho. Porque ele será massacrado pelo Garotinho. Garotinho tem essa prática.
Folha — Como ele fez com você.
Arnaldo — Fez com vários.
Folha — Mas você foi, talvez, o que mais tenha incomodado ele pela popularidade que alcançou.
Arnaldo — Mas ele tentou fazer isso com Sérgio Mendes, Campista, Fernando Leite, Pudim. Todos eles. É um sofrimento muito grande. Com todos. Caio não seria diferente. Seria massacrado. Aí, entra o meu sentimento como alguém que milita na política, mas, sobretudo, de um pai, vendo o filho ser massacrado por alguém que você tinha convicção de que faria isso. E eu não ter tido a competência de impedir que meu filho seguisse aquele caminho.
Folha — Isso angustia você?
Arnaldo — Angustia. Muito!
Folha — Após sua ruptura política e pessoal com Garotinho, você várias vezes o desafiou publicamente a disputarem juntos uma eleição em Campos, para que a população da cidade definisse no voto o vencedor. Ele nunca aceitou. Acredita que isso ainda vai acontecer um dia?
Arnaldo — Seria ótimo. Mas não. Nunca vai acontecer. Ele nunca vai aceitar. Eu aceito. O desafio está de pé, mas ele nunca vai aceitar. Eu acho que ele fica com medo. Nelson Nahim sobe ao palanque do irmão ou do amigo? A mãe (dona Samira) sobe ao palanque do médico dela ou do filho que a esquece? É muito difícil. São todas essas conjunturas. Eu não falo isso para provocar. É o dia a dia, a realidade. Não posso esconder o passado. Eu tive uma grande ligação com a família de Garotinho, inclusive com ele.
Folha — Você foi médico dele.
Arnaldo — Inclusive com ele. Hoje, continuo tendo relação de amizade e respeito com várias pessoas da família dele. Mas ele não tem essa relação com nenhuma pessoa da minha família, a não ser no interesse político de cooptar meu filho. Não por ver valores nele, mas por ver uma forma de me provocar.
Folha — Seu último mandato foi de deputado federal, eleito em 2006. De lá para cá, concorreu com problemas na Justiça a prefeito em 2008 e 2012. E chegou a pensar em disputar para deputado estadual em 2014 e a prefeito, em 2016, mas retirou as candidaturas. Quando vai concorrer de novo a uma eleição? Quando vai poder fazê-lo sem problemas jurídicos?
Arnaldo — Eu acho que não estarei problemas jurídicos já a partir da próxima eleição. Digo isso baseado nos encontros que tenho feito com o setor jurídico, com advogados que estão me ajudando nisso. Agora, quando eu vou querer disputar uma nova eleição? Eu, primeiro, preciso ter uma conversa com Edilene (esposa). Preciso conversar com várias pessoas, que trabalham comigo desde o início da minha carreira política, quando fui vereador, e com novas pessoas, que surgiram agora. Pessoas que têm me ajudado muito. Preciso ter toda essa conversa, mas, sobretudo, fazer uma análise do quadro político. Para não entrar em nenhuma aventura e nem tumultuar o processo. Eu sei que, às vezes, até a minha entrada fez isso. E eu não quero isso. Eu quero o melhor para Campos. Eu sempre digo uma coisa: eu nasci em Campos, estudei em Campos. Depois de um período, saí para me especializar, no Rio e fora do Brasil. Mas, na realidade, minha vida toda é focada em Campos. E eu quero o melhor. Quero poder dizer, um dia, quando não estiver nem conseguindo andar, só dentro de casa: eu contribuí. Contribuí de forma positiva. Quero olhar para o meu passado e não ter vergonha. Quero ter orgulho das coisas que fiz. Sei que falar isso, quando a gente está envolvido na política, é difícil porque a política é perversa. É muito dura. Hoje, eu falo isso para você. Amanhã, senta outro aqui, que é meu adversário, e não vai me chamar de bonito. Não vai dizer que sou bom. Mas, primeiro, preciso ter uma prestação de contas comigo mesmo. Depois, a prestação de contas é com minha família. E não é família de esposa, filho, irmãos. É mais ampla. É a família que você cria no seu dia a dia.
Folha — Queria colocar mais alguma coisa?
Arnaldo — É um momento de muita cautela. Eu ressalto e digo um conselho para Rafael, um conselho de alguém que sempre admirou sua família: cautela! Use as pessoas do bem e que querem o bem de Campos. Você tem várias dessas pessoas ao seu lado. Procure as entidades que podem te ajudar. Transforme Campos, não por você, mas por todos nós. Precisamos que você seja o prefeito da mudança. Campos precisa romper com essa história.
Publicado hoje (16) na Folha da Manhã
Um grande medico que tenho grande admiraçao como politico e ser humano,so nao aceito ele nao ter apoiado o filho
Como garotista assumido em vários comentários é lógico que depois que Caio fez aliança com Garotinho desde setembro do ano passado, você iria defender que Arnaldo apoiasse o filho, César. Arnaldo ainda tem mais voto em Campos do que Caio e Garotinho juntos.
Tudo o que Campos precisa Dr Arnaldo França Viana como secretário de Saúde ….
a experiencia que Arnaldo teve na prefeitura de Campos ,é incotestavél,sabe ele muito bem que a ebrematica que existe na administração publica de Campos não levou até o momento nenhum gestor a ser administrador,tanto é ,que lhe rendeu vários impedimentos ,na guestão da Saúde,é vago você querer comparar experiências,de um Município minusculo como Sã da Barra,ao de Campos,é como dizer que Rafael Diniz,pode usar o que viu o avô,fazer,na administração atual.de lá para cá tudo mudou e cresceu,a população ,as verbas ,tanto no passivo,como no ativo,e os problemas Sociais,talvez quando se apanhe opiniões aqui e ali do passado,refrita o verdadeiro problema de campos,A FALTA DE RECICLAGEM,VALE O DITADO MAIS EXDRUCHuLO QUE EXISTE,TIME QUE ESTA GANHANDO NÃO SE MEXE,MESMO QUE O GANHANDO SEJA APENAS PARA UMA MINORIA OU PEQUENO GRUPO.
Caio um faz qq coisa pelo poder… desde sempre foi assim !
Agora trair o pai e a cidade de CAmpos é demais… vejam quem é o verdadeiro GAROTINHO ! Delatado e que destruiu a cidade, pego no esquema de compra de votos…
A cidade hoje ta jogada as traças… graças a eles !
Eu como petista, não daqueles da banda podre, fiquei horrorizado quando soube que o Caio por detras estava armando essa com Garotinho. Sou muito simpático ao Rafael e torço muito por êle. Mas por ser partidário optei pelo Caio(Por motivo dele fazer uma aliança com o nosso partido) e o Caio fazer uma traição desta conosco é demais! Apesar dele saber que os eleitores petistas de Campos são os maiores inimigos do Garotinho. Caio, você cometeu uma tremenda traição conosco. Vivendo e aprendendo. Fica aqui meu repúdio !